24.01.2015 Views

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Trata<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> Correção <strong>do</strong> Intelecto - Spinoza<br />

Page 12 of 29<br />

uma coisa simplicíssima não pode ser fingi<strong>da</strong>, mas só inteligi<strong>da</strong>, bem <strong>com</strong>o uma coisa<br />

<strong>com</strong>posta, desde que se preste atenção às partes simplicíssimas de que se <strong>com</strong>põe; e até<br />

mesmo nem delas podemos fingir qualquer ação que não seja ver<strong>da</strong>deira, pois ao mesmo<br />

tempo nos veremos obriga<strong>do</strong>s a contemplar <strong>com</strong>o e por que isso se faz.<br />

[66] Entendi<strong>da</strong>s assim essas coisas, passemos agora à pesquisa <strong>da</strong> idéia falsa, 75 para<br />

ver a respeito de que versa e <strong>com</strong>o podemos precaver-nos de cair em falsas percepções.<br />

Ambas as coisas já não nos serão difíceis, depois <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> idéia fingi<strong>da</strong>: pois entre<br />

elas não há nenhuma diferença senão que aquela supõe o assentimento, isto é, <strong>com</strong>o já<br />

notamos, que nenhuma causa se oferece, enquanto se lhe deparam as representações,<br />

pela qual, <strong>com</strong>o o que finge, possa inferir que elas não vêm <strong>da</strong>s coisas de fora, o que<br />

quase na<strong>da</strong> mais é <strong>do</strong> que sonhar de olhos abertos ou em esta<strong>do</strong> de vigília. Trata, portanto,<br />

a idéia falsa de, ou (para dizer melhor) se refere, à existência <strong>da</strong> coisa cuja essência é<br />

conheci<strong>da</strong>, ou à essência, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que a idéia fingi<strong>da</strong>. [67] Corrige-se a que diz<br />

respeito à existência <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que a ficção, pois, se a natureza <strong>da</strong> coisa<br />

conheci<strong>da</strong> supõe a existência necessária, é impossível que nos enganemos no referente à<br />

sua existência; mas se a existência <strong>da</strong> coisa não for uma ver<strong>da</strong>de eterna, <strong>com</strong>o é sua<br />

essência, 76 dependen<strong>do</strong> de causas exteriores a necessi<strong>da</strong>de ou impossibili<strong>da</strong>de de existir,<br />

então retoma <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que dissemos quan<strong>do</strong> se tratou <strong>da</strong> ficção, pois se<br />

corrige de igual maneira. [68] No que diz respeito à outra [espécie de erro], que se refere<br />

às essências ou também às ações, tais percepções são sempre necessariamente confusas,<br />

<strong>com</strong>postas de diversas percepções confusas <strong>da</strong>s coisas existentes na Natureza, <strong>com</strong>o<br />

quan<strong>do</strong> se convencem os homens de que há deuses nas florestas, nas imagens, nos<br />

animais brutos e noutras coisas; que há corpos de cuja <strong>com</strong>posição se faz simplesmente<br />

o <strong>intelecto</strong>; que cadáveres raciocinam, an<strong>da</strong>m e falam; que Deus se engana, e outras<br />

coisas semelhantes. Mas as idéias que são claras e distintas nunca podem ser falsas, pois<br />

as idéias <strong>da</strong>s coisas que se concebem clara e distintamente ou são simplicíssimas ou<br />

<strong>com</strong>postas delas, isto é, deduzi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s idéias simplicíssimas. 77 Que, porém, a idéia<br />

simplicíssima não pode ser falsa, qualquer um verá, contanto que saiba o que é a<br />

ver<strong>da</strong>de, ou o <strong>intelecto</strong>, e ao mesmo tempo o que é a falsi<strong>da</strong>de.<br />

[69] Com efeito, quanto ao que constitui a forma <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, é certo que o pensamento<br />

ver<strong>da</strong>deiro se distingue <strong>do</strong> falso não apenas por uma denominação extrínseca,<br />

mas principalmente por uma intrínseca. 78 Realmente, se algum artífice concebeu em<br />

ordem uma construção, ain<strong>da</strong> que essa construção nunca tenha existi<strong>do</strong> nem venha a<br />

existir jamais, seu pensamento, entretanto, é ver<strong>da</strong>deiro e é o mesmo, quer a construção<br />

exista, quer não. E, ao contrário, se alguém disser que Pedro, por exemplo, existe, mas<br />

ignoran<strong>do</strong> que exista, seu pensamento é falso a respeito de Pedro, ou, se preferes, não é<br />

ver<strong>da</strong>deiro, ain<strong>da</strong> que Pedro exista de fato. Nem este enuncia<strong>do</strong>, que Pedro existe, é<br />

ver<strong>da</strong>deiro, a não ser em relação àquele que conhece <strong>com</strong> certeza a existência de<br />

Pedro. 79 [70] Daí se segue que há nas idéias algo de real pelo que se distinguem <strong>da</strong>s<br />

falsas as ver<strong>da</strong>deiras, o que, pois, nos resta agora investigar a fim de ter a melhor norma<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de (pois dissemos que devemos determinar nossos pensamentos segun<strong>do</strong> a<br />

norma <strong>da</strong><strong>da</strong> pela idéia ver<strong>da</strong>deira, e que o méto<strong>do</strong> é o conhecimento reflexivo) e<br />

conhecer as proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>; nem se diga que essa diferença nasce de que o<br />

conhecimento ver<strong>da</strong>deiro consiste em conhecer as coisas por suas causas primeiras, no<br />

que de fato diferiria muito <strong>da</strong> falsa, <strong>com</strong>o a expliquei acima: pois se diz conhecimento<br />

ver<strong>da</strong>deiro também aquele que envolve objetivamente a essência de algum princípio que<br />

não tem causa, conhecen<strong>do</strong>-se por si e em si. 80 [71] Portanto, a forma <strong>do</strong> conhecimento<br />

ver<strong>da</strong>deiro deve achar-se no próprio conhecimento, sem relação <strong>com</strong> outros<br />

(conhecimentos), nem conhece o objeto <strong>com</strong>o causa, mas deve depender <strong>do</strong> próprio<br />

poder e natureza <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>. Com efeito, se supusermos que o <strong>intelecto</strong> percebe algum<br />

ente novo, que nunca existiu, <strong>com</strong>o alguns concebem o <strong>intelecto</strong> de Deus antes de criar<br />

as coisas (percepção que, por certo, não poderia provir de nenhum objeto), deduzin<strong>do</strong><br />

legitimamente de tal percepção outras, to<strong>do</strong>s esses conhecimentos seriam ver<strong>da</strong>deiros e<br />

ebook:<strong>intelecto</strong>.html<br />

18-07-2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!