ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Trata<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> Correção <strong>do</strong> Intelecto - Spinoza<br />
Page 9 of 29<br />
[49] Resumamos agora o nosso intento. Até aqui, tivemos em primeiro lugar o fim<br />
para o qual procuramos dirigir to<strong>do</strong>s os nossos pensamentos. Conhecemos, em segun<strong>do</strong><br />
lugar, qual é a melhor percepção, <strong>com</strong> cujo auxílio podemos atingir a nossa perfeição.<br />
Vimos, em terceiro lugar, o primeiro caminho no qual a mente deve insistir para<br />
<strong>com</strong>eçar bem, que vem a ser: continuar conforme a norma de alguma existente idéia<br />
ver<strong>da</strong>deira a investigar segun<strong>do</strong> leis certas. Para fazê-lo bem, o méto<strong>do</strong> deve fornecer o<br />
seguinte: primeiramente, distinguir a ver<strong>da</strong>deira idéia de to<strong>da</strong>s as outras percepções,<br />
coibin<strong>do</strong> a mente para que não se ocupe <strong>com</strong> estas. Em segun<strong>do</strong> lugar, <strong>da</strong>r as regras para<br />
que percebamos segun<strong>do</strong> tal norma as coisas desconheci<strong>da</strong>s. Em terceiro lugar,<br />
estabelecer uma ordem a fim de não nos cansarmos <strong>com</strong> inutili<strong>da</strong>des. Depois que<br />
conhecemos esse méto<strong>do</strong>, vimos em quarto lugar que ele será perfeitíssimo quan<strong>do</strong><br />
tivermos a idéia <strong>do</strong> Ser perfeitíssimo. Portanto, desde o <strong>com</strong>eço se observará<br />
principalmente que devemos chegar o mais ce<strong>do</strong> possível ao conhecimento desse Ser.<br />
[50] 57 Comecemos, pois, pela primeira parte <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, que é, <strong>com</strong>o dissemos,<br />
distinguir e separar <strong>da</strong>s outras percepções a idéia ver<strong>da</strong>deira e coibir a mente para que<br />
não confun<strong>da</strong> <strong>com</strong> as ver<strong>da</strong>deiras as falsas, as fictícias e as duvi<strong>do</strong>sas: o que tenciono<br />
explicar aqui profusamente a fim de reter os leitores no pensamento de uma coisa tão<br />
necessária, e também porque há muitos que duvi<strong>da</strong>m até <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de por não haverem<br />
presta<strong>do</strong> atenção à distinção existente entre a percepção ver<strong>da</strong>deira e to<strong>da</strong>s as outras. De<br />
mo<strong>do</strong> que são <strong>com</strong>o homens que, acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s, não duvi<strong>da</strong>m de que vigiam, mas depois<br />
que em sonhos, <strong>com</strong>o muitas vezes acontece, acharam que estavam certamente acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s,<br />
o que depois verificaram ser falso, duvi<strong>da</strong>ram até de sua vigília, o que sucede<br />
porque nunca distinguiram entre o sono e a vigília. 58 [51] Aviso, entretanto, que aqui<br />
não explicarei a essência de ca<strong>da</strong> percepção, nem sua causa próxima, porque isso<br />
pertence à filosofia, mas exporei apenas o que o méto<strong>do</strong> postula, isto é, sobre o que<br />
versam a percepção fictícia, a falsa e a duvi<strong>do</strong>sa e <strong>com</strong>o nos libertaremos de ca<strong>da</strong><br />
uma. 59 Seja, por conseguinte, a primeira investigação sobre a idéia fictícia.<br />
[52] Visto que to<strong>da</strong> percepção ou é de uma coisa considera<strong>da</strong> <strong>com</strong>o existente ou<br />
somente <strong>da</strong> essência, e já que são mais freqüentes as ficções a respeito <strong>da</strong>s coisas<br />
considera<strong>da</strong>s <strong>com</strong>o existentes, falo antes destas, a saber, quan<strong>do</strong> se finge só a existência,<br />
e a coisa que se finge em tal ato é inteligi<strong>da</strong> ou se supõe inteligi<strong>da</strong>. Por exemplo, finjo<br />
que Pedro, a quem conheço, vai para casa, me visita e 60 coisas semelhantes. Aqui<br />
pergunto, sobre que versa essa idéia Vejo que versa apenas sobre coisas possíveis, mas<br />
não acerca de necessárias nem de impossíveis.<br />
[53] Chamo coisa impossível aquela cuja natureza é contraditória <strong>com</strong> a existência;<br />
necessária aquela cuja natureza é contraditória <strong>com</strong> a não-existência; possível aquela<br />
cuja existência por sua natureza não é contraditória <strong>com</strong> a existência ou não-existência,<br />
mas cuja necessi<strong>da</strong>de ou impossibili<strong>da</strong>de de existir depende de causas ignora<strong>da</strong>s por<br />
nós, enquanto fingimos sua existência; e por isso, se sua necessi<strong>da</strong>de ou impossibili<strong>da</strong>de,<br />
que depende de causas exteriores, fosse conheci<strong>da</strong> por nós, na<strong>da</strong> poderíamos fingir<br />
também sobre elas. 61 [54] Donde se segue que, na hipótese de haver algum Deus ou ser<br />
onisciente, na<strong>da</strong> absolutamente poderá fingir. De fato, no que nos concerne, depois<br />
que 62 soube que existo, não posso fingir que existo ou não existo, nem tampouco posso<br />
fingir um elefante que passe pelo buraco de uma agulha, nem posso, depois 63 que soube<br />
a natureza de Deus, fingir que existe ou não existe; o mesmo se deve entender a respeito<br />
<strong>da</strong> quimera, cuja natureza é contraditória <strong>com</strong> a existência. Do que se evidencia o que eu<br />
disse, a saber, que a ficção de que aqui falamos não acontece acerca <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des<br />
eternas. 64 [55] Mas, antes de prosseguirmos, note-se aqui, de passagem, que a diferença<br />
que há entre a essência de uma coisa e a de outra vigora também entre a atuali<strong>da</strong>de ou<br />
existência <strong>da</strong> mesma e a de outra. De mo<strong>do</strong> que, se quisermos, por exemplo, conceber a<br />
existência de Adão somente pela existência geral, será o mesmo que, se para conceber<br />
sua essência, olharmos para a natureza <strong>do</strong> ser no intuito de, enfim, definirmos que Adão<br />
é um ser. Logo, quanto mais geralmente se concebe a existência, tanto mais<br />
ebook:<strong>intelecto</strong>.html<br />
18-07-2007