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ESPINOZA-Tratado da correcção do intelecto.pdf - adelinotorres.com

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<strong>Trata<strong>do</strong></strong> <strong>da</strong> Correção <strong>do</strong> Intelecto - Spinoza<br />

Page 13 of 29<br />

não determina<strong>do</strong>s por nenhum objeto exterior, mas dependeriam só <strong>do</strong> poder e natureza<br />

<strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>. Portanto, o que constitui a forma <strong>do</strong> conhecimento ver<strong>da</strong>deiro há de<br />

procurar-se no próprio conhecimento e deduzir-se <strong>da</strong> natureza <strong>do</strong> <strong>intelecto</strong>. [72] Ora,<br />

para que se investigue isso, ponhamos ante os olhos alguma idéia ver<strong>da</strong>deira cujo objeto<br />

sabemos <strong>com</strong> to<strong>da</strong> certeza que depende <strong>da</strong> força de nosso pensamento, não ten<strong>do</strong><br />

nenhum objeto na Natureza, visto que numa idéia assim, <strong>com</strong>o já dissemos, mais<br />

facilmente poderemos investigar o que queremos. Por exemplo, para formar o conceito<br />

de globo, finjo arbitrariamente uma causa, a saber, o semicírculo que gira ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

centro, e dessa rotação <strong>com</strong>o que nasce o globo. Realmente, essa idéia é ver<strong>da</strong>deira, e,<br />

ain<strong>da</strong> que saibamos jamais ter assim surgi<strong>do</strong> um globo na Natureza, esta percepção é,<br />

contu<strong>do</strong>, ver<strong>da</strong>deira e o mo<strong>do</strong> mais fácil de formar o conceito de globo. Note-se aqui<br />

que essa percepção afirma a rotação <strong>do</strong> semicírculo, afirmação que seria falsa se não se<br />

juntasse <strong>com</strong> o conceito de globo ou <strong>da</strong> causa que determina tal movimento, isto é,<br />

(seria falsa) separa<strong>da</strong>mente, se essa afirmação fosse isola<strong>da</strong>. De fato, então a mente<br />

tenderia apenas a afirmar o movimento <strong>do</strong> semicírculo, o que nem estaria conti<strong>do</strong> no<br />

conceito de semicírculo, nem nasceria <strong>do</strong> conceito <strong>da</strong> causa que determina o movimento.<br />

Por isso, a falsi<strong>da</strong>de só consiste em afirmarmos algo de alguma coisa não conti<strong>do</strong> no<br />

conceito que formamos <strong>da</strong> mesma, 81 <strong>com</strong>o o movimento ou a imobili<strong>da</strong>de no<br />

semicírculo. Daí se segue que os simples pensamentos não podem deixar de ser<br />

ver<strong>da</strong>deiros, <strong>com</strong>o a simples idéia de semicírculo, de movimento, de quanti<strong>da</strong>de, etc. 82<br />

Tu<strong>do</strong> o que estas contêm de afirmação iguala-se ao conceito delas, nem se estende além,<br />

pelo que nos é permiti<strong>do</strong> à vontade, sem nenhum perigo de errar, formar idéias simples.<br />

[73] Resta, portanto, apenas investigar por que poder a nossa mente as pode formar e até<br />

onde se estende esse poder, pois que, acha<strong>do</strong> isso, facilmente veremos o maior conhecimento<br />

a que podemos chegar. É certo, contu<strong>do</strong>, que este seu poder não se estende ao<br />

infinito, já que, quan<strong>do</strong> afirmamos de alguma coisa algo que não está conti<strong>do</strong> no<br />

conceito que dela formamos, isso indica um defeito de nossa percepção, ou seja, que<br />

temos pensamentos ou idéias <strong>com</strong>o que mutila<strong>da</strong>s e trunca<strong>da</strong>s. Verificamos, <strong>com</strong> efeito,<br />

que o movimento <strong>do</strong> semicírculo é falso desde que se encontra isola<strong>do</strong> na mente, mas é<br />

ver<strong>da</strong>deiro se se junta ao conceito de globo ou ao conceito de alguma causa que<br />

determina esse movimento. De mo<strong>do</strong> que, se é <strong>da</strong> natureza <strong>do</strong> ser pensante, <strong>com</strong>o parece<br />

logo à primeira vista, formar pensamentos ver<strong>da</strong>deiros, ou adequa<strong>do</strong>s, é certo que as<br />

idéias inadequa<strong>da</strong>s nascem em nós apenas enquanto somos parte de um ser pensante, <strong>do</strong><br />

qual alguns pensamentos constituem ao to<strong>do</strong> a nossa mente, outros só em parte. 83<br />

[74] Mas o que devemos ain<strong>da</strong> considerar (não ten<strong>do</strong> vali<strong>do</strong> a pena anotar acerca <strong>da</strong><br />

ficção) e onde existe o maior engano é quan<strong>do</strong> acontece que algumas coisas que se<br />

oferecem na imaginação estejam também no <strong>intelecto</strong>, isto é, sejam concebi<strong>da</strong>s clara e<br />

distintamente; então, enquanto não se separa <strong>do</strong> confuso o distinto, a certeza, ou seja, a<br />

idéia ver<strong>da</strong>deira se mistura <strong>com</strong> as não distintas. Por exemplo, alguns estóicos por acaso<br />

ouviram o nome <strong>da</strong> alma e também que é imortal, as quais coisas imaginavam apenas<br />

confusamente; imaginavam também e ao mesmo tempo inteligiam que os corpos<br />

sutilíssimos penetravam to<strong>do</strong>s os mais e por nenhum outro eram penetra<strong>do</strong>s. Como<br />

imaginassem tu<strong>do</strong> isso junto, a<strong>com</strong>panha<strong>do</strong> <strong>da</strong> certeza deste axioma, logo se<br />

convenciam de que a mente é esses corpos sutilíssimos e aqueles corpos sutilíssimos não<br />

se dividem, etc. [75] Também disso, porém, nos livramos, enquanto nos esforçamos por<br />

examinar to<strong>da</strong>s as nossas percepções conforme a norma de uma existente idéia<br />

ver<strong>da</strong>deira, precaven<strong>do</strong>- nos, <strong>com</strong>o dissemos no <strong>com</strong>eço, <strong>do</strong> que temos pelo ouvi<strong>do</strong> ou<br />

pela experiência vaga. Acresce que tal engano provém de que concebem as coisas de um<br />

mo<strong>do</strong> excessivamente abstrato, pois é bastante claro por si que aquilo que concebo em<br />

seu ver<strong>da</strong>deiro objeto não posso aplicar a outra coisa. Nasce, por último, também de que<br />

não inteligem os primeiros elementos de to<strong>da</strong> a Natureza; <strong>do</strong>nde, proceden<strong>do</strong> sem ordem<br />

e confundin<strong>do</strong> a Natureza <strong>com</strong> as coisas abstratas, embora sejam ver<strong>da</strong>deiros axiomas, a<br />

si mesmos se confundem e pervertem a ordem <strong>da</strong> Natureza. Nós, contu<strong>do</strong>, se<br />

procedermos o menos abstratamente possível e <strong>com</strong>eçarmos, logo que possamos, pelos<br />

ebook:<strong>intelecto</strong>.html<br />

18-07-2007

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