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Brasil, Portugal e França: a circulação de idéias políticas e ... - IEL

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<strong>de</strong>monstrar que tais livreiros tiveram sua importância para a estruturação das práticas<br />

culturais e políticas do <strong>Brasil</strong>, nas primeiras décadas do oitocentos.<br />

Segundo registros paroquiais e informação <strong>de</strong> historiadores 5 , a família Martin<br />

já se estabelecera em Lisboa com loja <strong>de</strong> livros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1777, sendo que Paulo Martin pai<br />

havia se associado, anteriormente, a outro livreiro briançonês – os irmãos Borel,<br />

comprovando a solidarieda<strong>de</strong> entre as famílias aliadas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> gerações. Provas <strong>de</strong>ssas<br />

relações também po<strong>de</strong>m ser indicadas, anteriormente, uma vez que seu pai, Alexandre<br />

Martin, casou-se em 1750, em La Salle, com Catherine Bompard. Anos <strong>de</strong>pois, em<br />

1775, Paulo Martin pai contraiu matrimônio com a viúva <strong>de</strong> Borel, Maria Madalena<br />

Bompard (La Salle, 1745), tendo como testemunhas, a mãe do livreiro e outro<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte da família Bompard. Em 1786, Paulo Martin pai retornou à sua região natal<br />

para batizar uma das filhas Hyacinthe Borel, que mais tar<strong>de</strong> se casou com o irmão mais<br />

velho <strong>de</strong> Jean-Baptiste Bompard, <strong>de</strong>monstrando que as relações familiares continuavam<br />

a ser mantidas.<br />

Da união <strong>de</strong> Paul Martin pai e <strong>de</strong> Maria Madalena Bompard nasceram 5 filhos,<br />

sendo um <strong>de</strong>les Paulo Martin Filho, que veio para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, como caixeiro, mas<br />

que, <strong>de</strong>pois, se tornou um dos livreiros mais importantes da cida<strong>de</strong>. Obtendo passaporte<br />

em outubro <strong>de</strong> 1799 6 , Paulo Agostinho Martin chegou aqui, provavelmente, no início <strong>de</strong><br />

1800, na ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20 anos. Por meio das licenças para enviar livros para o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, expedidas pela Real Mesa Censória em <strong>Portugal</strong>, po<strong>de</strong>-se afirmar que ele se<br />

estabeleceu naquela cida<strong>de</strong> como livreiro, no início do século XIX, ven<strong>de</strong>ndo por conta<br />

<strong>de</strong> seu pai, várias obras. Era comum, nesse mundo <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> livros, a consolidação<br />

<strong>de</strong> ligações familiares, exploradas pelos interessados em diversos pontos da América,<br />

constituindo-se como verda<strong>de</strong>iras “re<strong>de</strong>s financeiras”, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua importância e<br />

extensão.<br />

Os títulos encontrados naquelas encomendas são bastante numerosos, somando<br />

até 1808, com as repetições, cerca <strong>de</strong> 1500 7 . Agrupados por temáticas, predominavam<br />

as obras <strong>de</strong> religião, como Manuais <strong>de</strong> Missa, Horas Marianas, Catecismos e Imitação<br />

<strong>de</strong> Cristo, entre outras. Dentre as <strong>de</strong> filosofia, constavam La Logique <strong>de</strong> Condillac, os<br />

Pensamentos <strong>de</strong> Pascal e Recreações Filosóficas do padre Theodoro d’Almeida, um dos<br />

primeiros sócios da Aca<strong>de</strong>mia das Ciências <strong>de</strong> Lisboa. De história, mencionavam-se a<br />

História Universal <strong>de</strong> Millot, a História <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> <strong>de</strong> Laclè<strong>de</strong>, uma Revolução da<br />

França (autor anônimo) e a Vida <strong>de</strong> D. João <strong>de</strong> Castro <strong>de</strong> J. Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Muito<br />

variadas eram as obras <strong>de</strong> literatura, incluindo Paulo e Virgínia <strong>de</strong> Bernadin <strong>de</strong> St.<br />

Pierre, Mil e uma Noites, Marília <strong>de</strong> Dirceu, História <strong>de</strong> Gil Blas <strong>de</strong> Lesage, Viagens <strong>de</strong><br />

Gulliver, Aventuras <strong>de</strong> Telêmaco <strong>de</strong> Fénelon, Paraíso Perdido <strong>de</strong> Milton, os Lusíadas,<br />

diversas obras <strong>de</strong> Bocage, Théâtre <strong>de</strong> Voltaire, Aviso ao Povo <strong>de</strong> Tissot, Orlando<br />

Furioso <strong>de</strong> Ariosto, Oeuvres <strong>de</strong> Racine e <strong>de</strong> Molière. Havia ainda as Or<strong>de</strong>nações do<br />

Reino, dicionários diversos em português, como o <strong>de</strong> Bluteau, francês, inglês e a<br />

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7<br />

Para os registros ver Fernando Gue<strong>de</strong>s, Os livreiros franceses em <strong>Portugal</strong> no século XVIII.<br />

Tentativa <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> um fenómeno migratório e mais alguma história, Lisboa, Aca<strong>de</strong>mia<br />

Portuguesa da História, 1998 e Diogo Ramada Curto, Manuela Domingos et al., op. cit., p. 403.<br />

Arquivo Histórico Ultramarino, Códice 808, Passaportes 1798-1806, fl. 54.<br />

Para análise <strong>de</strong>ssas listagens, ver Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Real Mesa Censória.<br />

Exame dos livros para saírem do Reino para o Rio <strong>de</strong> Janeiro (Caixas 153 a 156).

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