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Brasil, Portugal e França: a circulação de idéias políticas e ... - IEL

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4<br />

curiosamente, alguns Spelling Books, “próprios para a mocida<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r o idioma<br />

inglês”, vendidos a 1600 réis. 11<br />

A negociação entre os Martin <strong>de</strong> Lisboa e o <strong>Brasil</strong> continuou mesmo após a<br />

morte <strong>de</strong> Paulo Martin em finais <strong>de</strong> 1824. Em Lisboa, encontram-se diversos pedidos<br />

dos Irmãos Martin entre 1827 e 1828, a fim <strong>de</strong> enviar livros para esse lado do Atlântico,<br />

em sua maioria ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, mas também para o Maranhão e Bahia. Tais pedidos<br />

totalizam 199 títulos, com vários volumes, sendo 43,70% <strong>de</strong> livros em Belas Letras,<br />

21,60% em Teologia, 17,58% em Ciências e Artes, 10,05% em Jurisprudência e 6,53%<br />

em História. Logo, em 1827 e 1828 12 , após a In<strong>de</strong>pendência, mantinha-se a tradição<br />

comum aos anos posteriores da vinda da Corte para a América Portuguesa, do<br />

predomínio dos livros <strong>de</strong> Belas Letras nesses pedidos. Nesse caso, era gran<strong>de</strong> o número<br />

<strong>de</strong> livros em latim, especialmente, aqueles que traziam a expressão ad usum Delphini.<br />

Estes voltavam-se, inicialmente, “para o uso do Delfim” (para a educação do filho <strong>de</strong><br />

Luis XIV). Mais tar<strong>de</strong>, tais expressões passaram a indicar obras impressas que tinham<br />

como objetivo educar a mocida<strong>de</strong>, como já <strong>de</strong>monstrou Márcia Abreu 13 . Também<br />

naquelas solicitações eram diversos o registro <strong>de</strong> Dicionários, sobretudo, o <strong>de</strong> Antonio<br />

Moraes Silva, provavelmente, em sua 3ª edição <strong>de</strong> 1823, uma vez que as listagens<br />

continuavam a não trazer as indicações bibliográficas completas. Em algumas, havia<br />

apenas, o nome do autor. Destaque-se ainda que foi i<strong>de</strong>ntificado apenas um livro <strong>de</strong><br />

novelas – A Ilha Incógnita, ou memórias do cavaleiro <strong>de</strong> Gastines (1802), traduzido da<br />

edição francesa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sucesso, publicada ainda no século XVIII. A explicação para<br />

esse gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> títulos em Belas Letras, quanto também para um número<br />

significativo <strong>de</strong> obras em Ciências e Artes e Jurisprudência po<strong>de</strong> ser baseada na<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> livros para a instrução, uma vez que os primeiros cursos superiores<br />

começavam a se instalar no Império do <strong>Brasil</strong> como, por exemplo, os cursos <strong>de</strong> Direito,<br />

em 1827. Surpreen<strong>de</strong>, porém, a retomada do número <strong>de</strong> livros voltados para a religião e<br />

a diminuição <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> cunho político e filosófico. Duas hipóteses po<strong>de</strong>m ser<br />

levantadas para explicar a ampliação <strong>de</strong>ssa natureza <strong>de</strong> livro: primeira, face à ausência<br />

<strong>de</strong> uma censura mais rígida no <strong>Brasil</strong> naquele momento, muitos dos livros <strong>de</strong> cunho<br />

político eram aqui publicados e outros eram importados diretamente da França;<br />

segunda, um crescimento do próprio ensino religioso com a criação e/ou reativação <strong>de</strong><br />

novos seminários. Em verda<strong>de</strong>, nessas listagens, não se encontram os outrora livros<br />

proibidos <strong>de</strong> conhecidos pensadores como Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Hume,<br />

entre outros.<br />

Em contrapartida, a circulação não era uma via <strong>de</strong> mão única. Encontra-se um<br />

catálogo que saiu à luz em Lisboa, em 1812, com as obras impressas no Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />

que se encontravam à venda, na Loja <strong>de</strong> Paulo Martin e Filhos, nº 6, <strong>de</strong>fronte do<br />

Chafariz do Loreto. Totalizavam 43 obras, publicadas pela Impressão Régia do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, em que se <strong>de</strong>stacavam livros técnico-científicos, especialmente, traduções <strong>de</strong><br />

11<br />

12<br />

13<br />

Gazeta do Rio <strong>de</strong> Janeiro, nº 43, 29 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1813. Trata-se, provavelmente <strong>de</strong> A Prononucing<br />

Spelling Book: with Select Lessons in Prose and Verse, by G. Fulton and G. Knight, que, em 1813,<br />

encontrava-se em sua 5ª edição. (Edinburg, Peter Hill, 1813).<br />

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Maço 871, nº 60.<br />

Os Caminhos dos livros, Campinas, Mercado das Letras, 2003.

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