Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Astronauta da missão<br />
Apollo 12 colhendo uma<br />
amostra de rocha lunar.<br />
Crédito: NASA.<br />
Estará o impacto de um asteróide na<br />
origem das anomalias magnéticas da<br />
Lua<br />
Os cientistas têm-se intrigado<br />
com as anomalias magnéticas<br />
encontradas em algumas<br />
regiões da Lua desde que os<br />
astronautas da missão Apollo<br />
12 descobriram, pela primeira<br />
vez, rochas fortemente magnetizadas<br />
nas planícies de Mare<br />
Cognitum, no sul de Oceanus<br />
Procellarum. Tipicamente, as<br />
rochas recolhidas nas missões<br />
Apollo são pobres em ferro, o<br />
que lhes confere um fraco<br />
potencial de magnetização. Por<br />
outro lado, a distribuição de<br />
regiões fortemente magnetizadas<br />
na superfície lunar nem<br />
sempre se correlaciona com<br />
estruturas geológicas que possam<br />
fornecer pistas sobre a sua<br />
origem, como por exemplo,<br />
bacias de impacto, vulcões ou<br />
fluxos de lava. Um trio de<br />
investigadores acreditam agora<br />
ter encontrado na antiga bacia<br />
de impacto de Pólo Sul-Aitken<br />
a chave para a solução deste<br />
enigma.<br />
Com um diâmetro médio de<br />
2.200 km e com cerca de 13 km<br />
de profundidade, a gigantesca<br />
depressão é a maior estrutura<br />
de impacto do Sistema Solar. A<br />
sua forma elíptica é uma clara<br />
evidência de que terá sido<br />
esculpida pelo impacto de um<br />
grande objecto numa trajectória<br />
oblíqua. A norte de Pólo Sul<br />
-Aitken concentra-se o mais<br />
proeminente grupo de anomalias<br />
magnéticas de toda a<br />
superfície lunar.<br />
Mark Wieczorek do Institut de<br />
Physique du Globe de Paris e<br />
os seus dois colegas do Massachusetts<br />
Institute of Technology<br />
publicaram um artigo na<br />
revista Science onde especulam<br />
que esta coincidência é<br />
uma forte evidência de que a<br />
gigantesca bacia foi esculpida<br />
por um grande asteróide com<br />
10 a 30% de ferro na sua composição<br />
e cerca de 100 vezes<br />
mais magnetizado que os<br />
materiais da crusta lunar. Para<br />
testar a sua hipótese, os investigadores<br />
realizaram várias<br />
simulações de impacto em<br />
computador, onde fizeram<br />
variar as dimensões do projéctil,<br />
a sua velocidade e o ângulo<br />
da sua trajectória. Descobriram<br />
que o impacto de um asteróide<br />
rico em ferro, com 200 km de<br />
diâmetro, num ângulo de 45º e<br />
a uma velocidade de 15 km.s -<br />
1 provocaria a distribuição dos<br />
seus materiais num padrão<br />
semelhante ao observado para<br />
as anomalias magnéticas lunares.<br />
Curiosamente, as simulações<br />
reproduzem inclusive a<br />
presença de fortes anomalias<br />
isoladas no lado mais próximo<br />
da Terra, como é o caso<br />
de Reiner Gama e Descartes.<br />
Os fragmentos metálicos do<br />
asteróide teriam condições<br />
para ser magnetizados durante<br />
o seu arrefecimento, caso existisse<br />
um campo magnético global<br />
na Lua quando a bacia de<br />
Pólo Sul-Aitken se formou, há<br />
cerca de 4,3 mil milhões de<br />
anos – uma distinta possibilidade,<br />
de acordo com os autores.<br />
Depois do dínamo lunar cessar<br />
a sua actividade, essas regiões<br />
poderiam permanecer magnetizadas,<br />
criando o estranho<br />
retalho observado nos dias de<br />
hoje.<br />
Podem consultar o artigo original<br />
deste trabalho aqui.<br />
Sérgio Paulino<br />
A bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken.<br />
Estão evidenciados a vermelho na metade<br />
esquerda da imagem os grupos de<br />
anomalias magnéticas situadas no limite<br />
norte da depressão.<br />
Crédito: NASA/LRO/Science/AAAS.<br />
Página 35