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no Bairro Alto? - Fonoteca Municipal de Lisboa - Câmara Municipal ...

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NELSON GARRIDO<br />

O pa<strong>no</strong>rama<br />

da exibição <strong>no</strong><br />

Porto: 14 salas<br />

em funcionamento,<br />

12 das<br />

quais em<br />

centros<br />

comerciais e<br />

apenas um na<br />

Baixa a exibir<br />

filmes por<strong>no</strong><br />

<strong>no</strong> Porto e também tem a ver com<br />

isto: “Se formos contar espingardas,<br />

vamos perceber que muitas pessoas<br />

que trabalham em <strong>Lisboa</strong> na área do<br />

cinema vieram do Porto, que não<br />

consegue fixar essa massa criativa”,<br />

lembra Dario Oliveira, um dos quatro<br />

directores do Curtas Vila do Con<strong>de</strong><br />

(já foram cinco, mas Luís Urba<strong>no</strong> foi<br />

para <strong>Lisboa</strong> gerir uma produtora, O<br />

Som e a Fúria).<br />

David Barros não está interessado<br />

em ir para o divã procurar explicações:<br />

“Temos é <strong>de</strong> lidar com a situação<br />

e ultrapassar esta falácia <strong>de</strong> que<br />

não há cinema <strong>no</strong> Porto porque não<br />

há público. Também não há público<br />

se não houver cinema. É preciso<br />

começar a criar <strong>no</strong>vos circuitos <strong>de</strong><br />

cinefilia”.<br />

Carlos Azeredo Mesquita, que continua<br />

ligado ao Cineclube da Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Belas-Artes, admite que já<br />

houve mais espectadores, mas continua<br />

a ser “uma experiência curiosa”:<br />

“Há pessoas mais velhas que não<br />

sabemos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vêm”. O futuro<br />

po<strong>de</strong> passar por projectos a esta<br />

escala, diz: “Fiquei chocado com a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinemas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

<strong>de</strong> bairro, que vi em Varsóvia. No<br />

Porto faltam pessoas que se mexam.<br />

A Cinemateca seria a instituição perfeita,<br />

mas não resolve os problemas<br />

todos: há coisas mais pequenas,<br />

me<strong>no</strong>s institucionais, que po<strong>de</strong>m<br />

criar práticas mais <strong>de</strong>nsas. Também<br />

achávamos que não havia público<br />

para as artes visuais, e tanto Serralves<br />

como Miguel Bombarda são o que<br />

são”.<br />

Tudo ou nada?<br />

Rodrigo Affreixo, que já tentou - teve<br />

os seus a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> militância <strong>no</strong> Cineclube<br />

do Norte e na revista “A Gran<strong>de</strong><br />

Ilusão”, na década <strong>de</strong> 80, quando o<br />

cineclubismo do Porto teve o seu<br />

gran<strong>de</strong> cisma e se partiu ao meio -,<br />

tem dúvidas: “Nisso o Porto é diferente<br />

<strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>. Estive a programar<br />

a sala do Teatro do Campo Alegre<br />

entre 2000 e 2001 e tentei fazer uma<br />

coisa tipo Cinemateca. A sala estava<br />

sempre vazia - não sei se por falta <strong>de</strong><br />

promoção, ou por estar a <strong>de</strong>correr o<br />

Porto 2001 ao mesmo tempo. De<br />

facto o circuito <strong>de</strong> exibição não po<strong>de</strong><br />

resumir-se a isto que temos agora: era<br />

como se <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> haver restaurantes<br />

e passasse a haver apenas praças<br />

da alimentação. Mas a i<strong>de</strong>ia com que<br />

fiquei é que os circuitos alternativos<br />

não funcionam”.<br />

Mário Dorminsky, director do Fantasporto,<br />

concorda: “As pessoas não<br />

se interessam por ciclos, a não ser<br />

que sejam suportados por filmes inéditos,<br />

porque já viram tudo em DVD.<br />

Acontece com o Fantasporto. Gostávamos<br />

<strong>de</strong> fazer mais coisas ao longo<br />

do a<strong>no</strong>, mas não vale a pena. Nesse<br />

sentido, <strong>no</strong> Porto não falta nada: está<br />

tudo editado em DVD, muitas vezes<br />

em cópias remasterizadas <strong>de</strong> altíssima<br />

qualida<strong>de</strong>”.<br />

É uma questão <strong>de</strong> perspectiva:<br />

Carlos Azeredo Mesquita diz que<br />

falta tudo, “cinema anterior à década<br />

<strong>de</strong> 90, algum cinema da própria<br />

década <strong>de</strong> 90 e muito cinema contemporâneo”,<br />

João Fernan<strong>de</strong>s diz<br />

que “falta, conhecida e reconhecidamente<br />

um confronto com a História<br />

do cinema, com o cinema experimental<br />

e também com muitas possibilida<strong>de</strong>s<br />

do cinema<br />

contemporâneo e com as cinematografias<br />

do mundo, até porque há filmes<br />

que <strong>de</strong>saparecem após uma<br />

semana <strong>de</strong> exibição”.<br />

Olhamos para o que aconteceu em<br />

Serralves, na Casa da Música, <strong>no</strong> S.<br />

João e na rua Galeria <strong>de</strong> Paris e <strong>de</strong>cidimos:<br />

tem <strong>de</strong> haver público para o<br />

cinema. “O Porto 2001 é a prova:<br />

havendo uma programação séria,<br />

uma ligação à universida<strong>de</strong> e ao<br />

meio artístico, há público. O Festival<br />

Odisseia nas Imagens tinha tudo para<br />

ter ficado para a cida<strong>de</strong>, mas a<br />

câmara não teve abertura para uma<br />

única reunião. Havia um trabalho <strong>de</strong><br />

ligação com as universida<strong>de</strong>s, com<br />

a Cinemateca e com os festivais<br />

estrangeiros, <strong>de</strong>u-se formação, encomendaram-se<br />

filmes. Todo esse trabalho<br />

se per<strong>de</strong>u”, sublinha Dario<br />

Oliveira. Falta esse festival e faltam<br />

salas <strong>de</strong> rua, diz: “Micro-multiplexes,<br />

como em toda a Europa. Não<br />

adianta haver uma sala sozinha na<br />

“Há esse mito <strong>de</strong> que<br />

os cidadãos do Porto<br />

são muito activos e<br />

muito resistentes, eu<br />

acho que não são: a<br />

cida<strong>de</strong> não reage às<br />

suas perdas”<br />

Alexandre Alves<br />

Costa, arquitecto<br />

Baixa: fizemos essa experiência com<br />

o Passos Manuel e não foi viável porque<br />

a média <strong>de</strong> espectadores era<br />

muito baixa. É o que se passa agora<br />

com este movimento da rua Galeria<br />

<strong>de</strong> Paris: <strong>de</strong>z bares na mesma rua<br />

criam práticas com que um bar sozinho<br />

não po<strong>de</strong> sequer sonhar”. Tudo<br />

o que existe <strong>no</strong> Porto na área do do<br />

cinema existe pontualmente, subscreve<br />

Abi Feijó, que foi o primeiro<br />

director da Casa da Animação: “O<br />

Fantasporto pontualmente, Serralves<br />

pontualmente, a Casa da Animação<br />

pontualmente. São gotas <strong>no</strong> ocea<strong>no</strong>”.<br />

Uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> bairro, na<br />

Baixa, po<strong>de</strong> funcionar como incentivo<br />

para que a cida<strong>de</strong> volte a ocupar<br />

o centro, mas isto já é “wishful<br />

thinking”: “A distribuição e a exibição<br />

comercial são áreas difíceis, mas seria<br />

interessante que aparecessem aventuras<br />

privadas a par do formato mais<br />

institucional <strong>de</strong> um pólo da Cinemateca,<br />

até porque muitas das salas<br />

fechadas estão equipadas”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

João Fernan<strong>de</strong>s. “Não temos razões<br />

para frequentar a Baixa, está tudo em<br />

ruínas a não ser a vida <strong>no</strong>cturna. O<br />

fim do projecto do Rivoli, que <strong>de</strong><br />

facto funcionava como centro cívico,<br />

foi terrível. E tudo isto acontece à<br />

<strong>no</strong>ssa frente, sem que a cida<strong>de</strong> pareça<br />

incomodada. Há esse mito <strong>de</strong> que os<br />

cidadãos do Porto são muito activos<br />

e muito resistentes, eu acho que não<br />

FERNANDO VELUDO/ NFACTOS<br />

são: a cida<strong>de</strong> não reage às suas perdas.<br />

É impensável que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

2001, a cida<strong>de</strong> tenha eleito um presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> câmara não só inculto<br />

como manifestamente anti-cultural”,<br />

frisa o arquitecto Alexandre Alves<br />

Costa, filho do histórico director do<br />

Cineclube do Porto Henrique Alves<br />

Costa. É a favor <strong>de</strong> uma Cinemateca<br />

<strong>no</strong> Porto, mesmo que seja só para 20<br />

pessoas: “Se não começarmos pelas<br />

20 pessoas, nunca passaremos para<br />

as 2000”.<br />

É uma <strong>de</strong>cisão política, diz António<br />

Costa: “Ou se faz ou não se faz. Não<br />

se po<strong>de</strong> é <strong>de</strong>sistir antes <strong>de</strong> começar”.<br />

Mas também há outras coisas que se<br />

po<strong>de</strong>m fazer antes da Cinemateca:<br />

“A Casa das Artes é o centro i<strong>de</strong>al<br />

para a difusão do cinema <strong>no</strong> Porto.<br />

Ainda existe o espaço, ainda existem<br />

as pessoas, existem as universida<strong>de</strong>s.<br />

Era possível abrir o Porto a outro tipo<br />

<strong>de</strong> cinema com custos baixíssimos,<br />

se houvesse boa vonta<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong> não<br />

haver público real, mas há público<br />

potencial, e um sítio para esse público<br />

se encontrar. O cinema <strong>no</strong> Porto é<br />

uma bela adormecida: precisa <strong>de</strong><br />

pouco para <strong>de</strong>spertar”, diz Bernard<br />

Despomadères.<br />

Estamos naquela fase em que já<br />

não interessa o que se vai fazer -<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se faça qualquer coisa para<br />

acabar com este so<strong>no</strong> <strong>de</strong> 20 e tal<br />

a<strong>no</strong>s.<br />

David Barros<br />

(terceiro a<br />

contar da<br />

direita) faz<br />

mestrado em<br />

cinema.<br />

Deixou o Porto<br />

e foi para<br />

<strong>Lisboa</strong> não por<br />

causa da<br />

qualida<strong>de</strong> da<br />

Universida<strong>de</strong><br />

Nova mas por<br />

causa da<br />

qualida<strong>de</strong> da<br />

Cinemateca<br />

30 • Ípsilon • Sexta-feira 27 Fevereiro 2009

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