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TRANSIÇÕES INCERTAS Os jovens perante o trabalho ea ... - Cite

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II. TRANSIÇÕES NA MODERNIDADE<br />

A questão das transições tem estado no âmago da empresa sociológica<br />

desde o seu início, constituindo o motor de inúmeras pesquisas, teorias,<br />

controvérsias. Na sua formulação mais abrangente, a discussão versa<br />

sobre os processos de transição das configurações societais,<br />

nom<strong>ea</strong>damente do modelo rural-tradicional para o modelo industrial-<br />

-moderno. Autores clássicos como Comte, Marx ou Weber dedicaram<br />

grande parte das suas obras a esta questão. Nas últimas décadas, embora<br />

este advento – habitualmente designado por “modernidade” – esteja ainda<br />

longe de estar concluído, o debate sociológico tem-se transferido,<br />

progressivamente, para as transições na própria modernidade, com alguns<br />

autores a proporem, inclusivamente, a aurora de uma nova era, pós-<br />

-moderna.<br />

Esta pesquisa centra-se numa transição bem mais localizada: a entrada<br />

dos <strong>jovens</strong> na vida adulta e independente. Até há bem pouco tempo, as<br />

pesquisas sobre a passagem dos <strong>jovens</strong> ao estatuto de adultos eram<br />

olhadas, pelos sociólogos, com algumas reservas, frequentemente<br />

conotadas com estudos da psicologia. Todavia, qualquer curso de<br />

antropologia para principiantes nos revela quão diferentes podem ser as<br />

formas juvenis e os modos de transição para a vida adulta, consoante a<br />

comunidade e a cultura em que ocorrem. 1 Inúmeros <strong>trabalho</strong>s<br />

etnográficos atestam que esses processos são, na verdade, construções<br />

sociais extremamente complexas, ancoradas em matrizes culturais e<br />

económicas específicas. Traços que, nas sociedades industrializadas, são<br />

imediatamente associados à transição para a vida adulta (como a<br />

insegurança e a instabilidade, as múltiplas opções e escolhas ou a<br />

conquista de independência) estão notavelmente ausentes do processo de<br />

transição em diversos grupos e comunidades (e. g. M<strong>ea</strong>d, 1928).<br />

Só a partir dos anos 70 é que a questão das transições para a vida adulta<br />

nas sociedades complexas mereceu destaque na sociologia, quer através<br />

de teorizações, quer através de pesquisas empíricas alargadas. A<br />

emergência desta ár<strong>ea</strong> de estudos acompanhou a necessidade de dar<br />

resposta à preocupação que o tema começou a suscitar na opinião<br />

1<br />

A própria juventude, enquanto grupo social com práticas, disposições e estilos de vida<br />

específicos, constitui uma construção social extremamente complexa e que tem sido amplamente<br />

documentada na sociologia contemporân<strong>ea</strong>. Assim sendo, escusar-nos-emos a desenvolver esta<br />

questão, remetendo para bibliografia especializada sobre o tema (ver, por exemplo, Bourdieu,<br />

1984; Pais, 1993; ou Lopes, 1998), preocupando-nos com o tópico central desta pesquisa: os<br />

modos de transição para a vida adulta.<br />

13

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