TRANSIÃÃES INCERTAS Os jovens perante o trabalho ea ... - Cite
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atingir uma pequena fracção da população residente (3,7%) ou da<br />
população casada (6,9%). Cada vez mais, os indivíduos vivem numa<br />
sucessão de configurações temporárias e imprevisíveis.<br />
Viver sozinho ou em coabitação e ter filhos fora do casamento tornam-se,<br />
assim, práticas cada vez mais frequentes em toda a Europa (Galland,<br />
1995b; Prinz, 1995; Furlong e Cartmel, 1997). 17 Note-se contudo que, em<br />
Portugal, quer a coabitação, quer a parentalidade sem casamento,<br />
registam índices mais elevados precisamente nas faixas mais<br />
desfavorecidas das populações (Lalanda, 2002; Ferreira e Aboim, 2002).<br />
Ainda que a opção ideológica por viver e ter filhos sem recurso ao<br />
matrimónio esteja em claro crescimento, a coabitação tradicional (por<br />
falta de recursos) e a situação das “mães sós” em contextos<br />
desfavorecidos continuam a constituir a maior parte do universo destas<br />
formas familiares. Num estudo recente, Ferreira e Aboim (2002) mostram<br />
que as “mães sós” constituem uma população jovem, com baixos capitais<br />
escolares e económicos e inserções precárias ou mesmo nulas no mercado<br />
de <strong>trabalho</strong>. 18<br />
Além disso, os modos de vida alternativos – a vida a sós, em coabitação<br />
ou em comunidade – não só permanecem muito minoritários, como<br />
parecem muito associados à fase de transição para a vida adulta e de<br />
entrada na vida conjugal. Tende, pois, a criar-se um período (mais ou<br />
menos longo) entre a saída de casa dos pais e o casamento ou a<br />
parentalidade, em que os <strong>jovens</strong> vivem sozinhos, com amigos ou com o<br />
companheiro. No caso específico da coabitação, a falta de recursos ou a<br />
vontade de experimentar a vida conjugal, conduz cada vez mais <strong>jovens</strong> a<br />
viverem em “união de facto”. Todavia, na maior parte dos casos, o<br />
casamento constitui um objectivo pretendido. Nestes casos, em vez de<br />
uma alternativa r<strong>ea</strong>l ao casamento, a coabitação parece constituir um<br />
recurso (face à impossibilidade do casamento) e/ou uma fase<br />
experimental que antecede e reforça um futuro casamento (Almeida e<br />
outras, 1998; Lalanda, 2002).<br />
Por conseguinte, a diversificação dos modos de vida privada parece<br />
coexistir, em grande medida, com a prevalência do casamento e do<br />
modelo de família nucl<strong>ea</strong>r (Coffield, 1995; Almeida e outras, 1998). O<br />
“casal com filhos” não só constitui o tipo de núcleo familiar<br />
17<br />
18<br />
Dos nascimentos registados em 2002 no nosso país, 25,5% ocorreram fora do casamento, valor<br />
dos mais altos na Europa do sul (INE, 2002).<br />
Este cenário intensifica-se no contexto de enorme pobreza que continua a marcar uma parte<br />
significativa da população portuguesa. Ainda assim, está longe de ser único do nosso país. Por<br />
exemplo, em Inglaterra, diversos autores têm registado o grande aumento do número de mães<br />
solteiras “dependentes do Estado” (Furlong e Cartmel, 1997).<br />
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