Luís Carmelo «roda» novo livro no YouTube

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crónica~
notícias alentejo~ Março 2007
tópicos
A liberdade e a escrita:
literatura e blogues *
Luís Carmelo
luis.carmelo@sapo.pt
Uma pessoa pode ser livre paradoxo da sua liberdade século XVIII para cá, foi os, assim como o tipo de
e sentir-se livre, mas se se torna eficaz e mais as feita nesta ou a partir desta interacção que, na comuniveste
o anoraque de escritor vozes criadas pelo escritor clausura. E sem que nin- cação literária, acede ao
deixa imediatamente de serão tendencialmente guém sublinhasse o facto, estético e que, nos blogues,
o ser. Um escritor está sem- vozes livres e, portanto, ou pelo menos a importân- apenas acede à “estesia”
pre condicionado por uma à procura de sentido. cia que ela releva. (a simultaneidade entre
forma que é a literária e por A liberdade não é um pre- Nos blogues, a questão da a pura sinalização e um
um universo que dita regras sente que se receba do céu. escrita, em si, não é subs- certo regresso ingénuo
e eficácias de todo o tipo É antes uma disposição indi- tancialmente diferente. à poiesis: a linguagem que
(técnicas, comunicacionais, vidual e um entendimento O que muda é a provisorie- joga com a linguagem).
hermenêuticas, etc.). geral que se poderão rever dade (as formas em estado Seja como for, a liberdade
No entanto, esses limites um ao outro no mútuo usu- de permanente subtracção nos blogues continua a não
reais à liberdade é que aca- fruto dos actos do quotidia- e adição), a enunciação sín- ser uma coisa oferecida.
bam, paradoxalmente, por no. A literatura é um desses crona e plural, a metacon- É o usufruto radical de um
construir o horizonte de actos, como qualquer outro. textualidade (as formas acto de escrita, no perpétuo
liberdade que o escritor Pelo meu lado, nunca sacra- criam o seu próprio contex- pas de deux com os limites
pode, ou não, usufruir. lizei a actividade, nem tão- to, deixando de haver um desse mesmo acto, que
Esse usufruto é afinal a sua pouco a entendi como parti- “de fora” e “um de dentro” melhor escrutina e define
liberdade. E quanto mais cularmente “libertadora” no evidentes), a reversibilidade a liberdade. Ela - a liberdao
escritor se sentir livre sentido de poder estar ao (multimodalidade e coexis- de - estará sempre lá, potenpara
contornar as narrati- serviço de “causas”. É aí que tência de registos) e o incor- cialmente, como um gesto
vas que 'andam no ar' (aque- ela, precisamente, deixa de póreo (no sentido de um lapidar, ou insignificante
les 'valores gerais' - políti- ser usufruto para passar a agregado que não é motivacos,
meramente ideológicos não ser livre. Para passar a do por um centro mas por
ou de “auto-ajuda”, como ser narrativa enclausurada vários). O que muda é ainda
agora se diz - que são res- em narrativa. Grande parte e sobretudo a posição relatipostas
para tudo), mais esse da história da literatura, do va entre escritor e auditóri-
* publicado no
Expresso on-line
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