Luís Carmelo «roda» novo livro no YouTube

notícias alentejo~ Março 2007
21
~ música& letra
Pelo canto
do olho
SÍTIO DAS LETRAS LIVRARIA
LER
PARA
SER
J. Alberto Ferreira
jaf@escritanapaisagem.net
Breves notas
sobre ciência
Gonçalo M. Tavares
Lisboa, Relógio d'Água, 2006
complexos e paradoxalmente
simples. As Breves notas sobre
ciência não fogem a esta regra.
Perguntas (e respostas)
‘Claro que o Perigo é a origem sobre investigação
dos métodos científicos mais
eficazes. / Se o Homem fosse
imortal ainda não teria
Podem identificar-se ao longo
inventado a roda [...]’ (p. 11)
do livro temas nucleares, como
que FAQ's (frequently asked
questions, perguntas feitas frequentemente),
ou o que sempre
Dos métodos
quis saber sobre investigação.
científicos
As respostas são, como as per-
guntas, sempre parte do problema.
A exigir uma leitura
A investigação científica está
na ordem do dia, guindada às Exactidão? «Ser exacto em
primeiras páginas dos jornais ciências é errar num tom de
e ao coração da agenda política. voz mais firme do que os
E, por esta via, presente no outros» (p. 17). Investigar?
debate quotidiano com tonalie
direcção ao Mistério?
«Como seria possível caminhar
dades de rigor matricial e frequentemente
associada a pro- Em direcção ao que não sei?»
messas de felicidade (tecnológi- (p. 20). A pergunta é feita com
ca ou política, por exemplo) ou Wittgenstein à vista. E a res-
a garantias de futuro. posta também, desassombrada: comunidade científica» (p. 80). sorial. É por aí que caracteriza
Neste livro de Gonçalo M. «Se caminho em direcção ao A mentira: «A ciência proíbe a metáfora como «ferramenta»
Tavares, autor sobejamente Mistério é porque o Mistério já a mentira, porém, a mentira outra da investigação. Deixá-la
conhecido por obras tão diver- foi desvendado por mim». É que existe, e tudo o que existe é ver- «fora da ciência exclui um consas
como Jerusalém (da série «não investigas, divertes-te. dadeiro» (104). Investigar outra junto de soluções possíveis e,
dos livros negros), A colher de Crias dificuldades e conceitos vez, para fechar o ciclo: «Inves- portanto, de problemas»
Samuel Beckett (teatro) ou os (já para atrasar a tua chegada. / tigar é não repetir um raciocí- (p. 113). É um caminho, em últiseis)
livros da série do bairro, a Amanhã chegarás ao esconderi-
nio. Eis o difícil» (p. 134). ma instância, em direcção à
questão vê-se colocada no plano jo onde ainda hoje escondeste a
beleza, porque o «cientista perresposta»
(p. 21). O especialista?
feito é também jardineiro: acre-
do literário, mas nem por isso
deixa de pensar a felicidade e a «Queres trazer algo de novo a
dita que a beleza é conhecimenbeleza
da ciência. Com as mar- esta caixa quadrada de 1 metro Arte de
to» (p. 36; cfr. ainda 37, 100).
cas, reconhecíveis já, da escrita por 1 metro? / Então procura jardinar
quase aforística deste professor algo fora dela [...] Como entenda
Universidade de Lisboa, der, pois, os especialistas?» Ressalvo que estas Notas bre-
escrita que se afirmou desde (p. 39). Objectividade? «Quem ves não se apresentam com Pensar
logo única no panorama concia
anula-se como sujeito e orgu- à investigação (embora o título
defende a objectividade em ciên- o um manual de introdução ligeiramente ao lado
temporâneo, pela inventiva radilha-se
disso [...]. Porém, há pes- brinque com a ambiguidade «Observar pelo canto do olho é,
cal e pela permanente convocação
(raramente de forma linear soas que não acreditam em ciên- dessa expectativa), antes parti-
em ciência, começar a elaborar
ou recorrendo ao argumento de cia feita por objectos» (p. 46). lha com outros da produção de a hipótese. [...] Observar a realiautoridade)
da reflexão filosófi- Instrumentos científicos? «Cada Gonçalo M. Tavares (O livro da dade pelo canto do olho, isto é:
ca e epistemológica, de citações instrumento científico é uma dança ou Histórias falsas, por pensar ligeiramente ao lado.
de autores literários e pensado- resposta às necessidades do exemplo) dessa dimensão de A isto chama-se criatividade.
res (Borges e Wittgenstein, por investigador» (p. 48).
inquirição pela linguagem Daqui saíram todas as teorias
exemplo, ou Brecht e Barthes, Metodologia? «Tu não usas uma e pela beleza que caracterizam científicas importantes» (p. 75).
ou Valéry e Russell). Os resulta- metodologia. Tu és a metodolo- a literatura deste autor.
Creio que devemos dizer o
dos são, numa produção que já gia que usas» (p. 62). A verdade: É por essa via que esta teoria mesmo desta, entre a poesia
conta número significativo de «Eis as verdades, e eis as menti- da investigação científica (ficci- e a ciência, entre a filosofia
títulos, surpreendentes e lumi- ras» (p. 70). O erro: «Os erros onada? camuflada?) considera e a beleza. Que outra forma
nosos, divertidos e aliciantes, científicos são erros de uma exactamente uma dimensão sen- teria o autor de a escrever?
FEIRA DO LIVRO
Entre os dias 18 a 23 de Março decorrerá,
no espaço da Biblioteca Escolar Professor Manuel Talhante,
a Feira do Livro numa parceria entre a Escola Secundária
e a livraria SÍTIO DAS LETRAS
Aguardamos a sua presença
2007
Ano
Novo,
Livros
Novos
7
2007
SÍTIO DAS LETRAS
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sitiodasletras.rmz@sapo.pt
Tel. 266 508 010
REGUENGOS DE MONSARAZ