Descarregar PDF - Jornal de Leiria
Descarregar PDF - Jornal de Leiria
Descarregar PDF - Jornal de Leiria
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
4 <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 15 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />
Abertura<br />
Imigrantes<br />
dão nova<br />
alma à música<br />
da região<br />
Multiculturalida<strong>de</strong> Chegaram a<br />
Portugal por diversas razões, em<br />
alguns casos só para conhecer o País,<br />
mas acabaram por ficar. As<br />
oportunida<strong>de</strong>s oferecidas pela falta <strong>de</strong><br />
professores <strong>de</strong> música, contribuíram<br />
para que se fixassem no nosso País<br />
on<strong>de</strong> têm assumido um papel<br />
<strong>de</strong>terminante na evolução da<br />
formação artística e cultural<br />
RICARDO GRAÇA<br />
Inesa<br />
Markava,<br />
nasceu na<br />
capital da<br />
Bielorrússia,<br />
Minsk, e<br />
chegou há<br />
sete anos a<br />
Portugal para<br />
fazer um<br />
intercâmbio,<br />
<strong>de</strong> um ano.<br />
Acabou por<br />
ficar.<br />
Apaixonou-se<br />
pelo País e<br />
pelo homem<br />
da sua vida, o<br />
marido.<br />
Jacinto Silva Duro<br />
jacinto.duro@jornal<strong>de</strong>leiria.pt<br />
❚ Centenas <strong>de</strong> professores estrangeiros<br />
que se fixaram no nosso<br />
País, nos anos 90 e início do século<br />
XXI, contribuíram para a formação<br />
artística e constituição <strong>de</strong><br />
novas orquestras em Portugal. Deixaram<br />
os seus lares, a milhares <strong>de</strong><br />
quilómetros <strong>de</strong> distância, para colmatar<br />
a falta <strong>de</strong> professores <strong>de</strong><br />
música e artes do Portugal <strong>de</strong> então.<br />
Muitos ficaram e constituíram<br />
família, outros trouxeram-na,<br />
mas, a todos, é reconhecida a nova<br />
alma que, por cá, <strong>de</strong>ram à música.<br />
Também na região, <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
professores estrangeiros se fixaram<br />
e trouxeram os seus mo<strong>de</strong>los<br />
performativos e <strong>de</strong> ensino. “A vinda<br />
<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> outros países<br />
é sempre muito enriquecedora,<br />
pois trazem outras sensibilida<strong>de</strong>s,<br />
outras referências estéticas, e a<br />
cultura artística dos territórios <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> são originários”, explica o<br />
director artístico e pedagógico da<br />
Socieda<strong>de</strong> Artística e Musical dos<br />
Pousos (SAMP), <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, Paulo Lameiro.<br />
O presi<strong>de</strong>nte do Orfeão <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>,<br />
Henrique Pinto i<strong>de</strong>ntifica duas vagas<br />
recentes <strong>de</strong> músicos imigrantes<br />
que vieram preencher nas escolas<br />
<strong>de</strong> música do Minho aos Açores e<br />
à Ma<strong>de</strong>ira. “A primeira aconteceu<br />
com a queda do Muro em Berlim,<br />
a segunda foi o movimento imigratório<br />
do século XXI”, explica.<br />
Estes docentes tiveram o dom <strong>de</strong><br />
transmitir aos seus alunos portugueses<br />
a marca <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s escolas<br />
<strong>de</strong> renome on<strong>de</strong> estudaram, enten<strong>de</strong><br />
o presi<strong>de</strong>nte do Orfeão. “De<br />
Belgrado a Roma, Viena e Moscovo,<br />
por exemplo. Casos há em que<br />
são docentes <strong>de</strong> instrumentos com<br />
poucos especialistas no país”, refere<br />
Henrique Pinto que tece uma<br />
relação directa entre a qualida<strong>de</strong><br />
dos novos músicos nacionais e o<br />
contributo <strong>de</strong>stes docentes.<br />
O mesmo faz Rui Morais, director-executivo<br />
da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Música<br />
<strong>de</strong> Alcobaça, que afirma que<br />
estes professores, “não raras vezes,<br />
<strong>de</strong>notam não só um gran<strong>de</strong> empenho<br />
e rigor mas até uma maior capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> adaptação às mudanças”.<br />
Sensibilida<strong>de</strong>, sensibilida<strong>de</strong> estética<br />
e disciplina, entre uma miría<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> outras características pró-<br />
Pessoas simpáticas<br />
com língua difícil<br />
A complexida<strong>de</strong> da língua foi a<br />
principal dificulda<strong>de</strong> que os<br />
professores tiveram <strong>de</strong><br />
ultrapassar. Svitlana Romanyshyn<br />
e Inesa Markava recordam que<br />
queriam falar, mas não<br />
conseguiam dominar a pronúncia.<br />
Ainda assim, a adaptação a<br />
Portugal, regra geral, é simples.<br />
David Ramy diz mesmo que,<br />
quando vai a um supermercado, a<br />
senhora da caixa esforça-se por lhe<br />
falar em espanhol. “Parece que<br />
não sou eu quem tem um<br />
problema <strong>de</strong> comunicação, mas<br />
ela...” Já Yumiko Ishizuka afirma<br />
gostar “muito do espírito 'mais à<br />
vonta<strong>de</strong> e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>' dos<br />
portugueses”. Para Oxana<br />
Khur<strong>de</strong>nko, uma das coisas que<br />
lhe fez confusão foi a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> “doutores” que há em Portugal.<br />
“Durante algum tempo, acreditei<br />
que havia médicos em todo o<br />
lado.” Na Ucrânia, apenas os<br />
académicos com o nível máximo<br />
<strong>de</strong> habilitações são doutores.<br />
prias da cultura <strong>de</strong> cada um dos<br />
professores são contributos que<br />
dificilmente po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>sprezados<br />
ou sequer menorizados.<br />
“Trazem o gosto e o conhecimento<br />
<strong>de</strong> novos instrumentos, novos<br />
compositores, novas obras musicais,<br />
e acima <strong>de</strong> tudo uma nova<br />
língua que é sempre uma nova<br />
maneira <strong>de</strong> pensar. Esta nova maneira<br />
<strong>de</strong> pensar é porventura a<br />
maior riqueza que nos oferecem”,<br />
explica Paulo Lameiro.<br />
O processo <strong>de</strong> aculturação e<br />
adaptação a um novo país po<strong>de</strong> ser<br />
difícil mas, no caso <strong>de</strong> pessoas<br />
que apren<strong>de</strong>ram a expressar-se<br />
através da mais bela forma <strong>de</strong> comunicação<br />
conhecida pelo homem,<br />
isso nem sempre é assim.<br />
“Os alunos na generalida<strong>de</strong> gostam<br />
<strong>de</strong> ter professores estrangeiros<br />
pois reconhecem neles uma diferença<br />
cultural que os atrai”, refere<br />
Paulo Lameiro.<br />
O JORNAL DE LEIRIA falou com<br />
seis <strong>de</strong>stes professores e professoras<br />
que <strong>de</strong>ixaram as suas terras e se<br />
estabeleceram na região. A maioria<br />
é oriunda do Leste europeu, zona<br />
geográfica que, durante muitos<br />
anos, foi i<strong>de</strong>ntificada com a Corti-<br />
na <strong>de</strong> Ferro, mas cujo ensino, qualida<strong>de</strong><br />
e aptidão para as artes, em<br />
especial para a dança e música, ainda<br />
hoje são inquestionáveis.<br />
Inesa Markava<br />
Bielorrússia<br />
A professora <strong>de</strong> dança e piano Inesa<br />
Markava nasceu na capital da<br />
Bielorrússia, Minsk. Chegou há<br />
sete anos a Portugal para fazer um<br />
intercâmbio, <strong>de</strong> um ano, contudo,<br />
não só se apaixonou pelo País,<br />
como encontrou o homem da sua<br />
vida, o marido. Acabou por ficar.<br />
Ingressou e concluiu o ensino superior<br />
na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra.<br />
Hoje, é professora <strong>de</strong> dança e música,<br />
trabalhando com bebés no programa<br />
Berço da SAMP e com crianças<br />
<strong>de</strong> cinco anos. “Trabalhamos as<br />
áreas da Música, Dança e Teatro.”<br />
No Leste, há uma gran<strong>de</strong> tradição<br />
no ensino das artes, mas na primeira<br />
infância, Portugal é pioneiro.<br />
O projecto Berço, com trabalhos<br />
na área das artes para os mais jovens,<br />
foi uma novida<strong>de</strong> para Inesa.<br />
De sorriso franco e seguro, a jovem<br />
acredita que a principal mais-<br />
-valia que tem para oferecer aos<br />
seus alunos é a noção <strong>de</strong> que a arte