Descarregar PDF - Jornal de Leiria
Descarregar PDF - Jornal de Leiria
Descarregar PDF - Jornal de Leiria
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
8 <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 15 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012<br />
Entrevista<br />
Cesário Silva Dignificar o ensino profissionalizante é uma<br />
das principais batalhas do director da Escola Secundária<br />
EngºAcácio Calazans Duarte<br />
“A Marinha Gran<strong>de</strong><br />
vive alguns traumas”<br />
Daniela Franco Sousa<br />
daniela.sousa@jornal<strong>de</strong>leiria.pt<br />
❚ A confe<strong>de</strong>ração das associações<br />
<strong>de</strong> pais foi ao parlamento dizer<br />
que há cada vez mais crianças com<br />
fome nas escolas. Que impacto<br />
têm tido os problemas sociais nos<br />
alunos da Calazans Duarte?<br />
Sentimos um gran<strong>de</strong> aumento no<br />
número <strong>de</strong> alunos que são subsidiados,<br />
em relação a anos anteriores.<br />
Presentemente, temos mais<br />
<strong>de</strong> 300 alunos com subsídio, o que<br />
correspon<strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 25% dos<br />
alunos do regime diurno. Além<br />
disso, temos um número significativo<br />
<strong>de</strong> alunos a quem atribuímos<br />
pequeno-almoço e lanche. São 60<br />
a 70 jovens que diariamente recebem<br />
esse suplemento. Estas são as<br />
situações que conseguimos i<strong>de</strong>ntificar.<br />
Mas temos noção <strong>de</strong> que outros<br />
po<strong>de</strong>rão passar pela mesma<br />
necessida<strong>de</strong>, e não informam a escola,<br />
por vergonha. E quando em<br />
casa existem situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego<br />
ou <strong>de</strong> salários em atraso,<br />
isso contribui claramente para a<br />
<strong>de</strong>svalorização dos estudos. Os<br />
alunos interrogam-se até que ponto<br />
a escola po<strong>de</strong> traduzir-se num<br />
futuro melhor. Nesse ponto há um<br />
trabalho a <strong>de</strong>sempenhar, e que<br />
não pertence só à escola, que passa<br />
por valorizar a educação e a<br />
formação como o último bem que<br />
nos po<strong>de</strong>m roubar. Hoje em dia, a<br />
educação e a formação são aquilo<br />
que ainda po<strong>de</strong> garantir alguma<br />
mobilida<strong>de</strong> social.<br />
Esta escola está localizada num<br />
dos centros <strong>de</strong> maior tráfico <strong>de</strong><br />
droga e <strong>de</strong> prostituição do concelho.<br />
Como é que os professores<br />
po<strong>de</strong>m contrariar vícios, por vezes<br />
repetidos no meio familiar?<br />
Temos <strong>de</strong> pensar que as escolas<br />
não são ilhas, são o espelho da socieda<strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> estão inseridas. Com<br />
o alargamento da escolarida<strong>de</strong> mínima<br />
obrigatória até aos 18 anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>, passámos a ter na escola um<br />
conjunto <strong>de</strong> jovens que, <strong>de</strong> outra<br />
forma, já não estariam cá. Hoje<br />
estão, e é bom que estejam. Afinal,<br />
a escola <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> todos e para todos.<br />
Mas a escola não po<strong>de</strong> trabalhar<br />
<strong>de</strong> forma unilateral. No caso <strong>de</strong><br />
existirem consumos por parte do<br />
aluno, a nossa estratégia passa por<br />
abordar o jovem, informar, sensibilizar,<br />
acompanhar, e fazemo-lo<br />
sempre em articulação com a famíla.<br />
Foi a pensar no problema da indisciplina<br />
que envolveu a escola<br />
no projecto Um dia na prisão?<br />
Sim. Para mostrar aos alunos que<br />
há responsabilida<strong>de</strong>s a assumir<br />
quando não se cumprem as regras.<br />
E a vivência vale mais do<br />
que imagens e palavras. Entendo<br />
que a escola tem <strong>de</strong> ter componentes<br />
<strong>de</strong> educação e formação,<br />
mas tem <strong>de</strong> ser também espaço <strong>de</strong><br />
interacção, on<strong>de</strong> as pessoas têm<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experimentar coisas<br />
que, <strong>de</strong> outra forma, não po<strong>de</strong>m<br />
fazer. É por isso que temos cá<br />
teatro, televisão, etc. Construir cidadãos<br />
livres, autónomos, com capacida<strong>de</strong><br />
para reflectir e agir, pressupõe<br />
experimentação.<br />
Está satisfeito com os resultados<br />
alcançados pela escola, nos rankings<br />
dos exames?<br />
Nós nunca estamos satisfeitos,<br />
mas o nosso grau <strong>de</strong> satisfação ou<br />
<strong>de</strong> insatisfação tem <strong>de</strong> estar balizado,<br />
temos <strong>de</strong> perceber como está<br />
o contexto nacional, e é para isso<br />
que servem também os rankings.<br />
Mesmo assim, <strong>de</strong>vo sublinhar que,<br />
nos últimos três anos, temos progredido<br />
bastante em termos do<br />
ensino básico, e conseguido uma<br />
certa estabilida<strong>de</strong> ao nível do ensino<br />
secundário. Esta escola não se<br />
focaliza tanto nos rankings, mas sobretudo<br />
na resposta à heterogeneida<strong>de</strong><br />
dos jovens que a procuram<br />
para frequentar as inúmeras tipologias<br />
formativas, acompanhando-os,<br />
para que façam escolhas<br />
que os conduzam ao sucesso.<br />
Por que razão existe um estigma<br />
associado à qualida<strong>de</strong> do ensino<br />
profissional e às capacida<strong>de</strong>s dos<br />
alunos que o frequentam?<br />
O estigma é uma consequência da<br />
massificação e da unificação do ensino<br />
pós-Revolução. Mas não faz<br />
sentido, na medida em que todos<br />
temos a consciência da necessida<strong>de</strong>,<br />
da premência <strong>de</strong> ter técnicos intermédios<br />
qualificados em Portugal,<br />
<strong>de</strong> jovens com competências<br />
no domínio do saber fazer. Além<br />
disso, é preciso enten<strong>de</strong>r que os<br />
alunos têm motivações e interesses<br />
distintos, e que a escola também<br />
tem <strong>de</strong> dar esse tipo <strong>de</strong> resposta. E<br />
Em <strong>de</strong>staque<br />
Portugal precisa<br />
cada vez mais <strong>de</strong><br />
doutores e <strong>de</strong><br />
engenheiros que<br />
sejam capazes <strong>de</strong><br />
meter a mão na<br />
massa, que além<br />
<strong>de</strong> exercerem<br />
tarefas <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong>nação,<br />
sejam capazes <strong>de</strong><br />
integrar uma<br />
equipa<br />
não é por ter frequentado um curso<br />
profissional que um aluno não<br />
po<strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r ao ensino superior<br />
ou que tem <strong>de</strong> ficar para toda a vida<br />
condicionado àquela formação.<br />
Enquanto pensarmos que o ensino<br />
profissionalizante é um ensino menor,<br />
ten<strong>de</strong>remos a não dar importância<br />
ao conjunto <strong>de</strong> jovens que<br />
sai para o mundo do trabalho e que<br />
tem aceitação por parte dos empregadores.<br />
Nuno Crato <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> precisamente<br />
maior ligação entre ensino e<br />
empresas.<br />
Os cursos <strong>de</strong> ensino profissional<br />
têm a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> só ficarem<br />
concluídos <strong>de</strong>pois da concretização<br />
do estágio. Esse momento também<br />
é uma mais-valia para as empresas,<br />
porque lhes permite i<strong>de</strong>ntificar<br />
futuros colaboradores em<br />
caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recrutamento.<br />
Por isso, quando preparamos<br />
um estágio, temos a preocupação<br />
<strong>de</strong> conciliar a expectativa do<br />
jovem com a do empregador. Criamos<br />
sinergias para que haja oportunida<strong>de</strong><br />
do jovem se mostrar ao