Depois, visite os dentistas de dedos macios e aparelhoscomplicados. São eles que fundam as associaçõese reúnem os congressos e discursam <strong>nos</strong> conclfves e<strong>nas</strong> praças públicas.Suas <strong>palavras</strong> são melodiosas e suaves. E se lhesdíssermos: "Esta nação mastiga seus alimentos comdentes cariados e saliva envenenada. E disto resultarãodoenças no seu estômago", eles respondem: "Sim,sim, estamos justamente estudando as drogas-mais moder<strong>nas</strong>e os medicamentos mais eficazes."E se lhes perguntarmos: "E que achais da extração?",desatarão a rir do pobre indagador, que nuncaestudou a nobre ciência da odontologia.E se insistirmos, enfadam-se e afastam-se, dizendo:"Quantos ignorantes n<strong>este</strong> mundo! E como sua ignorânciaé incómoda!"206 NOITE!,O noite dos enamorados e dos poetas e dos cantores!Ó noite dos fantasmas e das almas e das sombras!6 noite do desejo e da ânsia e da saudade!Ó gigante ereto entre as nuvens anãs do poente eas fadas da aurora, empunhando a espada do terror,coroado pela lua, vestido de silêncio, olhando com milolhos as profundidades da vida, ouvindo com mil ouvidosos gemidos da morte e do aniquilamento.És uma escuridão que <strong>nos</strong> faz ver as luzes do firmamento,enquanto que o dia é uma luz que <strong>nos</strong> envolvena escuridão da terra.És uma esperança que abre <strong>nos</strong>sos olhos à majestadedo infinito, enquanto que o dia é uma presunçãoque <strong>nos</strong> transforma em cegos no mundo das medidas edas quantidades.És uma quietude que revela os segredos das almasdespertas <strong>nos</strong> espaços celestiais, enquanto que o dia éuma série de ruídos que perturba as almas perdidasentre seus propósitos e seus desejos.21
És um justo que une, sob as asas do sono, os sonhosdos fracos e as aspirações dos fortes, e és um benfeitorque fecha com seus dedos invisíveis as pálpebras dos.infelizes e conduz seus corações a um mundo me<strong>nos</strong>cruel que <strong>este</strong> mundo.Entre as dobras de tuas v<strong>este</strong>s azuis, os enamoradosexalam seus suspiros; e aos teus pés recobertos de orvalho,os solitários vertem as suas lágrimas; e <strong>nas</strong> tuasmãos perfumadas com o aroma dos vales, os exiladosdepositam os gemidos de sua paixão e de sua saudade.És o companheiro dos enamorados e dos exilados; éso consolador dos solitários e dos abandonados.A tua sombra, erram as almas dos poetas, e sobreteus joelhos despertam os corações dós profetas, e entreas dobras de tuas tranças, tremem as idéias dos pensadores.És o inspirador dos poetas e o 'mentor dos profetase o guia dos pensadores.Quando minha alma se cansou dos homens e minhaspálpebras, da face do dia, dirigi-me àqueles camposdistantes onde dormem as sombras dos temposidos.Lá me achei diante de um ser sisudo, glacial, trémulo,que caminhava com mil pés pelas planícies e asmontanhas e os vales.Lá pude fixar os olhos das trevas, e ouvir o rumorde asas invisíveis, e sentir as carícias do silêncio, e resistiraos temores da escuridão.Lá te vi, 6 noite, fantasma gigante, formoso, suspensoentre a terra e ° céu, velado pelas nuvens, envoltona cerração, rindo-te do sol, rindo-te do dia, zombandodos escravos em vigília diante dos ídolos.Vi-te censurando os reis adormecidos sobre a seda,exarninando os rostos dos crimi<strong>nos</strong>os, embalando ascrianças no berço, entristecida pela alegria das decaí~,""das, sorrindo às lágrimas dos apaixonados, elevando,com tua mão direita os corações grandes, esmagandosob teus pés as almas mesquinhas.Vi-te, ó noite, e tu me viste. E eras, na tua temívelmajestade, um. pai para mim, e eu era, com meus sonhos,um filho para ti. E não houve mais corti<strong>nas</strong> nemvéu entre nós, e confessaste-me teus segredos e intentos,e revelei-te minhas aspirações e esperanças. Equando os terrores de tua face se transformaram em,melodia, suave como o murmúrio das flores, e meustemores cederam lugar a uma segurança doce como aconfiança dos pássaros, elevaste-me até ti, e me pus<strong>este</strong>sobre teus joelhos, e ensi<strong>nas</strong>te aos meus olhos aver, e ao meu ouvido a ouvir, e aos meus lábios a falar.E ensi<strong>nas</strong>te a meu coração a amar o que os homensodeiam, e a odiar o que eles amam. Depois, tocastemeus <strong>pensamentos</strong> com teus dedos, e meus <strong>pensamentos</strong>jorraram tal um rio caudaloso que corre, cantandoearrastando as plantas mortas. Depois, beijaste minhaalma; e minha alma ardeu, tal uma chama que consometodas as coisas secas.Freqüentei-te, ó noite, até me assemelhar a ti, e minhasinclinações se misturaram com tuas inclinações;e amei-te até que meu ser se tornou' uma réplica diminutade ti. Na minha alma escura, há estrelas lumi<strong>nos</strong>asque' a paixão espalha ao anoitecer e que as preocupaçõesrecolhem ao amanhecer. E no meu coraçãoatento,hã uma lua que se move num espaço, ora repletode nuvens, ora repleto das procissões dos sonhos.E na minha alma vigilante, há uma quietude que revelaos segredos dos enamorados e repete o eco daspreces dos adoradores. E em volta da minha cabeça,há um envólucro de magia, rasgado pelo <strong>este</strong>rtor dosagonizantes e recosido pelas canções dos trovadores.22 23
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~~'PILHaS DE DEUSES E NETOS DE MACA
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vertendo nela um vinho onde se mist
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vardes que simulam a bravura diante