Yussei M ussarra - Por Deus, deixa-<strong>nos</strong> ouvir orestante da história.Bulas as-Solban (levantando-se) - Parece-me quepreferis esta conversa oca à minha presença. Até logo!Helena M ussarra (dirigindo a Bulos um olhar significativo)- Senta-te, Bulos, e, seja qual for o caso,estamos' contigo.Bulos As-Solban senta-se, com um movimentode resignação.Salim Muauad (continuando) - Disse que Buloso majestoso, o perfumado, cantou um verso, um únicoverso do poema de Ibn AI-Farid, e calou-se. Quero dizerque ele deu àqueles famintos um pedacinho do pãodos deuses. Depois, empurrou a mesa, quebrando osvasos e os pratos, e sentou-se tão mudo quanto a Esfingedo Nilo.Levantaram-se as damas, cada uma rogando-lhe' com<strong>palavras</strong> mais suaves do que a outra, para que se dig<strong>nas</strong>secantar mais versos. Mas ele se desculpava, dizendo:"Estou resfriado. A minha garganta dói."Levantaram-se, então, -os líderes e os milionários, erogaram-lhe humildemente por sua vez. Mas ele nãose deixou abalar. Permaneceu frio e severo, como seDeus lhe tivesse substituído o coração por uma pedra.Após a meia-noite, vendo seus convidados abatidospelo desânimo e a tristeza, JalaI Paxá chamou <strong>nos</strong>socantor para uma sala contígua e enfiou-lhe no bolsoum maço de dinheiro, dizêndo-lhe: "Podes, BulasEfêndi, encerrar esta festa na alegria ou no aborrecimento.Por isto, peço-te o favor de aceitar <strong>este</strong> pequenopresente, não como um pagamento, mas como osímbolo dos meus sentimentos para contigo. Não decepcionesa esperança dos presentes."Foi então que explodiu o gigantesco orgulho de Bulos.Jogou o dinheiro sobre um sofá, dizendo no tomdos conquistadores: "O senhor está-me insultando, JalalPaxá. Não vim à sua casa para vender minha vozpor dinheiro. Vim para homenageá-lo, como todos osoutros." .JalaI Paxá perdeu então a calma e dirigiu a BulosEfêndi <strong>palavras</strong> rudes, o que levou o sensível Bulasa sair da casa, gritando e blasfemando.Quanto a mim, o insignificante, apanhei meu alaúdee segui Bulos, deixando atrás de mim os rostos bonitose os corpos delgados e os vinhos capitosos e os pratossuculentos. Sim, renunciei a tudo isto para não perdera amizade d<strong>este</strong> orgulhoso cabeçudo. Sacrifiqueimeno altar d<strong>este</strong> Baal. Mas ele nem me agradeceu,nem elogiou minha coragem, nem reconheceu minhaamizade e lealdade.Yussef Mussarra (rindo) - Esta é, na verdade, umahistória deliciosa, que merece ser registrada.Salim Muauad - Não cheguei ainda ao fim. O deleitemáximo está no fim, um fim bem diabólico quenão teriam imaginado nem Ahriman o persa nem Saifao índio.Bulos As-Solban (dirigindo-se a Helena) - Fiqueiaqui em acatamento à- tua vontade. Agora, por favor,pede a esta rã que feche a boca.Helena Mussarra - Deixa-o falar. Seja qual for ofim da história, nós estamos contigo, em <strong>palavras</strong> ecoração.Salim M uauad (acende outro cigarro e continuasua narração) - Saímos da casa de Jalal Paxá, enquantoBulas xingava os ricos e os aristocratas, e eu,no meu coração, xingava o próprio Bulas. Depois detudo isto, depois de tudo isto, pensais que fomos cadaqual para sua casa? Ouvi-e admirai! Sabeis que a casade Habib Saade é vizinha da casa de Jalal Paxá. Separa-as,somente, um pequeno jardim. E sabeis que Ha32 33
ib Saade é amante do vinho e do canto e dos que idolatramesse Baal (indicando Bulas).Quando saímos da casa de J alai Paxá, deteve-se Bulosno meio da rua a esfregar afronte, como se fosseum grande general procurando conquistar um reinorebelde. Depois, dirigiu-se à casa de Habib Saade e tocoua campainha com força. Apareceu Habib em pijama,e bocejando. Mas quando viu Bulos e o alaúde,seu rosto mudou, seus olhos brilharam, como se o céuse tivesse aberto na sua frente. Gritou com alegria:"Sede bem-vindos! Sede bem-vindos! O que vos trouxenesta hora santificada7"Respondeu Bulos: "Viemos celebrar na tua casa asbodas do filho de J alaI Paxá." ,Disse Habib: "Não encontrastes lugar no palácio deJalaI Paxá, para virdes a esta modesta casa7"Respondeu Bulos: "As paredes do palácio de JalalPaxá não têm ouvidos para as melodias do alaúde. Épor isto que viemos aqui. Dá-<strong>nos</strong> bebidas e aperitivose não fales demais."Em resumo, sentamo-<strong>nos</strong> em volta da mesa, e malhavia Bulos tomado dois goles, levantou-se e abriu asjanelas que dão para o jardim do Paxá, depois entregou-meo alaúde, ordenando: "Eis o teu bordão, ÓMoisés. Transforma-o em serpente, e manda-o engolirtodas as serpentes do Egito. Toca o Nahauand (*), etoca longamente e com alma."Apanhei o alaúde, pois ao escravo só cabe obedecer,e toquei o Nahauand. Bulos dirigiu sua face para acasa de J alal Paxá, e começou a cantar em voz alta ...(>to)Melodia romântica da música árabe.Conheço Bulos faz 15 a<strong>nos</strong>. Conheço-o desde queéramos dois garotos na escola. Ouvi-o a cantar na alegriae na tristeza. Ouvi-o a gemer como uma mãe queacabava de perder o filho único, e vibrar como o apaixonado,e alegrar-se como um vencedor. Ouvi-o sussurrarno silêncio da noite. Ouvi-o cantar <strong>nos</strong> vales doLíbano, acompanhado pelos si<strong>nos</strong> distantes, enchendoo espaço de magia e poder. Sim, ouvi-o cantar mil euma vezes. E pensava conhecer todos os movimentose silêncios de sua alma. Mas na noite de ontem, quandodesviou o rosto para a casa de JalaI Paxá e fechouos olhos e cantou:Cada dia queixo-me da paixão do meu coração;E quanto mais me queixo, tanto mais ela' aumenta,quando cantou <strong>este</strong>s versos, brincando com eles comoo vento brinca com as folhas do outono, disse a mimmesmo: "Não, não conheci no passado senão a superfícieda alma de Bulos, Somente hoje, cheguei à suaessência. No passado, ouvia-o cantar ape<strong>nas</strong> com a línguae os lábios; agora ouço-lhe o coração e a alma ... "E prosseguiu Bulos, passando de uma melodia a outrae de uma canção a outra, até que me pareceu sen..tir no espaço uma multidão de almas apaixonadas queevocavam as lembranças de coisas passadas e ecoavamas aspirações e os sonhos dos homens.Sim, senhores, <strong>este</strong> homem escalou ontem os degrausda arte até atingir as estrelas. E, milagrosamente, nãovoltou à terra senão na madrugada. Pois só calou apósreduzir seus inimigos ao nível de suas sandálias, comodiz a Bíblia!Saiim para um momento de falar. SeuQuanto aos convidados de JalaI Paxá, mal haviamrosto perde toda a zombaria e adquire aspectocalmo e sério. Eouvido a voz cantando, acorreram às janelas e comeprossegue:çaram a pasmar após cada melodia. Alguns saírammesmo ·ao jardim e ficaram em pé, por baixo das árvores,atentos, felizes, extasiados, incapazes de compreen3435
- Page 1 and 2: poral •ESTE LIVRO, VIOLENTO NOS P
- Page 3 and 4: GIBRA" KHALIL GIBRANtraduc;io e apr
- Page 5 and 6: Entre a Noite e a Aurora 62Ó Filho
- Page 7 and 8: ~~~_... f"5Y:~~~'~~- liiVale, As Al
- Page 9 and 10: U Amava-vos, ó filhos da minha mã
- Page 11 and 12: SATANÁSO' Padre Simão era conhece
- Page 13 and 14: "Depois, apareceram os sacerdotes e
- Page 15 and 16: Depois de enumerar dezenas de carac
- Page 17 and 18: VENENO NO MEL14Numa manhã de outon
- Page 19 and 20: OS DENTES CARIADOSHavia na minha bo
- Page 21 and 22: És um justo que une, sob as asas d
- Page 23 and 24: - Eu sou um estrangeiro nestes dias
- Page 25: Bulos As-Solban (dirigindo-se a Mua
- Page 29 and 30: e líderes descobriram este segredo
- Page 31 and 32: IOS GIGANTESQuem escreve com tinta
- Page 33 and 34: AS NAÇÕESUma nação é uma comun
- Page 35 and 36: A TEMPESTADE1Yussef AI-Fâkhry tinh
- Page 37 and 38: lidão para orar e me dedicar ao as
- Page 39 and 40: votos para que aprendas a amar as t
- Page 41 and 42: ENTRE A NOITE E A AURORAC ala-te, m
- Page 43 and 44: "Enchi o navio de meu pensamento de
- Page 45 and 46: Chorava por vossa humildade e esmag
- Page 47 and 48: "Vivi uma hora como rosa. Vivi uma
- Page 49 and 50: Disse: "Não suporto viver só. Hab
- Page 51 and 52: Meus parentes morreram de morte hum
- Page 53 and 54: quanto de construir. Odeio o que os
- Page 55 and 56: anestesias, ou se sou vítima de il
- Page 57 and 58: II IIII li~iilii)tiiiIINós nos apr
- Page 59 and 60: povos, que compreendes os sonhos da
- Page 61 and 62: "Não, não. Desprezamo-lo na vida
- Page 63 and 64: ao mesmo tempo, fazendo uma vez ou
- Page 65 and 66: ,- --'--'-ry"I--'~'_.~"""","""""~-"
- Page 67 and 68: ministro de Estado, ocupado em gove
- Page 69 and 70: Quanto ao nome da mulher que meu co
- Page 71 and 72: E há os palavreadores-grilos que,
- Page 73 and 74: ~~'PILHaS DE DEUSES E NETOS DE MACA
- Page 75 and 76: vertendo nela um vinho onde se mist
- Page 77 and 78:
vardes que simulam a bravura diante