Quanto ao fenômeno da extensão de base das formações em –vel paraas formas nominais, Basilio (2002) trata especificamente dos casospresidenciável, ministeriável, prefeitável e reitorável. A autora conclui que,apesar de a base não ser verbal, a formação com os nomes tem funçãoidêntica à de base verbal, caracterizando “algo ou alguém como pacientepotencial”. Para Basilio (2002, p. 58), não são quaisquer nomes que podemservir de base para a sufixação, “mas apenas aqueles correspondentes acargos ou funções 12 . Este particular nos indica que a disponibilidade paraformações em –vel vem de um fator semântico, em oposição a fatoresmorfológicos ou sintáticos”.Salles e Mello (2004, p. 3) propõem a formulação de critérios semânticosem termos sintáticos para analisar os adjetivos em –vel atestados emportuguês, ainda que suas bases verbais não estejam dicionarizadas. Asautoras abordam as mesmas formas propostas por Basilio (2002)(presidenciável, prefeitável, reitorável); no entanto, propõem que essesadjetivos sejam formados a partir de estrutura causativa analítica, constituídado auxiliar causativo e do nome que designa a função ou cargo (presidente,prefeito, reitor). Salles e Mello (2004, p. 12) propõem que o adjetivopresidenciável seja derivado a partir da estrutura representada abaixo em (19):(19) O povo fez Lula presidenteAs autoras argumentam que o critério semântico não dá conta dadiferença entre nomes como ‘presidenciável’ e ‘gerenciável’, ambos formados apartir de nomes de cargos/ funções, respectivamente ‘presidente’ e ‘gerente’,mas somente o primeiro é derivado na estrutura causativa perifrástica. Emparticular, notam que, diferentemente do ‘presidenciável’, o argumento internode que nomes como ‘gerenciável’ predicam não é o argumento interpretadocomo ocupante do cargo, pois este não é o paciente, mas coisa gerenciada: obanco é gerenciável/ o gerente gerencia o banco. Nesse sentido, no caso de‘presidenciável’, a estrutura perifrástica capta a interpretação de ‘paciente/tema’ associada ao argumento ocupante do cargo, o que permite compararessa formação à de verbos denominais, como ‘petrificar’, que denotam uma12 Enquanto presidenciável, reitorável e prefeitável claramente fazem referência a um cargo oufunção, (presidente, reitor e prefeito), ministeriável é transparente o bastante para serassociada ao lugar, ministério, não ao cargo ou função de ministro (*ministrável). Ainda que ainterpretação de ministeriável seja claramente ligada ao cargo de ministro, a formulação quantoao critério de cargo ou função, se considerada com rigor, não se aplicaria a essa formação._____________________________________________________Anais do 10º Encontro de Letras da UCB – ISSN: 2175-6686Os textos são de inteira responsabilidade dos autores.46
mudança de estado, e que geram o adjetivo em –vel ‘petrificável’. As autorasacrescentam que um requisito para a formação de adjetivos em –vel a partir debases nominais como ‘pedra’ e ‘presidente’ é que tais nomes descrevampropriedades da estrutura do objeto de que predica, no sentido material ouabstrato – o que autoriza a interpretação de mudança de estado.Assumindo-se que presidenciável predica do argumento interno daestrutura causativa, outro aspecto relevante é que a imposição sugerida porBasilio (2002) de que os nomes que servem de base à sufixação em –vel serefiram a cargos ou funções não se aplica aos exemplos já mencionados em(1b), em que carroçável (que se pode atravessar com uma carroça) e colunável(que pode figurar nas colunas sociais) apresentam bases nominais que não sereferem a cargo ou função, carroça e coluna social.Esses dois casos seguramente representam contra-exemplos para osquais podem ser feitas ressalvas, uma vez que são marginais e pouco usuaisna língua, fruto antes de pesquisa lexicográfica do que de vocabulário de uso.Outro exemplo é o de confortável, para o qual se pode propor como hipóteseinicial que também seja gerado com base nominal (conforto). As evidênciasque levam a considerar essa hipótese são as seguintes: tomando-se comocorreta a afirmação de Basilio (2002) de que o sufixo –vel caracteriza algo oualguém “paciente potencial em relação à base (ou ao verbo base)”, se oadjetivo tivesse como base o verbo confortar, não seria possível formular umasentença como (20) a seguir:(20) O sofá é confortávelEm (20), sofá não é interpretado como o paciente do verbo confortar,mas como algo que “proporciona conforto físico, comodidade”. A hipótese deque confortável é formado com base nominal, no entanto, não explica asentença (21) a seguir:(21) O menino está confortávelEm (21), menino não possui a qualidade de “proporcionar conforto”, masé “paciente potencial em relação à base”. Observa-se, assim, que o adjetivoconfortável parece se relacionar tanto à forma verbal confortar quanto à formanominal conforto. Observação que está de acordo com o que o dicionárioregistra para o adjetivo: “1. passível de ser confortado; consolável; e 2. que_____________________________________________________Anais do 10º Encontro de Letras da UCB – ISSN: 2175-6686Os textos são de inteira responsabilidade dos autores.47
- Page 1 and 2: ANAIS DO10º ENCONTRO DE LETRASDA U
- Page 3 and 4: PROGRAMAÇÃODia 23 de outubro8:30
- Page 5 and 6: SUMÁRIORESUMOSPronomes de tratamen
- Page 7 and 8: TEXTOS COMPLETOSPronomes de tratame
- Page 9 and 10: PROJETO DE EXTENSÃO - O CINEMA COM
- Page 11 and 12: FORMAÇÕES ADJETIVAS EM -VEL E -AB
- Page 13 and 14: FAZENDO SENTIDO NA AUSÊNCIA DE SEN
- Page 15 and 16: ESTUDO LINGUÍSTICO NA CULTURA POPU
- Page 17 and 18: A ÁREA DA ESQUERDA EM SINTAGMAS NO
- Page 20 and 21: O PORTUGUÊS BRASILEIRO: SUA HISTÓ
- Page 22 and 23: OS PRONOMES DE TRATAMENTO E SUAS DI
- Page 24 and 25: 2 Ensino como Língua Estrangeira X
- Page 26 and 27: 4.1.1 Pronome de tratamento na lín
- Page 28 and 29: no Brasil apresentando para um grup
- Page 30 and 31: Quadro 3. Situação atual dos pron
- Page 32 and 33: para surdos: caminhos para a práti
- Page 34 and 35: discuss adjectives formed by the su
- Page 36 and 37: para quais é derivada ou mesmo ind
- Page 38 and 39: Di Sciullo e Williams propõem a se
- Page 40 and 41: o seu significado determinado, e a
- Page 42 and 43: O argumento definitivo de Wasow (19
- Page 44 and 45: c. raízes + -able: viable, soluble
- Page 48 and 49: proporciona conforto físico, comod
- Page 50 and 51: porque há casos em que, de forma c
- Page 52 and 53: BASÍLIO, M. Teoria Lexical. São P
- Page 54 and 55: FAZENDO SENTIDO NA AUSÊNCIA DE SEN
- Page 56 and 57: em esclarecer certos termos levanta
- Page 58 and 59: mais atento também logo entende o
- Page 60 and 61: verdes perdidos guinchavam. Já hav
- Page 62 and 63: palavras nada tem a acrescentar. Um
- Page 64 and 65: Outra questão relacionada aos sere
- Page 66 and 67: CARROLL, L. Alice: edição comenta
- Page 68 and 69: He went galumphing back.‘And, has
- Page 70 and 71: AS TOADAS DE BUMBA-MEU-BOI: SOCIABI
- Page 72 and 73: passar do tempo os grupos de Orques
- Page 74 and 75: fortalece; o que culmina no desapar
- Page 76 and 77: Nos encontros dos bois, fica eviden
- Page 78 and 79: cometendo equívocos; o segundo gru
- Page 80 and 81: Considerações finaisEmbora seja u
- Page 82 and 83: A SENHORA NOÉ: UMA ARCA GUIADA POR
- Page 84 and 85: do dilúvio, que consta no Antigo T
- Page 86 and 87: concepção, um simples receptácul
- Page 88 and 89: se consolidar uma nova produção t
- Page 90 and 91: Mundial e ao entreguerras (nesse pe
- Page 92 and 93: litania tradicional, então, ela se
- Page 94 and 95: das mulheres, espreitando seu corpo
- Page 96 and 97:
pelo processo de nascimento, atrave
- Page 98 and 99:
e eu adoto seu bebê. Esse pensamen
- Page 100 and 101:
usca entender “a psicodinâmica d
- Page 102 and 103:
prosaico, insignificante. Assim, ro
- Page 104 and 105:
_______. A Piece of the Night. Lond
- Page 106 and 107:
O ‘EU’ E SEU TRATAMENTO SEMÂNT
- Page 108 and 109:
contextual - a princípio, o refere
- Page 110 and 111:
quais os falantes se apoiam ao usar
- Page 112 and 113:
Com a primeira dessas ideias, Kapla
- Page 114 and 115:
seguinte recado num pedaço de pape
- Page 116 and 117:
amificações bem interessantes, ma
- Page 118 and 119:
(1993), adaptado abaixo. Imagine um
- Page 120 and 121:
como comentário sobre o desempenho
- Page 122 and 123:
(18) Onde você está estacionado?O
- Page 124 and 125:
precisamos para analisar os fenôme
- Page 126 and 127:
KRATZER, A. Minimal Pronouns: Fake
- Page 128:
AGRADECIMENTOSREALIZAÇÃOOutubro20