78 Inforgeo 15 – Educação Geográficaceptualização, <strong>de</strong> confronto dos problemas a várias escalas, resi<strong>de</strong> aoriginalida<strong>de</strong> do raciocínio geográfico e, por conseguinte, dotar osalunos com esta competência significa também prepará-los paramelhor «saberem pensar o espaço» e <strong>de</strong> forma consciente po<strong>de</strong>rem«agir no meio em que vivem».Uma geografia activa. Para po<strong>de</strong>r respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios da educação,«ajudar os alunos a interrogarem-se sobre problemas geográficosque eles mesmos terão <strong>de</strong> dominar alguns anos mais tar<strong>de</strong> enquantocidadãos» (David, 1986), não basta que se perspectivem os gran<strong>de</strong>sproblemas sociais e ambientais enquanto sistema e <strong>de</strong> forma dinâmicaou que o centro das abordagens se transfira dos conteúdos para osconceitos e as questões-chave que conferem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ao saber-fazergeográfico. É também fundamental que os professores façam da geografiaescolar uma verda<strong>de</strong>ira prática operatória (Hugonie, 1989), seadoptem métodos activos e mediante a aplicação da metodologiaconstrutivista se tornem os alunos actores e autores das suas própriasaprendizagens (Naish, 1982). Nesta démarche não há lugar para alição magistral, nem tampouco para o <strong>de</strong>sfile dos conteúdos e exercícios<strong>de</strong> ilustração sabiamente transmitidos pelo professor, apoiado nasua versão mais mo<strong>de</strong>rna no espectáculo promovido pelas avançadastécnicas do audiovisual e da comunicação. Na realida<strong>de</strong>, esta aprendizagemdo discurso sobre o espaço até po<strong>de</strong> existir uma vez por outra,no entanto, não é seguramente a melhor forma <strong>de</strong> promover a autonomiae o espírito crítico, <strong>de</strong> permitir que os alunos perante problemasconcretos sejam capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alizar soluções mobilizando os conhecimentos,os conceitos e as técnicas geográficas. Para que isso aconteça,é imprescindível que o aluno, mediante a aplicação do métodocientífico, tenha a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstruir o conhecimento quepossui dos problemas. Afinal <strong>de</strong> contas, parafraseando Cañal e Porlan(1987), a investigação ainda é a única via natural para apren<strong>de</strong>r.2. Como ensinar?A renovação da geografia escolar <strong>de</strong> forma alguma se po<strong>de</strong>rá limitar àsimples re<strong>de</strong>finição dos conteúdos, elaborada <strong>de</strong> acordo com os princípiossumariamente expostos. Naturalmente, esta pressupõe também uma profundaalteração da metodologia directamente implicada nos processos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizagem dos referidos conteúdos e procedimentos. Respon<strong>de</strong>r à questão«como ensinar?», exige, assim, uma intervenção em dois campos, sem dúvidadistintos, mas intimamente relacionados. O primeiro, pren<strong>de</strong>-se com a selecção<strong>de</strong> um método <strong>de</strong> trabalho que oriente a praxis didáctica, condicionada, necessariamente,pelos mo<strong>de</strong>los educativos e as concepções da aprendizagem. Osegundo, diz respeito ao leque <strong>de</strong> procedimentos inerentes ao saber-fazer teóricoe prático da geografia, ao raciocínio geográfico e aos conteúdos abordadosnas aulas, que para serem apreendidos pelos alunos se torna necessário <strong>de</strong>linear
Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 79um conjunto <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ensino e tarefas <strong>de</strong> aprendizagem.Durante a vigência do paradigma comportamental, a metodologia semprefoi consi<strong>de</strong>rada uma questão menor. Apoiando-se numa compreensãolimitada da estrutura mental da criança (vista quase sempre como um recipientevazio mas com as mesmas faculda<strong>de</strong>s intelectuais do adulto), fazendotábua rasa das i<strong>de</strong>ias prévias dos alunos e concebendo o professor comoúnica fonte válida <strong>de</strong> conhecimento, os mo<strong>de</strong>los educativos ancorados nesteparadigma limitaram a sua estratégia <strong>de</strong> ensino à mera transmissão da informaçãodo mestre para o aprendiz (Naish, 1982; Tonucci, 1985). No entanto,estas i<strong>de</strong>ias, embora por questões <strong>de</strong> inércia ainda coman<strong>de</strong>m as práticas nasnossas escolas, em termos teóricos não são hoje mais sustentáveis. Os avançosda psicologia cognitiva e a emergência <strong>de</strong> novos paradigmas educativoscentrados em quem apren<strong>de</strong>, possibilitados pela difusão das teorias da aprendizagemsignificativa (Ausubel), por <strong>de</strong>scoberta (Bruner), construtivista(Piaget), mediada (Feuerstein), participada e socializadora (Vygotsky),<strong>de</strong>monstram que para se ensinar bem não basta uma boa selecção dos conteúdosou que o professor domine os programas e através da sua autorida<strong>de</strong>consiga impor a disciplina na sala <strong>de</strong> aula. É também imprescindível sabercomo é que os alunos apreen<strong>de</strong>m tais conteúdos e a atitu<strong>de</strong> que manifestamperante a apresentação <strong>de</strong> novos factos (Souto Gonzalez, 1998: 125). Narealida<strong>de</strong>, só na posse <strong>de</strong>stes conhecimentos po<strong>de</strong>remos agir em conformida<strong>de</strong>com os problemas reais da aprendizagem e, por conseguinte, <strong>de</strong>linear asestratégias <strong>de</strong> ensino mais a<strong>de</strong>quadas à sua resolução.Do ponto <strong>de</strong> vista do método <strong>de</strong> trabalho, se aceitarmos, por um lado,que a geografia escolar <strong>de</strong>ve implicar os alunos na sua própria formação,fazendo <strong>de</strong>stes indivíduos progressivamente autónomos e responsáveis e, poroutro lado, que o conhecimento é uma construção pessoal, intimamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da riqueza das experiências vividas pelo indivíduo na sua interacçãocom o meio físico e social (Benejam, 1992), então este terá <strong>de</strong>assumir, necessariamente, uma forma semelhante ao método científico.Frisamos bem semelhante e não idêntico porque, <strong>de</strong> facto, nem os alunospossuem os mesmos interesses e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conceptualização dosproblemas dos profissionais da investigação (Souto Gonzalez, 1998), nem asfinalida<strong>de</strong>s do uso do método científico são idênticas no contexto dainvestigação escolar e da investigação científica 4 . Ao estabelecermos estacomparação, o que está em causa é simplesmente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>ra aprendizagem como um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta pelo aluno <strong>de</strong> soluções4 A distinção entre a investigação científica e escolar foi bem explicitada por Cañal e Porlan(1987: 90). Segundo estes autores, enquanto a primeira consiste num «processo orientadopara a i<strong>de</strong>ntificação, formulação e resolução <strong>de</strong> problemas, sendo um problema, qualquerdificulda<strong>de</strong> que apenas po<strong>de</strong> ser superada mediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s comvista à sua resolução (Bunge, 1983), a segunda refere-se ao «processo <strong>de</strong> aprendizagemfundamentado na exploração e na capacida<strong>de</strong> para o pensamento racional, comum no serhumano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, bem como nos traços fundamentais do espírito científico que seaperfeiçoa progressivamente na prática, em interacção dialéctica com o <strong>de</strong>senvolvimento dasestruturas conceptuais e operatórias do indivíduo e que é concebida como um instrumento aoserviço dos objectivos gerais da educação, no marco <strong>de</strong> uma opção didáctica global».