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| JORNAL DE LEIRIA | SOCIEDADE | ENTREVISTA |8 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2010 | 17“A intolerânciae a indiferençasão as pioresdoençasda humanida<strong>de</strong>”Participou em mais <strong>de</strong> 250missões da AMI. Qual a quemais o marcou pela negativa?Talvez o genocídio no Ruandaem 1994. É sempre dramáticoperceber como é que a intolerânciapo<strong>de</strong> levar dois gruposà chacina e, por outro lado, vera indiferença da comunida<strong>de</strong>internacional. As Nações Unidaspermitiram que isso acontecesse.A intolerância e a indiferençasão as piores doenças dahumanida<strong>de</strong>. Um ser humano,tenha a cor que tiver e estejaon<strong>de</strong> estiver, é sempre um serhumano.Há uns anos, a AMI publicouum livro intitulado Históriaspara não adormecer.Sente que ainda é preciso agitara consciência social daspessoas?É fundamental não <strong>de</strong>ixaradormecer. Não <strong>de</strong>ixar acomodar-se.Acomodar-se é sentir--se <strong>de</strong>rrotado. É abandonar ocombate. O País não se po<strong>de</strong> acomodarà situação em que estamos.Não há nenhum fatalismolusitano que nos obrigue a estarsempre nos piores índices aonível da Europa. O nosso povo,quando dirigido por estadistascom visão estratégica, <strong>de</strong>monstraque po<strong>de</strong> ser lí<strong>de</strong>r. Fomoslí<strong>de</strong>res no tempo <strong>de</strong> D. João II.Iniciámos a globalização. Acreditoque se <strong>de</strong>vidamente motivado,o povo respon<strong>de</strong> e vai àluta. Mas os exemplos têm <strong>de</strong>vir <strong>de</strong> cima. O lí<strong>de</strong>r tem sempre<strong>de</strong>veres e poucos direitos.Portugal precisa <strong>de</strong> um abanão?Portugal precisa <strong>de</strong> um abanãono bom sentido da palavra.No sentido da dignida<strong>de</strong>, do respeito,dos valores, da responsabilida<strong>de</strong>,da exigência. Nada sefaz sem esforço, persistência,espírito <strong>de</strong> sacrifício. Portugalprecisa <strong>de</strong> ter uma i<strong>de</strong>ia estratégica.Que lugar é o nosso naEuropa e que lugar é o nosso nomundo? O que é que queremosfazer com o nosso mar? O queé que queremos fazer com o nossoterritório? Queremos ser lí<strong>de</strong>resem quê? Temos <strong>de</strong> apostarem sectores estratégicos paramostrar ao nosso povo que háli<strong>de</strong>rança e rumos a seguir e,sobretudo, que há causas nacionais.■“O maior <strong>de</strong>safio é salvaguardara nossa <strong>de</strong>mocracia”Até ao momento, só é conhecidaa candidatura <strong>de</strong> ManuelAlegre, embora seja expectávelque Cavaco Silva se volte a candidatare que o PS indique umcandidato próprio. O que pensados seus adversários?O professor Aníbal Cavaco Silvaé um homem digno, que temfeito o que po<strong>de</strong>, mas acho queaquela história das escutas a Belémfoi péssima. Complicou um relacionamentoinstitucional já complicado.Numa situação <strong>de</strong>stas, ouo Presi<strong>de</strong>nte da República tem provas<strong>de</strong> que está a ser ou foi escutadopelo primeiro-ministro e, nessasituação, a única saída é amudança do primeiro-ministro. Ou,não tendo provas, é melhor ficarcalado e não permitir que nenhumdos seus colaboradores crie especulaçõessobre esse tema. É péssimopara o funcionamento do Estado.Por outro lado, o senhor Presi<strong>de</strong>nteda República não se po<strong>de</strong> eximirdas responsabilida<strong>de</strong>s que tem nahistória <strong>de</strong> Portugal e na <strong>de</strong>gradação<strong>de</strong> Portugal. Foi primeiro-ministro<strong>de</strong>z anos e está na Presidênciada República há quatro.Consegue avançar com uma explicação paraos fenómenos naturais que têm ocorrido nos últimostempos?As alterações climáticas são irreversíveis nos próximos20 a 25 anos. Infelizmente, a Cimeira <strong>de</strong>Copenhaga foi um rotundo fracasso. A Cimeira doRio <strong>de</strong> Janeiro foi em 1992. Tivemos tempo paraintervir e regular. O que está a acontecer é o resultado<strong>de</strong> um <strong>de</strong>smando do ser humano, a partir doúltimo século. Vivemos num planeta finito que nãopo<strong>de</strong> sustentar infinitamente um crescimento <strong>de</strong>smedido<strong>de</strong> toda a sua população, nem dos anseiose da sua felicida<strong>de</strong>. Como é um organismo vivo, oplaneta está a adaptar-se e a respon<strong>de</strong>r. Como humanitáriohá mais <strong>de</strong> três décadas, afirmo: o que estápara vir ainda é muito pior. Quem viver mais <strong>de</strong>z a20 anos, vai ver fenómenos globais preocupantes:<strong>de</strong>slocações <strong>de</strong> pessoas aos milhões, períodos <strong>de</strong>chuvas torrenciais e <strong>de</strong> secas tremendas. Avizinha--se para 2030 uma crise alimentar terrível. Era bomque nos preocupássemos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, com a nossaE Manuel Alegre?Foi <strong>de</strong>putado 34 anos, vice-presi<strong>de</strong>nteda Assembleia da República,pelo que também tem responsabilida<strong>de</strong>snesse percurso histórico.Em questões <strong>de</strong> progressãolegislativa não se conhecem gran<strong>de</strong>spropostas no sentido positivoda mudança.Admite retirar a sua candidatura,caso se reveja na <strong>de</strong> outrocandidato?Não vou <strong>de</strong>sistir a favor <strong>de</strong> ninguém,apesar <strong>de</strong> saber que tenho adificulda<strong>de</strong> das assinaturas e doapoio financeiro. Caso não passe àsegunda volta, ou não haja umasegunda volta, não <strong>de</strong>sisto a favor<strong>de</strong> ninguém, porque não sou possuidordos votos das pessoas quevotaram em mim.Os resultados das sondagensnão vieram abalar a sua confiança?As sondagens dão-me uma intenção<strong>de</strong> voto <strong>de</strong> oito a 14%. É extremamentedignificante e motivadorpartir com esse nível, quando osoutros candidatos estão em campanhapermanente há vários anos,nas suas funções. Eu separo as águas.O que pensa do clima <strong>de</strong> suspeiçãoque envolve Sócrates, na“Avizinha-se para 2030uma crise alimentar terrível”sequência <strong>de</strong> processos como oFreeport ou o Face Oculta?É um caso <strong>de</strong> pura consciênciaindividual. Se a pessoa estima queestá inocente, não vejo razão parase <strong>de</strong>mitir. Até hoje não foram apresentadasprovas.Acredita no funcionamentoda Justiça?O que passa para a opinião públicaé que a Justiça não funciona etem dois pesos e duas medidas: paraquem tem po<strong>de</strong>r e fortuna e parao comum dos cidadãos. Se <strong>de</strong>struirmoso pilar da Justiça, os pilaresdo Estado e da <strong>de</strong>mocracia ruem.O maior <strong>de</strong>safio é salvaguardar anossa <strong>de</strong>mocracia. Uma situação<strong>de</strong> extrema conflituosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><strong>de</strong>semprego crescente e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperançadas pessoas, po<strong>de</strong> abrirfacilmente caminho a um qualquer<strong>de</strong>magogo populista.O Governo tem condições <strong>de</strong>se manter em funções até ao fimdo mandato?O Governo governará até às próximaseleições. Estamos numa situaçãofinanceira extremamente <strong>de</strong>licada.O País não precisa <strong>de</strong> crisesartificiais, só por calculismos políticos.A Nação não enten<strong>de</strong>ria. ■agricultura. Já importamos perto <strong>de</strong> 70% do queconsumimos. É gravíssimo. Estamos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntesdo mercado internacional, que vai ficar estrangulado,porque vai ser procurado por muita e muitagente. Por países po<strong>de</strong>rosos. Não é por acaso que opreço dos produtos alimentares tem subido e temhavido especulação.É possível reverter essa situação?Sim, mas há lobbies po<strong>de</strong>rosíssimos a tentar <strong>de</strong>sacreditartudo isso. Faça-se o que se fizer hoje, os efeitospara os próximos 20 a 25 anos são irreversíveis.O que fizermos agora é para impedir o agravamento,nomeadamente o aumento da temperatura global,que já subiu mais um grau, e que se está a perspectivarque possa atingir uma margem <strong>de</strong> seis grausaté ao final do século. É um apocalipse total. Temos<strong>de</strong> actuar já. Cada dia que passa estamos a agravaros nossos problemas e a enxotá-los para as próximasgerações, porque não temos a coragem e <strong>de</strong>terminação<strong>de</strong> os enfrentar e resolver. ■Perguntas dos outros“Temos<strong>de</strong> criar causasnacionais”Luciano <strong>de</strong> almeida,docente do ensino superiore investigadorParece ser cada vez mais clarae notória a incapacida<strong>de</strong>política para enfrentar osreais problemas com que oPaís se confronta. Acabámos<strong>de</strong> sair <strong>de</strong> um período eleitorallongo e o discurso políticoparece ser já <strong>de</strong> pré-campanha,em que os reaisproblemas estão afastados.Como pensa que um Presi<strong>de</strong>nteda República <strong>de</strong>veactuar em momentos tão gravescomo este?Em situações complexas comoesta há que sensibilizar os trêspilares da Nação: do Estado, domercado e da cidadania. Estamosnum período em que é necessáriaa conjugação <strong>de</strong> todas as forçasnacionais. Temos <strong>de</strong> criar causasnacionais, bem explicadas,sobre as quais todos nos possamosempolgar. Um Presi<strong>de</strong>nte daRepública <strong>de</strong>ve impedir que nascampanhas se discutam quezíliase pequenos factos irrelevantespara o País e que nos concentremosexactamente nas questõesque interessam aos portugueses,o que está a acontecer com o<strong>de</strong>semprego, com a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Portugalno que diz respeito ao créditointernacional. O que é queestamos a fazer para termos um<strong>de</strong>senvolvimento integrado maisequitativo no nosso território? Aprivatização dos CTT, por exemplo,po<strong>de</strong> levar à <strong>de</strong>sertificação<strong>de</strong> mais al<strong>de</strong>ias do interior, o queé péssimo. O Presi<strong>de</strong>nte da República<strong>de</strong>ve falar aos cidadãos. Éo representante da Nação.Helena Vasconcelos,médicaQual a motivação do cidadão emédico Fernando Nobre comuma carreira feita, prestígionacional e internacional parase candidatar e se expor ao que<strong>de</strong> mal há na política? Está preparadopara o insulto a calúnia?Tomei esta <strong>de</strong>cisão, difícil e solitária,por imperativo <strong>de</strong> consciência.Podia ter continuadomais <strong>de</strong>z anos a fazer aquilo quefaço há 31. Com toda a humilda<strong>de</strong>,sei que sou o melhor emPortugal a nível humanitário.Não tenho lições a receber <strong>de</strong>ninguém, nem no País nem noMundo. Sou português. Entendique no momento presente emque o Estado está, pelo meu percurso<strong>de</strong> vida e pelo que sou,tenho algo para oferecer ao País.Não sabia era a dimensão dadificulda<strong>de</strong>, dos insultos, da rasteirice,da baixa política, dos faitdivers. Ousei pensar que podíamosconcorrer lealmente e <strong>de</strong>bateras i<strong>de</strong>ias e os valores <strong>de</strong> cadaum. Da minha boca não vai sairnenhum insulto. ■

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