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4 |8 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2010| SOCIEDADE | JORNAL DE LEIRIA |Venda <strong>de</strong> psicofármacos disparou 36.6% entre 2003 e 2008Demasiada pressão no empregoagrava saú<strong>de</strong> mentalNão será o único motivo, mas o excesso <strong>de</strong> pressão no trabalho está a contribuir para o aumento dasperturbações do foro psiquiátrico na população portuguesa. Trabalhadores ou empresários, são cadavez mais os que recorrem a comprimidos para acalmar. A crise e o <strong>de</strong>semprego fazem crescer os níveis<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e o consumo <strong>de</strong> psicofármacos, cujas vendas aumentaram 36.6% entre 2003 e 2008Textos: Raquel <strong>de</strong> Sousa Silva Fotos: Ricardo Graça“O stress das socieda<strong>de</strong>s contemporâneas<strong>de</strong>riva <strong>de</strong> uma coisaao mesmo tempo boa e má: aambição.” Maria Filomena Mónicaconsi<strong>de</strong>ra que a dose certa <strong>de</strong>stress po<strong>de</strong> ser benéfica e que,pelo contrário, o stress que “paralisa”é sempre “negativo”. A sociólogareconhece que a vida mo<strong>de</strong>rna“é mais competitiva” do quea <strong>de</strong> gerações anteriores, nomeadamenteporque as pessoas ambicionamatingir <strong>de</strong>terminados patamaresna vida. “E isso po<strong>de</strong> criaruma enorme angústia.”A crise e o <strong>de</strong>semprego, porum lado, ou o excesso <strong>de</strong> trabalhoe a pressão, por outro, estãoa <strong>de</strong>ixar cada vez mais pessoas àbeira <strong>de</strong> um ataque <strong>de</strong> nervos. Deacordo com os resultados do primeiroestudo nacional sobre saú<strong>de</strong>mental, no último ano um emcada cinco portugueses sofreu <strong>de</strong>uma doença psiquiátrica. As perturbaçõesmais comuns são a<strong>de</strong>pressão (19,3%) e a ansieda<strong>de</strong>(16,5%), revela o jornal i. Entre2003 e 2008, as vendas <strong>de</strong> psicofármacosdispararam 36.6%.A <strong>de</strong>pressão é, aliás, uma dasprincipais causas <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong>.É um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mastambém económico e social. Oscustos directos e indirectos, emespecial do absentismo que provoca,<strong>de</strong>verão rondar os dois milmilhões <strong>de</strong> euros anuais, segundoo jornal i.“As socieda<strong>de</strong>s mais produtivasagri<strong>de</strong>m. Os mais vulneráveisficam aflitos”, aponta o psiquiatraJosé Miguel Caldas <strong>de</strong> Almeida,coor<strong>de</strong>nador nacional para asaú<strong>de</strong> mental, citado por aquelediário. A culpa não po<strong>de</strong> ser atribuídaao individuo nem à socieda<strong>de</strong>.“É o preço a pagar pela exigência<strong>de</strong> maior produtivida<strong>de</strong>.O preço das socieda<strong>de</strong>s mais tranquilasé que não progri<strong>de</strong>m tantoeconomicamente”, acrescenta.O preço po<strong>de</strong>, no entanto, ser<strong>de</strong>masiado alto, como aconteceuna France Télécom. No espaço <strong>de</strong>18 meses – período que coincidiucom o plano <strong>de</strong> reestruturaçãoda empresa - 24 trabalhadoressuicidaram-se. Uma “mensagembrutal” dirigida à empresa, aoscolegas, aos chefes e à comunida<strong>de</strong>,aponta Christophe Dejoursem entrevista ao Público.O psiquiatra, que dirige o Laboratório<strong>de</strong> Psicologia do Trabalhoe da Acção (uma das poucasequipas no mundo que estuda arelação entre trabalho e doençamental), acrescenta que a introdução<strong>de</strong> novos métodos <strong>de</strong> organizaçãodo trabalho e a avaliaçãoindividual do <strong>de</strong>sempenhoresultaram em mudanças profundasno seio das empresas, muitasdas quais geram medo e levama situações <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> que porvezes têm <strong>de</strong>sfechos dramáticos.DORMIR E SONHAR...COM O TRABALHO“Hoje ninguém tem certeza <strong>de</strong>coisa nenhuma.” Com esta afirmaçãoCarlos Faria, empresário<strong>de</strong> Alcobaça, reconhece que ostress que sente, enquanto lí<strong>de</strong>r<strong>de</strong> uma empresa, acaba por passartambém para os trabalhadores,que “conhecem todas as pressõesa que estamos sujeitos”. Faceà necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concorrer compaíses <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra mais barata,“é preciso rentabilizar <strong>de</strong> formadiferente os recursos”.Nestes incluem-se os trabalhadores,que muitas vezes têm<strong>de</strong> fazer mais pelo mesmo or<strong>de</strong>nado.O que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>smotivar ecriar ansieda<strong>de</strong>, garantiu o conferencistaDaniel Pink ao DiárioEconómico. Se as pessoas nãorecebem o suficiente ou não estãoa ser <strong>de</strong>vidamente compensadase <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> conseguir sustentara sua família, não se irá conseguirqualquer motivação.”Desmotivada, stressada e cansadaé como se sente muitas vezesM. S., que tem funções <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>num espaço comercialdo distrito. “A responsabilida<strong>de</strong>e a pressão são muitas, parachegar ao fim do mês com poucomais <strong>de</strong> 500 euros”, refere. “Todasas noites penso no trabalho, atésonho com isso, não consigo <strong>de</strong>scansar<strong>de</strong>vidamente”, lamenta. Afalta <strong>de</strong> pessoal será uma das razõespara o excesso <strong>de</strong> trabalho querecai sobre si e os colegas. “Somospau para toda a obra. Até o pessoaldo escritório tem <strong>de</strong> dar apoionas caixas”, aponta.Para Aurora Teixeira, muitosdos problemas existentes nasempresas <strong>de</strong>vem-se à má organizaçãodo trabalho. “Somos relativamentefracos a organizar otrabalho”, lamenta a investigadora,explicando que uma melhoriaa este nível “po<strong>de</strong>ria evitarpressões excessivas para os trabalhadores”.Por outro lado, há atendência <strong>de</strong> cair em extremos:“ou não se exige nada, o que émau, ou espera-se que as pessoassejam super-homens/mulheres”,acrescenta. Aurora Teixeira lembraque “não é sustentável quesejam sempre os mesmos a trabalhar<strong>de</strong>mais” e que os <strong>de</strong>sequilíbriosprovocados por estasituação terão, mais cedo ou maistar<strong>de</strong>, impactos nas organizações.“Hoje vivemos uma crise económicaque, associada a uma crise<strong>de</strong> valores, tem vindo a transtornara mente humana, o bomfuncionamento das empresas e o<strong>de</strong>sempenho dos trabalhadores”,aponta por sua vez ao jornal iHelena Ferreira, da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Psicologia e Ciências da Educaçãoda Universida<strong>de</strong> do Porto.“Quase já não existe envolvimentodos indivíduos no seuambiente <strong>de</strong> trabalho, apoio mútuo,espontaneida<strong>de</strong> e expressão livreentre os trabalhadores”, acrescenta.Tendo em conta que passamosgran<strong>de</strong> parte da nossa vida noemprego e que o trabalho “temum papel muito importante nasrelações pessoais, na satisfação ena subsistência”, situações <strong>de</strong><strong>de</strong>semprego ou <strong>de</strong> mal-estar notrabalho “levam a maiores perturbaçõespsiquiátricas”, garanteCaldas <strong>de</strong> Almeida. ■

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