9 - Redetec
9 - Redetec
9 - Redetec
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
258 — INFORMAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO<br />
Entretanto, após ter, sobretudo nos anos 1970 e 1980, dado mostras<br />
de estar disposta a ocupar uma nova e mais criativa posição na divisão<br />
internacional do trabalho (do que foram fortes evidências as nossas importantes<br />
iniciativas em indústrias tais como informática, telecomunicações,<br />
aeroespacial, nuclear etc., e alguns ousados dispositivos, hoje já<br />
anulados, da Constituição de 1988), a sociedade brasileira, ao longo desta<br />
última década do século, parece ter optado, em definitivo, por conformar-se<br />
a disputar o trabalho relativamente redundante — conforme disponível<br />
nos primeiro e segundo “grupos periféricos” de Harvey (ver Figura<br />
9.4) — que as corporações-redes se dispõem a distribuir à volta do<br />
mundo. Examinar as razões dessa involução escapa em muito aos objetivos<br />
e dimensões deste capítulo. Mas dentre elas, deixaremos apenas sugerido,<br />
na ausência de estudos teóricos e empíricos mais consistentes,<br />
que a industrialização brasileira e a de muitos outros países ditos “retardatários”,<br />
inclusive os “socialistas”, acreditou em um modelo de desenvolvimento<br />
industrial e, daí, econômico e social geral, que dava particular<br />
relevo ao investimento e ao controle nacional sobre as indústrias<br />
transformadoras intermediárias. Vimos que os centros mais dinâmicos<br />
do capitalismo expandiram-se produzindo — ou melhor, inventando —<br />
consumo. A produção material simbólica começou junto com o nascimento,<br />
nos Estados Unidos e em alguns outros poucos países europeus,<br />
das indústrias automobilística, eletrodoméstica, radiofônica, fonográfica,<br />
cinematográfica etc., indústrias que mudaram os modos de vida de amplos<br />
segmentos das classes médias urbanas em todo o mundo capitalista<br />
avançado e nas suas periferias mais integradas, ao mesmo tempo em que<br />
impulsionavam a circulação enquanto força produtiva social. As<br />
corporações-redes que hoje comandam a nova etapa de acumulação nasceram<br />
e se consolidaram nessa fase dita “fordista” — ou burocrática —<br />
do capitalismo.<br />
No Brasil, enquanto isto, construímos grandes e eficientes empresas<br />
mineradoras, de bens de capital, de telecomunicações, de energia etc.,<br />
mas — ao contrário, por exemplo, dos coreanos — deixamos a produção<br />
do consumo, e de toda a cultura que a cerca, nas mãos das subsidiárias<br />
industriais estrangeiras. Hoje, o nosso país não sedia nenhuma corporaçãorede<br />
de porte global, não está presente no mundo através de qualquer<br />
marca brasileira importante, embora possua algumas empresas, como a<br />
Vale do Rio Doce ou a Petrobrás, que operam internacionalmente e situam-se<br />
entre as maiores em seus respectivos ramos de negócios. Mas<br />
não são elas que ditam os rumos da História. Que efeitos isto teve e terá<br />
sobre a nossa evolução futura? É um tema para se meditar.