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consenso brasileiro de caquexia - Nutritotal

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24 2011Consenso Brasileiro <strong>de</strong> Caquexia / AnorexiaConsenso Brasileiro <strong>de</strong> Caquexia / Anorexia201125Suplemento 1Suplemento 1Medidas DietéticasNo câncer avançado, os objetivos da intervençãonutricional têm como ênfase promoção da qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida e alívio dos sintomas do paciente. Especialmenteneste caso, o plano <strong>de</strong> cuidado nutricional proposto<strong>de</strong>ve envolver a discussão ética entre os profissionais, opaciente e sua família (Eberhardie, 2002; Strasser & Bruera2002, Fearon et al., 2011). Nessa etapa, é importanteconhecer as preferências e os hábitos alimentares dopaciente a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver estratégias que favoreçammanutenção ou melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (Schwerin etal., 1982; Feuz & Rapin, 1994; Pettey et al., 1998; Pereira,2008; Murray, 2009). A prescrição médica <strong>de</strong> dieta viaoral para conforto po<strong>de</strong> ser uma estratégia utilizada. Asalterações no paladar e olfato, frequentemente presentesem pacientes com <strong>caquexia</strong> e câncer avançado, limitam oconsumo alimentar via oral. O controle <strong>de</strong>sses sintomas,bem como da sacieda<strong>de</strong> precoce e do funcionamentointestinal, tornam-se importantes para favorecer aaceitação alimentar (Fearon et al., 2011).Estratégias são úteis neste sentido e incluem a oferta<strong>de</strong> refeições menores e mais frequentes ao longo do dia(Pereira, 2008; Murray, 2009), incentivo para alimentaçãoem ambiente agradável e, em especial, boa apresentação darefeição. Além disso, é necessário evitar o isolamento dospacientes durante as suas refeições e tornar esse momentouma ocasião social (Murray, 2009; Stewart et al., 2006).Incluem-se também nas recomendações paramanejo da <strong>caquexia</strong> evitar agredir o paladar/odor, evitarrefeições <strong>de</strong> alto conteúdo <strong>de</strong> gordura, que atrasa oesvaziamento gástrico, sendo percebida como sacieda<strong>de</strong>precoce (Stewart et al., 2006).Em estudo transversal prospectivo realizado com 151pacientes com câncer avançado em programa <strong>de</strong> cuidadospaliativos observou-se relação entre freqüência dasrefeições e consumo energético total (Hutton et al., 2006).No grupo com fracionamento <strong>de</strong> seis refeições ao dia, commédia <strong>de</strong> consumo energético <strong>de</strong> 30,5 kcal/kg/dia, tambémse observou redução <strong>de</strong> peso, indicando a dificulda<strong>de</strong> emgarantir manutenção do peso em pacientes com síndromeda anorexia-<strong>caquexia</strong> e a necessida<strong>de</strong> do consumo emtorno <strong>de</strong> 34 kcal/kg/dia para estes pacientes (Lundholmet al., 2004, Hutton et al., 2006).A manutenção da ingestão energética é essencialpara a sobrevida e é importante para qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<strong>de</strong> pacientes com <strong>caquexia</strong> em cuidados paliativos(Morley, 2009). Em 50 pacientes com câncer avançado<strong>de</strong> pâncreas houve maior sobrevida nos doentes queapresentaram maior consumo energético quandocomparados aos pacientes com baixo consumoenergético (Okusaka et al., 1998).Existe relação positiva e significante entre <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>energética e consumo energético em 259 pacientescom câncer em cuidados paliativos. A maioria <strong>de</strong>les(66%) teve perda <strong>de</strong> peso > 5% nos últimos 6 meses(Wallengren et al., 2005).Para favorecer a aceitação alimentar e aumentar a ofertaenergética por via oral, uma boa opção é a oferta <strong>de</strong> bebidas<strong>de</strong> maior valor energético que contenham varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>proteínas e incluam produtos lácteos, sorvetes, frutas esucos (Murray, 2009 ; Stewart et al., 2006).A terapia nutricional oral também po<strong>de</strong> ser útil com aoferta <strong>de</strong> complementos alimentares calórico-protéicoscom <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,5 kcal/mL, evitando que os mesmossubstituam as refeições. Um modo <strong>de</strong> aperfeiçoar aoferta nutricional <strong>de</strong> complemento alimentar é fixarsuas doses em horários regulares, com volume entre200 e 400 mL diariamente para fornecer em torno<strong>de</strong> 300 a 600 kcal (Stewart et al., 2006). É necessárioi<strong>de</strong>ntificar precocemente a <strong>caquexia</strong> e implantarmedidas profiláticas mais efetivas que as tentativas <strong>de</strong>reversão do quadro avançado.A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> iniciar uma terapia nutricional empacientes com câncer avançado <strong>de</strong>ve incluir consi<strong>de</strong>raçõesdo paciente e <strong>de</strong> sua família, a sobrevida estimada dopaciente e seus potenciais riscos e benefícios, segundo adiretriz da American Society for Parenteral and EnteralNutrition (ASPEN) (August et al., 2009).Terapia nutricionalA indicação <strong>de</strong> terapia nutricional para pacientescom câncer avançado ainda é controversa (Strasser &Bruera, 2002, August et al., 2009). O uso <strong>de</strong> complementoalimentar por via oral ou utilização da via enteral ouparenteral <strong>de</strong>vem ser muito bem pensadas e discutidasindividualmente (Ferrel & Coyle, 2001).Segundo diretrizes da ASPEN, o uso paliativo da terapianutricional em pacientes com câncer em fase terminaltorna-se raramente indicado (grau <strong>de</strong> evidência B) (Augustet al., 2009). Em situações on<strong>de</strong> o paciente apresenta boaPerformance Status (Estado <strong>de</strong> Desempenho), o crescimentodo tumor é limitado e a principal causa da <strong>caquexia</strong>é o reduzido consumo alimentar, existe justificativapara utilização <strong>de</strong> Terapia Nutricional. É imprescindívelbalancear os benefícios da terapia nutricional no controledos sintomas e na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente com osproblemas relacionados à terapia nutricional artificial,especialmente se por via parenteral, que po<strong>de</strong> incluir maiortempo <strong>de</strong> hospitalização e complicações do acesso venosocentral (Stewart et al., 2006).Quando indicada, a primeira e melhor opção é a TerapiaNutricional Oral (TNO) com a utilização <strong>de</strong> complementosnutricionais associado ao aconselhamento nutricional.A Terapia Nutricional Enteral (TNE) po<strong>de</strong> ser útil empacientes que apresentam ingestão menor que 60% das suasrecomendações energéticas em 5 dias, sem perspectiva <strong>de</strong>evolução (BRASIL, 2009) ou na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar avia oral, com o trato gastrointestinal funcionante, no sentido<strong>de</strong> preservar a integrida<strong>de</strong> intestinal, reduzir a privaçãonutricional, minimizar déficits nutricionais, controlarsintomas, oferecer conforto e melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida <strong>de</strong>sses pacientes (Bozzetti, 2001; Rosenfeld, 2006). Aindicação é o uso <strong>de</strong> uma fórmula padrão polimérica (grauC <strong>de</strong> recomendação da ESPEN) (Arends et al., 2006). Naimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> TNE, a indicação da Terapia NutricionalParenteral (TNP) po<strong>de</strong> ser avaliada.Embora possam ocorrer eventos adversos causados ​pela nutrição parenteral, em pacientes cuidadosamenteselecionados, observa-se sobrevida prolongada emelhora da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (August et al. 2009). Em65 pacientes com câncer <strong>de</strong> pâncreas inoperável, estádioIV, que utilizaram nutrição parenteral domiciliar por18 semanas verificou-se melhora no estado nutricional(Pelzer et al., 2010).Segundo a European Society for Parenteral and EnteralNutrition (ESPEN) não há evidências <strong>de</strong> que a nutriçãoparenteral melhore a anorexia ou astenia presente empacientes em cuidados paliativos (Bozzetti et al., 2009).Neste sentido, ambas as diretrizes da ASPEN 2009 e ADA2002 recomendam que a nutrição parenteral <strong>de</strong>ve serusada seletivamente e com cautela em doentes comcâncer avançado em cuidados paliativos.Exemplos <strong>de</strong> pacientes que <strong>de</strong>monstram respostafavorável a nutrição parenteral inclui aqueles com boaperformance status (estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho), como Índice<strong>de</strong> Karnofsky (KPS) > 50, aqueles com obstrução intestinalinoperável, com sintomas mínimos envolvendo osprincipais órgãos, como cérebro, fígado e pulmões e comprogressão indolente da doença (August et al. 2009).Abaixo segue algoritmo da via <strong>de</strong> alimentação parapacientes em cuidados paliativos, sugeridos por Can<strong>de</strong>laet al. (2006):O estágio <strong>de</strong> <strong>caquexia</strong> em que o paciente se encontra<strong>de</strong>ve ser avaliado e <strong>de</strong>finido antes <strong>de</strong> se instituir a terapianutricional (Bozzetti & Mariani, 2009).Existem evidências, apontadas por estudos controladose randomizados, dos benefícios da terapia nutricional <strong>de</strong>médio e longo prazo em pacientes com pré-<strong>caquexia</strong>(Persson et al., 2002; Isering et al., 2004; Ravasco et al.,2002; Ravasco et al., 2005) . Os dados sugerem que paraeste grupo <strong>de</strong> pacientes a terapia nutricional oral sejasuficiente para obtenção <strong>de</strong> resultados positivos.No entanto, na <strong>caquexia</strong> refratária os riscos <strong>de</strong>uma terapia nutricional artificial superam qualquerpotencial benefício. Assim, nessa fase tem-se comofoco o alívio <strong>de</strong> conseqüências e complicações da<strong>caquexia</strong>, que inclui o estímulo ao apetite, o controle<strong>de</strong> sintomas e do estresse do paciente ou familiarrelacionado à alimentação (Fearon et al., 2011).De acordo com o <strong>consenso</strong> atual sobre <strong>de</strong>finição da<strong>caquexia</strong>, a síndrome caracterizada pela perda <strong>de</strong> massamuscular não po<strong>de</strong> ser completamente revertida pelaterapia nutricional convencional (Fearon et al., 2011).Alguns estudos apontaram que o benefício da intervençãonutricional em pacientes com <strong>caquexia</strong> em câncer pareceser limitado à <strong>de</strong>saceleração da perda <strong>de</strong> peso, semrestabelecimento do estado nutricional (Bozzetti, 1989).Neste sentido, torna-se necessário que o paciente e seucuidador/familiar tenham ciência da condição <strong>de</strong> redução<strong>de</strong> peso involuntária e frequentemente irreversível,consequentes do quadro <strong>de</strong> <strong>caquexia</strong> (Bozzetti, 2009).Ácidos graxos ômega-3E n t r e o s á c i d o s g r a x o s ô m e g a - 3 , á c i d oeicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA)estão relacionados a redução da produção <strong>de</strong> citocinasinflamatórias e da anorexia associadas a diversas doençascrônicas (Meydani, 1996), incluindo o câncer.Os efeitos dos AGs n-3 favorecem a síntese dasprostaglandinas série 3 e leucotrienos da série 5,relacionados a imunocompetência e redução daresposta inflamatória, associado ao seu papel nainibição da COX-2 e sua ação na redução <strong>de</strong> citocinaspró-inflamatórias envolvidas na síndrome <strong>de</strong> <strong>caquexia</strong>do câncer (August et al., 2009).Os ácidos graxos ômega-3, especialmente o EPAparece afetar um número <strong>de</strong> mediadores potenciais da<strong>caquexia</strong> (Barber, 2001), e exercer um possível efeitobenéfico na <strong>caquexia</strong> induzida pelo câncer, apesar <strong>de</strong>ainda controverso (Arends et al., 2006).Existem estudos com utilização <strong>de</strong> complementosalimentares enriquecidos <strong>de</strong> óleos <strong>de</strong> origem marinhacontendo EPA e DHA e cápsulas com óleos <strong>de</strong> peixecontendo EPA e DHA ou EPA e DHA purificado.Em 18 pacientes que receberam complementoalimentar contendo 2 g <strong>de</strong> EPA e 1 g <strong>de</strong> DHA/ diadurante 3 semanas verificou-se que a combinação <strong>de</strong>suplementos poliméricos com 2 g <strong>de</strong> EPA e 1 g <strong>de</strong> DHApo<strong>de</strong>m prevenir a progressão da resposta <strong>de</strong> proteína<strong>de</strong> fase aguda em pacientes com câncer avançado eprogressiva redução <strong>de</strong> peso, comparado ao grupocontrole (Barber et al., 1999a).Em outro ensaio clínico, 20 pacientes coma<strong>de</strong>nocarcinoma pancreático irressecável foram orientadosa consumir dois frascos <strong>de</strong> complemento alimentarenriquecido com óleo <strong>de</strong> peixe/dia, correspon<strong>de</strong>ndo a2g <strong>de</strong> EPA em 600 kcal por dia, em adição a uma dietanormal. Verificou-se manutenção da gordura corporal,aumento da massa magra, aumentou significativo doKPS e do apetite, estabilida<strong>de</strong> das proteínas <strong>de</strong> fase agudae redução significante <strong>de</strong> interleucina-6 (IL-6) nestespacientes (Barber et al., 1999b).Revisão <strong>de</strong> estudos clínicos, que envolveram autilização <strong>de</strong> complemento alimentar enriquecido <strong>de</strong>EPA 2 g em 600 kcal por dia e <strong>de</strong> estudos que utilizaramcápsulas <strong>de</strong> 3g <strong>de</strong> EPA por dia, 6g <strong>de</strong> EPA por dia ou 2,2g <strong>de</strong> EPA e 1,4g <strong>de</strong> DHA por dia, sugere aumento <strong>de</strong>massa magra no grupo <strong>de</strong> pacientes que utilizaram ocomplemento alimentar enriquecido <strong>de</strong> óleo <strong>de</strong> peixeem relação à manutenção do peso em pacientes querecebem óleo <strong>de</strong> peixe ou EPA e DHA isolados. Isto po<strong>de</strong>sugerir a utilização do óleo <strong>de</strong> peixe como componentedo complemento alimentar para mediar a <strong>caquexia</strong> eo estado metabólico, e possivelmente permitir que ofornecimento <strong>de</strong> nutrientes adicionais do complementoalimentar produzisse efeitos anabólicos em pacientescom câncer <strong>de</strong> pâncreas avançado (Barber, 2001).Em outra revisão, sistemática, envolvendo 17 estudoscontrolados randomizados e observacionais prospectivosem pacientes com câncer avançado <strong>de</strong> pâncreas e do tratogastrointestinal alto com expectativa <strong>de</strong> vida maior quedois meses, avaliou a indicação da utilização dos ácidosgraxos ômega-3 (AGs n-3). Observou-se aumento do pesoe apetite, melhora da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, sugerindo-sea dose <strong>de</strong> pelo menos 1,5 g/dia da combinação atual <strong>de</strong>EPA e DHA (grau <strong>de</strong> evidência B). Nesta revisão sugere-semelhores resultados e tolerância com a utilização dos AGsn-3 como parte <strong>de</strong> uma fórmula nutricional com baixo teor<strong>de</strong> gordura e por um período <strong>de</strong> pelo menos 8 semanas <strong>de</strong>tratamento, grau <strong>de</strong> evidência C (Colomer et al., 2007)Estudos <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong> usaram razão <strong>de</strong> 2:1<strong>de</strong> EPA e DHA (Kenler et al., 1996; Fearon et al., 2003;Burns et al., 2004; Jatoi et al., 2004), porém outrosestudos utilizaram somente o EPA apontando resultadospositivos (Wigmore et al.1996; Gogos et al., 1998;Zuijdgeest-Van Leeuwen et al. 2000).Ensaio clínico randomizado fase III que avalioucinco diferentes tratamentos para <strong>caquexia</strong> do câncerR e v i s t a B r a s i l e i r a d e C u i d a d o s P a l i a t i v o s 2 0 1 1 ; 3 ( 3 ) - S u p l e m e n t o 1R e v i s t a B r a s i l e i r a d e C u i d a d o s P a l i a t i v o s 2 0 1 1 ; 3 ( 3 ) - S u p l e m e n t o 1

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