Câmara Municipal <strong>de</strong> São Paulo:<strong>450</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> históriaSão Paulo e o impactoda <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouroAnotícia da <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro gerou uma gran<strong>de</strong> corrida em busca <strong>do</strong> minério,movimentan<strong>do</strong> pessoas <strong>de</strong> Portugal e <strong>de</strong> todas as partes da colônia. Surgiramtensões por causa da oposição <strong>do</strong>s mineiros antigos aos “forasteiros”. Os primeiros,geralmente, eram paulistas que encontraram as primeiras minas. O segun<strong>do</strong> grupo era forma<strong>do</strong>por pessoas <strong>de</strong> outras regiões, mesmo <strong>de</strong> Portugal. Existiam disputas por terras e por funções administrativas,embora estas ainda fossem escassas. Além disso, havia mal-estar entre comerciantes,quase sempre “forasteiros”, e os proprietários <strong>de</strong> terra, paulistas na maioria.A Câmara <strong>de</strong> São Paulo já havia solicita<strong>do</strong>, em abril <strong>de</strong> 1700, a restrição das datas <strong>de</strong> terras aforasteiros, mas não foi atendida. Essa situação resultou na chamada Guerra <strong>do</strong>s Emboabas, conflitosentre paulistas e forasteiros, chama<strong>do</strong>s pelos paulistas <strong>de</strong> emboabas. Alguns autores traduzem apalavra a partir <strong>do</strong> tupi como “mão peluda”, <strong>de</strong> mbo (mão) e aba (pelo). Seria uma forma <strong>de</strong> associaras luvas <strong>de</strong> peles <strong>de</strong> animais usadas pelos portugueses. Para outros, o significa<strong>do</strong> seria “aves pernal-47
São Paulo e o impacto da <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ourotas”, referência ao hábito <strong>do</strong>s forasteiros usarem botas. De qualquer mo<strong>do</strong>, não há certeza sobre osignifica<strong>do</strong> exato.Os paulistas consi<strong>de</strong>ravam injusta a chegada <strong>de</strong> tantas pessoas na região aurífera, já quehaviam feito gran<strong>de</strong> esforço para encontrar o minério. Em reunião da Câmara registrada em 15 <strong>de</strong>fevereiro <strong>de</strong> 1709:[...] requereu o procura<strong>do</strong>r José <strong>de</strong> Barros Bicu<strong>do</strong> aos seus oficiais que, visto o levantamento<strong>do</strong>s forasteiros nas Minas, sen<strong>do</strong> nossa a conquista, e ser prejuízo e se<strong>de</strong>sencaminharem os reais quintos <strong>de</strong> Sua Majesta<strong>de</strong> que Deus guar<strong>de</strong>, se buscasse ummeio mais conveniente para a paz e concórdia, sem alterações, porque o sobreditosenhor se daria por mal servi<strong>do</strong>. (SILVA, M. 2009, p. 99).48Os reais quintos se referem a um tipo <strong>de</strong> imposto <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.A Guerra <strong>do</strong>s Emboabas teve vários episódios, com mortos <strong>de</strong> ambos os la<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> 1707 a1709. Os conflitos acabaram sem que houvesse um vence<strong>do</strong>r. Entretanto, as autorida<strong>de</strong>s portuguesasreconheceram que precisariam ter mais controle sobre as minas, o que, <strong>de</strong> certa maneira, favoreceuos emboabas, que tiveram o acesso à região facilita<strong>do</strong>.Muitos autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que São Paulo entrou numa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência nesseperío<strong>do</strong>, pois teria aconteci<strong>do</strong> um esvaziamento populacional com a <strong>de</strong>scoberta das minas. Entretanto,pesquisas recentes, como apontadas por M. Silva (2009, p. 101), revelam o crescimento populacional,o que estaria liga<strong>do</strong> a uma economia dinâmica.São Paulo se tornou um polo <strong>de</strong> abastecimento interno, articulan<strong>do</strong>-se com as <strong>de</strong>mais capitanias.No entanto, aumentou a concentração <strong>de</strong> terras e <strong>de</strong> escravos nas mãos <strong>de</strong> um grupo privilegia<strong>do</strong>,que controlava o po<strong>de</strong>r local da Câmara Municipal. Essa elite ostentava o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> nobreza, ou