<strong>Agenda</strong> Elétrica Sustentável <strong>2020</strong>recursos naturais. Para este cenário, assume-se também que exista uma escolha <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s ebiomassa que não exijam irrigação adicional nem solos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que possam competir comoutros tipos <strong>de</strong> agricultura. Estima-se que, para o <strong>Brasil</strong> aten<strong>de</strong>r a futura <strong>de</strong>manda mundial por etanolem 2025 (para substituir 10% da <strong>de</strong>manda por gasolina), seriam necessários 35 milhões <strong>de</strong> hectares<strong>de</strong> novos canaviais, cuja expansão se daria sem substituição <strong>de</strong> culturas, sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>irrigação, apenas utilizando a disponibilida<strong>de</strong> existente <strong>de</strong> terras segundo critérios do <strong>estudo</strong> elaboradopelo Núcleo Interdisciplinar <strong>de</strong> Planejamento Energético da Unicamp (NIPE, 2005). Dessa forma,a expansão da área cultivada <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar no cenário Elétrico Sustentável correspon<strong>de</strong>ria amenos <strong>de</strong> 10% da expansão da área plantada do <strong>estudo</strong> mencionado.Porém, para permitir o aproveitamento <strong>de</strong> todo potencial existente e do potencial futuro <strong>de</strong> energia<strong>de</strong> biomassa <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar, é necessária uma estratégia baseada em três medidas.Primeiro, os critérios <strong>de</strong> valorização praticados no âmbito dos leilões <strong>de</strong> energia nova, inclusiveo ICB - Índice <strong>de</strong> Custo Benefício e o CEC - Custo Econômico <strong>de</strong> Curto Prazo, <strong>de</strong>veriam tervalores pré-estabelecidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma faixa móvel com teto e piso, assegurando a rentabilida<strong>de</strong>dos investimentos. Segundo: consi<strong>de</strong>rando que a bioeletricida<strong>de</strong> da cana-<strong>de</strong>-açúcar tem consumopróprio, a legislação do <strong>de</strong>sconto da tarifa do uso do fio, atualmente <strong>de</strong>terminada em 30MW <strong>de</strong> potência instalada, <strong>de</strong>veria consi<strong>de</strong>rar potência disponibilizada para venda e não potênciainstalada, aumentando para 50 MW. Terceiro: <strong>de</strong>ve-se aprovar a complementarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssafonte que é sazonal e complementar a hidreletricida<strong>de</strong> no caso <strong>de</strong> venda no mercado.6.2.2 • ENERGIA EÓLICAO mercado <strong>de</strong> energia eólica é o que cresce mais rápido <strong>de</strong>ntre as chamadas fontes alternativas<strong>de</strong> energia, a uma taxa média anual <strong>de</strong> 40% no mundo. A União Européia é o maiormercado para se <strong>de</strong>senvolver a energia eólica, com 75% da capacida<strong>de</strong> instalada mundial <strong>de</strong>18.5 GW, e com estimativas <strong>de</strong> crescimento da sua capacida<strong>de</strong> instalada 12 GW em 2000para 60 GW em 2010 (ECOTEC, 2002). No entanto, já em 2005 atingiu-se uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>40.5 GW, <strong>de</strong> um total mundial <strong>de</strong> 59,3 GW <strong>de</strong> acordo com GWEC (2006). Isto fez com que aUnião Européia atingisse com cinco anos <strong>de</strong> antecipação o objetivo estabelecido <strong>de</strong> aumentarsua capacida<strong>de</strong> instalada para 40 GW em 2010. Outros <strong>estudo</strong>s são ainda mais otimistascom relação ao crescimento da capacida<strong>de</strong> instalada <strong>de</strong> energia eólica no mundo, apontandoo valor <strong>de</strong> 120,6 GW até o final <strong>de</strong> 2007 (EWEA & Greenpeace, 2003).Hoje essa tecnologia está prestes a se tornar economicamente viável para competir com asfontes tradicionais <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> em países como Alemanha, Dinamarca, EUA, emais recentemente na Espanha, entre outros. Além disso, é gran<strong>de</strong> o potencial eólico a serexplorado em diversos países. Existem oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhoramentos tecnológicos, bemi<strong>de</strong>ntificados internacionalmente, que <strong>de</strong>vem levar a reduções <strong>de</strong> custo e permitem estabelecermetas bastante ambiciosas para instalação <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> geração nos próximos 30 anos.No <strong>Brasil</strong>, particularmente na região Nor<strong>de</strong>ste, a energia eólica é uma alternativa para complementara hidreletricida<strong>de</strong>, já que o período com maior regime <strong>de</strong> ventos ocorre quando hábaixa precipitação <strong>de</strong> chuvas. Além do mais, o maior potencial eólico brasileiro encontra-senessa região. A capacida<strong>de</strong> instalada nacional é <strong>de</strong> 29 MW (ANEEL, 2006) com a participação<strong>de</strong> diversos grupos nacionais, universida<strong>de</strong>s e grupos estrangeiros, especialmente da Alemanhae Dinamarca. Já existe inclusive a produção <strong>de</strong> turbinas eólicas no país.Série Técnica <strong>WWF</strong>-<strong>Brasil</strong> Volume XII44
<strong>Agenda</strong> Elétrica Sustentável <strong>2020</strong>De acordo com o Atlas do Potencial Eólico <strong>Brasil</strong>eiro (MME, 2001), consi<strong>de</strong>rando somente velocida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> vento maiores do que 7 m/s, o <strong>Brasil</strong> possui um potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong><strong>de</strong> 272 TWh/ano para uma capacida<strong>de</strong> instalável <strong>de</strong> 143,5 GW, o que ocuparia uma área <strong>de</strong>71.735 km 2 (utilizando-se <strong>de</strong> uma estimativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> média conservadora <strong>de</strong> 2 MW/km 2 ).Dessa forma, mesmo com o incremento assumido, o cenário Elétrico Sustentável utiliza somente11% do potencial <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> a partir da energia eólica.A energia eólica ainda apresenta custo <strong>de</strong> geração alto no país, havendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>incentivos para a sua maior inserção na matriz elétrica nacional. O PROINFA surgiu com essafinalida<strong>de</strong>. A sua primeira fase contratou 1.423 MW <strong>de</strong> empreendimentos eólicos inicialmenteprevistos para entrarem em operação em 2007 (Machado, 2005). No entanto, atualmente,somente cinco projetos estão em andamento, totalizando apenas 208,3 MW, segundo levantamentoda Agência Nacional <strong>de</strong> Energia Elétrica, feito no mês <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2006, com perspectivas<strong>de</strong> extensão do prazo em um ano (Canazio, 2006).Além <strong>de</strong> procurar expandir o mercado para a introdução <strong>de</strong> energia eólica, é necessário tambémmaior conhecimento e adaptações tecnológicas para o país po<strong>de</strong>r tirar maior proveito do potencial<strong>de</strong>ssa energia. As áreas mais importantes para um programa <strong>de</strong> P&D em energia eólica são:• Desenvolvimento <strong>de</strong> máquinas para situações específicas no <strong>Brasil</strong>, observando o regime<strong>de</strong> ventos e melhoria <strong>de</strong> eficiências;• Consolidação <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> potencial eólico;• Integração <strong>de</strong> parques eólicos ao sistema interligado.A experiência com o PROINFA indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instalar unida<strong>de</strong>s fabris no país paraaten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda por equipamentos e serviços, e em particular para disseminar os resultadosobtidos através dos esforços <strong>de</strong> P&D.6.2.3 • PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS (PCHS)A capacida<strong>de</strong> mundial instalada <strong>de</strong> PCHs no ano 2000 era <strong>de</strong> 23 GW, valor que cresce cerca<strong>de</strong> 2-3% ao ano, mas muito inferior ao potencial estimado <strong>de</strong> 2000 GW (CGEE, 2003). No<strong>Brasil</strong>, inventários realizados estimam um total <strong>de</strong> 7,3 GW disponíveis, além da capacida<strong>de</strong> jáinstalada que, <strong>de</strong> acordo com a ANEEL, é <strong>de</strong> 1,4 GW (ANEEL, 2006).É ainda possível reativar PCHs antigas ou promover repotenciamento daquelas existentes,adicionando cerca <strong>de</strong> 0,68 GW <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> (CGEE, 2003).O mercado nacional possui fabricantes que po<strong>de</strong>m fornecer quase a totalida<strong>de</strong> dos equipamentospara PCHs. Nas instalações acima <strong>de</strong> 5 MW, há gran<strong>de</strong>s empresas com alguma tecnologia atualmentelicenciada. Já os mercados para instalações menores que 5 MW, em geral, têm sido atendidospor inúmeras pequenas empresas totalmente nacionais. A engenharia e/ou projetos na áreacontam com profissionais e recursos mo<strong>de</strong>rnos, embora em gran<strong>de</strong> parte não sejam nacionais.São necessários ainda alguns esforços <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização tecnológica, especialmente, nas instalações<strong>de</strong> pequeno porte. É necessário resolver, também, alguns aspectos legais e técnicosSérie Técnica <strong>WWF</strong>-<strong>Brasil</strong> Volume XII45