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Processos psicossociológicos e insucesso escolar

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Depois de ter considerado os seus actores,parece-nos essencial contribuir para a clarificaçãodo próprio objecto do debate e introduzirpara isso uma distinção entre duas dimensõesdo <strong>insucesso</strong> <strong>escolar</strong> frequentemente confundidasuma com a outra. Propomo-nos distinguiro <strong>insucesso</strong> <strong>escolar</strong> na sua definição institucional(repetição de um ano, fracasso num exame deadmissão, colocação numa fileira de estudoscurtos desvalorizados do ponto de vista das suassaídas profissionais) do <strong>insucesso</strong> <strong>escolar</strong> enquantofracasso na aprendizagem de conhecimentose saber-fazer. Os dois aspectos estãocertamente ligados: são em parte causa e consequência um do outro, justificam-se um pelooutro. Mas a natureza da sua interdependêncianão é evidente. O segundo aspecto, o <strong>insucesso</strong>na aprendizagem, poderia parecer mais propriamentepedagógico, mas na realidade um eoutro têm características pedagógicas e psicológicase participam na dinâmica social. Introduzindoesta distinção, esperamos que ela serevele heurística e nos permita encontrar osmeios conceptuais e metodológicos de avaliar opapel dos diferentes níveis de processos psicológicose sociais.I11 - O INSUCESSO ESCOLAR:ABORDAGEM INSTITUCIONAL,Ao nível individual o <strong>insucesso</strong> <strong>escolar</strong>, nasua definição institucional, vive-se em circunstânciasdiversas: repetição de um ano de estudos,orientação para uma secção «baixa», nãoadmissão ou exclusão de uma formação desejada,etc. 13 claro que a percentagem destes fracassosdecorre de opções institucionais, que relevampor vezes directamente das instânciaspolíticas (a título de exemplo, citemos o GrandeConselho do Valais - parlamento deste estadoda Confederação Helvética- que fixa anualmentea taxa de alunos admitidos nas diferentesfileiras da escola secundária). Não é pois deadmirar que estas opções, mesmo na ausênciade plano, correspondam a outras decisões políticasem matéria económica e de estruturaçãoprofissional do mercado de trabalho. Sabe-se,aliás, que certas alterações na organização eprestações do sistema educativo podem permitirevitar ou reduzir situações de crise de emprego.Mas, por mais importante que seja esta determinaçãopolítico-económica da escola, ela nãoé nem única, nem sempre directa - a formaçãoprofissional não é a única função da escola. Eesta constitui igualmente a trama de outras formasde aspirações sociais, tradições e influênciasculturais. Prova-o a acuidade dos problemasque se levantam na articulação entre a escolae a vida activa na Suíça e que conduziram o governofederal a promover um Programa Nacionalde investigação em ciências humanas sobreeste tema.Outros exemplos da complexidade dos laçosentre sistema <strong>escolar</strong> e sistema social poderiamser encontrados no estudo das causas e consequênciasda transplantação de sistemas <strong>escolar</strong>eseuropeus para países do Terceiro Mundo. Estapõe claramente em evidência que, lá como aqui,as opções inscritas na estrutura e funcionamentoda escola, particularmente as relativas às modalidadesde acesso aos locais que permitem odesenvolvimento das competências e aos tiposde formações e de conhecimentos que aí sedistribuem, determinam em parte a estruturasocial e profissional do país, quer esta últimaseja ou não congruente com as suas aspiraçõeseconómicas e políticas.Os sociólogos mostraram por várias vezescomo as opções institucionais que determinamas redes de acesso aos conhecimentos e competências oferecidas pela escola determinam, particularmenteatravés da selecção e da certificação,a distribuição ou preservação de um certonúmero de privilégios. Estão estas opções expiícitas?E como se justificam elas? Isso não éisento de dificuldades, já que a ideologia igualitáriasubjacente às opções políticas e sociais de«democratização» se encontra de princípio emcontradição com as características de uma distribuiçãodesigualitária dos conhecimentos e dosprivilégios.Dizer que se «abre a escola a todos» porquejá não se quer, ou já não se pode, reservar oExito <strong>escolar</strong> a um grupo social determinado,73

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