Dialeto Caipira - Departamento de Letras
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trata da primeira pessoa, e usar dos casos oblíquos: Não me qué, não me obe<strong>de</strong>ce, não mevisitô.CONJUGAÇÃO PERIFRÁSTICA11. Na conjugação perífrástica o gerúndio é sempre preferido ao infinitivo precedido <strong>de</strong>preposição, vulgar em Portugal e até <strong>de</strong> rigor entre o povo daquele país. (J. Mor., cap.. XX, 1.ºvol.). Aqui se diz, invariavelmente: - Anda viajando - Ia caindo, estão florescendo, ao passo que,em Portugal, especialmente entre o povo, se diz em tais casos: "estou a estudar", "anda aviajar", "ia a cair" ou para cair", etc.O nosso uso é o mesmo dos quinhentistas e seiscentistas, dos quais se po<strong>de</strong>ria citarcopiosíssima exemplificação. Escrevia frei Luís <strong>de</strong> Sousa na "Vida <strong>de</strong> Dom Frei Bartolomeu", <strong>de</strong>perfeito acordo com a nossa atual maneira:"... ia fazendo matéria <strong>de</strong> tudo quanto via no campo e na serra para louvar a Deos; offereceu-selheá vista não longe do caminho... um menino pobre, e bem mal reparado <strong>de</strong> roupa, que vigiavaumas ovelhinhas que ao longe andavam pastando.12. A ação reiterada, contínua, insistente, é expressa por uma forma curiosíssima: Fulano andacorrê-corrêno p'ras ruas sem o quê fazê - A povre da nha Tuda véve só chorá-chorano <strong>de</strong>spoisque per<strong>de</strong>u o marido (V. "Morf.", 1).TER E HAVER13. O verbo ter usa-se impessoalmente em vez <strong>de</strong> haver, quando o complemento não encerranoção <strong>de</strong> tempo: Tinha munta gente na eigreja - Tem home que não gosta <strong>de</strong> caçada - Naquêlebarranco tem pedra <strong>de</strong> fogo.14. Quando o complemento é tempo, ano, semana, emprega-se às vezes haver, porém, maisgeralmente, fazer: Já fáiz mais <strong>de</strong> ano que eu não vos vejo - Estive na sua casa fáiz quinze dia.15. Haver é limitado a certas e raras construções: Há que tempo! - Há quanto tempo foi isso? -Num hai quem num saiba. Nessas construções, o verbo como que se anquilosou, per<strong>de</strong>ndo suavitalida<strong>de</strong>.Restringimo-nos, entretanto, neste como em outros pontos, a indicar apenas o fato, sem oprecisar completamente, por falta <strong>de</strong> suficientes elementos <strong>de</strong> observação.Vem a propósito referir que a forma hai, contração e ditongação <strong>de</strong> há aí (por "há i", que seencontra em muitos documentos antigos. da língua) só é empregada, que saibamos, nestascondições:- quando prece<strong>de</strong> ao verbo o advérbio não, como no exemplo dado acima;