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Dialeto Caipira - Departamento de Letras

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Em Portugal observa-se entre o povo idêntico fenômeno, isto é, essa tendência para asimplificação das fórmulas das orações relativas. Lá, porém, tais casos são apenas freqüentes,e aqui constituem regra absoluta entre os que só se exprimem em dialeto, - regra a que sesubmetem, sem o querer, até pessoas educadas, quando falam <strong>de</strong>spreocupadamente.20. Outra observação: lá, o relativo quem precedido <strong>de</strong> a se resolve em lhe, e aqui só sesubstitui por pra ele. Assim a frase - "o menino a quem eu <strong>de</strong>i meu livro" será traduzida, pelopopular português: "o menino que eu lhe <strong>de</strong>i um livro"; pelo nosso caipira: o minino que eu <strong>de</strong>ium livro pra ele (ou prêle).Seria mais curial que, em vez <strong>de</strong> pra ele, se dissesse a ele; mas há a notar mais estaparticularida<strong>de</strong>, que o nosso povo inculto prefere sempre a primeira preposição à segunda.NEGATIVAS21. Na composição <strong>de</strong> proposições negativas, o adv. já, corrente em português europeu, é <strong>de</strong>todo <strong>de</strong>sconhecido no dialeto. Em vez <strong>de</strong> "já não vem", "já não quero", diz à francesa, ou àitaliana, o nosso caipira (e com ele, ainda aqui, toda a gente está <strong>de</strong> acordo, por todo o país):num vem mais, num quero mais.Esta prática é tão geral (diz, referindo-se ao Brasil, J. Mor., cap. XXX, 1.º vol.) que os própriosgramáticos não sabem ou não querem evitá-la. Assim, Júlio Ribeiro, na sua GramáticaPortuguesa, escreve: "Hoje não é mais usado tal advérbio". Entre nós dir-se-ia: "já não é usado"ou "já não se usa tal advérbio".A observação é em tudo exata. Só lhe faltou acrescentar que, como tantas outrasparticularida<strong>de</strong>s sintáticas <strong>de</strong> que nos ocupamos, também <strong>de</strong>sta há exemplos antigos na língua,e talvez até em Gil Vicente, que J. Mor. tão bem conhecia e a cada momento citava. Eis umexemplo, on<strong>de</strong>, pelo entrecho, mais po<strong>de</strong> ser tomado como negativo:ANJO - Não se embarca tyranniaNeste batel divinal.FIDALGO - Não sei porque haveis por malQu'entre minha senhoria.ANJO - Pera vossa fantasiaMui pequena he esta barca.FIDALGO - Pera senhor <strong>de</strong> tal marcaNão há hi mais cortezia?Um exemplo bem positivo <strong>de</strong> J. B. <strong>de</strong> Castro, "Vida <strong>de</strong> Cristo", (liv, IV):"Meu pae, contra Deus e contra vós pequei e não mereço que me chameis mais vosso filho..."22. O emprego <strong>de</strong> duas negativas - ninguém não, nem não, etc., assim contíguas, - vulgar nasintaxe portuguesa quinhentista, mas hoje <strong>de</strong>susado na língua popular <strong>de</strong> Portugal, e na línguaculta tanto lá como cá, - é obrigatório no falar caipira: Nem eu num disse - Ninguém num viu -Ninhum num fica.

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