crônicaO novo governo e amo<strong>de</strong>rnização administrativaPor Paulo Fernando Torres VerasFoto: arquivo pessoalPermitam-me, senhores, apresentarminha fábula para melhor entendimento daexpressão mo<strong>de</strong>rnização administrativa. Erauma vez... Num reino não muito distante,havia um príncipe com gran<strong>de</strong> vocação musical.Após obter aprovação no seu longocurso <strong>de</strong> piano, para <strong>de</strong>leite do seu povo,<strong>de</strong>liberou fazer um espetáculo popular.Emitidas todas as or<strong>de</strong>ns para realizaçãodo magno evento, um curioso emadministração <strong>de</strong> cortes observou o seguintequadro: enquanto meia dúzia <strong>de</strong> serviçaiscarregava um piano às costas, vergados aoenorme peso, doze cortesãos permaneciamali, displicentemente, sentados sobre oinstrumento transportado. Outros, sei láquantos, batiam papo ao longo do corredorque leva à sala <strong>de</strong> espetáculos.Lá <strong>de</strong>ntro, todas as poltronas jáestavam <strong>de</strong>vidamente ocupadas pelosbatedores <strong>de</strong> palmas, ansiosos para iniciarsua única ocupação: aplaudir seja lá o quefor. E, também é certo, por trás dascolunas, discretamente, escondiam-sealguns contestadores, dispostos a vaiarqualquer som emitido.Nos corredores do palácio, entre agran<strong>de</strong> maioria dos <strong>de</strong>mais servidores,circulavam rumores <strong>de</strong> que haveria umconcerto <strong>de</strong> piano na corte, mas poucosestavam interessados em saber se concertocom ‘c’, a ser tocado por um mestre damúsica, ou conserto com ‘s’, a cargo <strong>de</strong>algum restaurador <strong>de</strong> móveis. Fora dosmuros do palácio, naquele dia, como emtantos outros, o povão que <strong>de</strong> nada sabiae nada ouvia, simplesmente, dançou.Terminada a fábula,começa a analogia.Mo<strong>de</strong>rnizar aadministração seriaeliminar esse estado<strong>de</strong> coisas. Muitosgovernantes competentes,cheios <strong>de</strong>boa-vonta<strong>de</strong>, vêemseus esforços frustradosnos meandros <strong>de</strong> uma máquinaestatal emperrada. É imprescindível que seaumente o número dos que ‘carregam piano’,mas, antes, retirando <strong>de</strong> perto aquelesque o puxam para baixo e para trás.Em seguida, há que se afastar os queficam parados no meio do caminho,interrompendo a passagem dos quequerem, simplesmente, fazer o seutrabalho. É preciso <strong>de</strong>sestimular os quesó usam as mãos para aplaudir. Por outrolado, nenhuma valia têm os que zombamàs escondidas, os que só fazem vaiar oucriticar sem apontar qualqueralternativa <strong>de</strong> soluçãopara os erros que estãosempre encontrando.Não menos importante éa motivação e a educaçãodos servidores para o trabalho.Educar para servir!Servir bem, além <strong>de</strong>competência e ética, exigegran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> espírito, tambémconhecida por humilda<strong>de</strong>.Tudo isso com umobjetivo claro: fazer chegaro agradável “som do pianoreal” aos ouvidos <strong>de</strong> quempaga a conta. Quem fazmo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong>ve saber“Existem servidores públicostrabalhadores e tambémfuncionários que sãomeros parasitas. Não seiem que proporção”que a máquina administrativa é apenas ummeio. O que interessa, <strong>de</strong> fato, está forados muros da corte.Trocando, agora, a teoria pela práticabrasileira: maior que o príncipe, a corte eo governo novo, é seu cliente, o povo.Como o governo novo vem - reconheçaseo seu extraordináriomérito - doPartido dos Trabalhadores,cabeuma advertência.Existem servidorespúblicos trabalhadorese tambémfuncionários quesão meros parasitas.Não sei em que proporção, mas, ajulgar pelos péssimos serviços dasrepartições públicas, há <strong>de</strong> ter muita gente‘sentada no piano’.Como o PT, por tradição e até por<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> ofício, sempre pugnou por maissalário e menos carga <strong>de</strong> trabalho paraos seus filiados, cabe agora corrigir ocurso <strong>de</strong>ssa história, sob pena <strong>de</strong> o povão- principalmente o contribuinte -continuar penando nas filas dos órgãospúblicos, sem conseguir ingresso para oconcerto que lhe é <strong>de</strong>vido. Entenda-separticipar do ‘concerto’ não apenasreceber serviços essenciais.Muitas vezes, pasmem os senhores, ocidadão quer simplesmente ter acesso aocumprimento <strong>de</strong> suas obrigações para como Estado. A burocracia brasileira, até parareceber imposto, é enrolada e lerda. Ogoverno precisa, urgentemente, mo<strong>de</strong>rnizar-se.Mo<strong>de</strong>rnizar-se, é claro, não somentepara agilizar a coleta, mas principalmentepara justificar, com serviçoshonestos, a escandalosa carga tributária queuma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leis lhe assegura.Paulo Fernando Torres Verasé administrador <strong>de</strong> empresas econsultor <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong> da <strong>Fenacon</strong>pauloftveras@hotmail.com34 - Revista <strong>Fenacon</strong> em Serviços - Edição 94
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