eforma tributáriaanacronismo só superado pelamanutenção por mais onze anos dosincentivos fiscais já concedidos, até a datalimite <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro. Isso geraria oque ficou conhecido como a ‘Farra <strong>de</strong>Setembro’, cujo exemplo mais emblemáticofoi o da governadora do Rio <strong>de</strong>Janeiro, Rosinha Matheus (PMDB), quechegou a apresentar um projeto <strong>de</strong> lei naAssembléia Legislativa, propondo isenções<strong>de</strong> 90% para as empresas queimportassem pelo Estado. A guerra fiscal,que <strong>de</strong>veria ser combatida, foi praticamenteconstitucionalizada com oprojeto votado na Câmara Fe<strong>de</strong>ral.“Para fazer uma reforma <strong>de</strong>sse tipo émelhor <strong>de</strong>ixar tudo como está”, observaIves Gandra, que acrescenta: “no momento,a reforma que o Brasil precisa éadministrativa, com uma reor<strong>de</strong>naçãodas relações entre Estados, municípiose União”. Uma opção que <strong>de</strong>ve levar emconta o corte <strong>de</strong> gastos inúteis, <strong>de</strong>sperdíciose privilégios.Vícios históricos quetornam boa parte daarrecadação invisível aocontribuinte. “Outrospaíses como o Chile e oPeru, para citar exemplosna América Latina,têm tributação entre15% e 18% <strong>de</strong> seu PIB,no Brasil, temos 36%.Os custos administrativosconsomem outros40%. É um gasto <strong>de</strong>País nórdico com renda<strong>de</strong> País <strong>de</strong> terceiromundo”, complementaMailson da Nóbrega.Seja como for, a reformaadministrativaainda não está na or<strong>de</strong>mdo dia e não <strong>de</strong>verá entrartão cedo. De concreto mesmo, o mês <strong>de</strong>setembro apresentou a votação, em doisturnos, na Câmara, do projeto <strong>de</strong> reformatributária que, em seguida, foiencaminhado ao Senado.Estaca zeroFoto: Divulgação CRC/SPIves Gandra da Silva Martins: “Para fazer uma reforma <strong>de</strong>ssetipo é melhor <strong>de</strong>ixar tudo como está”Regimentalmente, qualquer emendaapresentada naquela Casa automaticamenteenviará o projeto <strong>de</strong> volta àCâmara, e dificilmente isso <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong>ocorrer em um ambiente on<strong>de</strong> váriosparlamentares são ex-governadores,muito mais sensíveis às nuancestributárias do que boa parte <strong>de</strong> seuscolegas <strong>de</strong>putados. O senador e lí<strong>de</strong>rgovernista, Aloísio Mercadante,chegou a <strong>de</strong>clarar que prevê umcenário em que as questões relativasao ICMS sejam equacionadas somenteem 2005, e o próprio Planalto já estáconsciente <strong>de</strong> que a reforma muitoprovavelmente não passe incólumepelo Senado e por isso trabalha pela concretização<strong>de</strong> objetivos mais factíveis.Por objetivos factíveis leia-se as medidasque garantam o caixa.Manutenção da CPMF, prorrogação daDRU - Desvinculação <strong>de</strong> Receitas daUnião, com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> remanejamentolivre <strong>de</strong> 20% da receita sobretributos, a partilha da Ci<strong>de</strong> - Contribuição<strong>de</strong> Intervenção sobre DomínioEconômico - com municípios e Estadose outras regulamentações pontuais queacalmem prefeitos e governadores. Deresto, a tendência é que o temaReforma Tributária volte à estaca zeroe comece a ser rediscutido somente nopróximo ano.Por um lado isso é bom, porquepermitirá à socieda<strong>de</strong> organizada semobilizar e ter voz junto aos parlamentares,coisa que efetivamente nãoocorreu nos últimos meses, ainda que ogoverno tenha criado o Conselho <strong>de</strong>Desenvolvimento Econômico e tenhadado ares <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate a um tema que foitratado basicamente pelos chefes doExecutivo e por li<strong>de</strong>ranças parlamentares.“A proposta foi aprovadacomo um regulamento <strong>de</strong>futebol, na madrugada, noafogadilho, para <strong>de</strong>poisser mudada durante ocampeonato”, compara odiretor da AssociaçãoComercial.O lado ruim, e aindaempregando uma metáforafutebolística, é quefica claro que o Planaltojogou para impressionar aplatéia, fez jogadas <strong>de</strong>efeito, arrancou suspirosiniciais, mas, por fim,<strong>de</strong>ixou a nítida impressãodo empate sem gols, o queé péssimo para a socieda<strong>de</strong>.O time dossonhos tem dados macroeconômicosmuitobons, com estabilizaçãoda moeda, controle da inflação epagamento em dia dos juros ao FMI.Mas, no ‘terrão’ das periferias, a bolacontinua furada. “Po<strong>de</strong>mos suportaressa situação por muito tempo, sem umareforma tributária efetiva. Agora, oresultado é esse: um país medíocre, quenão cresce, não se mo<strong>de</strong>rniza e on<strong>de</strong> sóa miséria continuará crescendo”,conclui Marcel Solimeo.8 - Revista <strong>Fenacon</strong> em Serviços - Edição 94
O que o empresário ‘sente na pele’, foicomprovado mais uma vez em números.No dia 1º <strong>de</strong> setembro, na Câmara Americana<strong>de</strong> Comércio <strong>de</strong> São Paulo - Amcham-SP, foi divulgado o estudo ‘A cargatributária por setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s daeconomia brasileira’. Iniciativa da Fe<strong>de</strong>raçãodas Empresas <strong>de</strong> Serviços do Estado<strong>de</strong> São Paulo - Fesesp e realizado pelaequipe <strong>de</strong> pesquisadores das escolas <strong>de</strong>Economia e <strong>de</strong> Administração <strong>de</strong> Empresasda Fundação Getúlio Vargas - FGV-SP,com o apoio da <strong>Fenacon</strong>, o trabalho analisoua contribuição efetiva <strong>de</strong> cadacomponente da <strong>de</strong>manda agregada (empresas,famílias, governo etc.) e <strong>de</strong> cadasetor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica (agropecuá-serviçosPesquisa mostra que setor<strong>de</strong> serviços é o que sofremaior carga <strong>de</strong> impostosria, indústria, serviços etc.)na carga tributária do país.O resultado da pesquisa mostra que,dos R$ 400,3 bilhões <strong>de</strong> impostosarrecadados no país em 2001, coube aosetor produtivo arcar com 62,9% <strong>de</strong>carga tributária. Dentre os setoreseconômicos, o <strong>de</strong> serviços foi o que maispagou impostos, o equivalente a 31,6%do total que inci<strong>de</strong> sobre a produção, ouseja, R$ 79,7 bilhões, seguido pelaindústria, com 30%. As famíliasrespon<strong>de</strong>ram por 32%, mais do que asexportações, com participação <strong>de</strong> R$ 4,6bilhões, ou 1,2% do total <strong>de</strong> tributos. Ogoverno, com aquisição <strong>de</strong> bens eserviços, <strong>de</strong>sembolsou R$ 1,5 bilhão.Mesa <strong>de</strong> apresentação do estudo ‘A carga tributáriapor setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s da economia brasileira’Participaram da apresentação, MarcosCintra, ex-<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral e atualpresi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Tributação daFesesp e coor<strong>de</strong>nador dos trabalhos; oprofessor Fernando Garcia, da FGV/SP,coor<strong>de</strong>nador do estudo; Luigi Nese, vicepresi<strong>de</strong>nteda Fesesp; Mario Bernardini,diretor da Fiesp, e o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral,Walter Feldman (PSDB/SP). O vicepresi<strong>de</strong>nteda <strong>Fenacon</strong> para a RegiãoSu<strong>de</strong>ste, Antônio Marangon, e osdiretores <strong>de</strong> Assuntos Legislativos e doTrabalho, Sauro Henrique <strong>de</strong> Almeida, e<strong>de</strong> Tecnologia e Negócios, Nivaldo Cleto,representaram a entida<strong>de</strong> no evento.Foto: divulgaçãoMastermaqRevista <strong>Fenacon</strong> em Serviços - Edição 94 - 9