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19. Com a expulsão de seu território tradicional, a<<strong>br</strong> />

comunidade de Guaiviry passou a viver na reserva<<strong>br</strong> />

indígena de Amambai, no município de Aral<<strong>br</strong> />

Moreira; a comunidade de Kurusu Ambá vivia na<<strong>br</strong> />

reserva indígena Taquapiry, situada no município<<strong>br</strong> />

de Coronel Sapucaia e a de Ypo’i na reserva indígena<<strong>br</strong> />

Pirajuí, no município de Paranhos.<<strong>br</strong> />

As condições sociais, demográficas e ambientais das três comunidades<<strong>br</strong> />

selecionadas para participarem da pesquisa são muito semelhantes<<strong>br</strong> />

entre si e caracterizadas por condições que decorrem da<<strong>br</strong> />

violência e discriminação estrutural a que os Povos Indígenas vêm<<strong>br</strong> />

historicamente sendo submetidos desde a ocupação pelos portugueses<<strong>br</strong> />

do território que hoje é conhecido como Brasil. Estas comunidades<<strong>br</strong> />

vivenciam, há anos, uma situação de extrema exclusão,<<strong>br</strong> />

fome, discriminação, violência e marginalização.<<strong>br</strong> />

Antes da retomada de pequenos pedaços de terras dentro de seus<<strong>br</strong> />

territórios ancestrais, as famílias destas comunidades viviam em<<strong>br</strong> />

diferentes reservas indígenas criadas pelo Serviço de Proteção ao<<strong>br</strong> />

Índio (SPI) na década de 1920 19 . Vivenciadas como verdadeiros<<strong>br</strong> />

bolsões de violência e de desestruturação das tradições e da cultura<<strong>br</strong> />

indígena, as reservas delimitadas pelo SPI eram chamadas de “chiqueiros”<<strong>br</strong> />

por anciãos destas comunidades, fato que ilustra a verdadeira<<strong>br</strong> />

aversão e resistência dos indígenas pela vida nestas reservas.<<strong>br</strong> />

Assim, a falta de espaço para so<strong>br</strong>eviverem com dignidade e os<<strong>br</strong> />

conflitos entre as diferentes parentelas foram fatores decisivos para<<strong>br</strong> />

que as comunidades decidissem sair das reservas e se reorganizassem<<strong>br</strong> />

para retomada de seus territórios tradicionais, que ora encontram-se<<strong>br</strong> />

na posse de diferentes fazendeiros.<<strong>br</strong> />

A história de retomada e ocupação de pequenas áreas dos territórios<<strong>br</strong> />

tradicionais a que tem direito, contudo, são histórias marcadas<<strong>br</strong> />

por muita violência e pelo assassinato de suas liderança 20 , crimes<<strong>br</strong> />

que seguem impunes e reforçam a justificada descrença na Justiça<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira, agravada também, por outro lado, pela história de criminalização<<strong>br</strong> />

das lideranças e das próprias comunidades 21 .<<strong>br</strong> />

20. Guaiviry: apenas após a quarta tentativa de<<strong>br</strong> />

retomada, que ocorreu no dia 1º de novem<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />

de 2011, cerca de 68 indígenas, entre homens,<<strong>br</strong> />

mulheres e crianças conseguiram reocupar parte<<strong>br</strong> />

de seu território tradicional, onde hoje incide a<<strong>br</strong> />

Fazenda Nova Aurora. A partir do dia 2 de novem<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />

de 2011, fazendeiros da região, o então<<strong>br</strong> />

Presidente do Sindicato Rural do município, o<<strong>br</strong> />

secretário municipal de O<strong>br</strong>as e o proprietário<<strong>br</strong> />

da Gaspem, empresa particular de segurança, entre<<strong>br</strong> />

outros, passaram a realizar uma série de reuniões<<strong>br</strong> />

e articulações visando a extrusão criminosa<<strong>br</strong> />

e violenta da comunidade de Guaiviry. No dia<<strong>br</strong> />

18 de novem<strong>br</strong>o de 2011, a comunidade foi alvo<<strong>br</strong> />

do atentado que resultou na morte da liderança<<strong>br</strong> />

Nísio Gomes, e posterior ocultação de seu cadáver,<<strong>br</strong> />

e deixou ferido o jovem Jonathon Velasques<<strong>br</strong> />

Gomes. Kurusu Ambá: a primeira tentativa de retomada<<strong>br</strong> />

de seu território aconteceu em janeiro de<<strong>br</strong> />

2007. Essa primeira tentativa, frustrada pela ação<<strong>br</strong> />

violentíssima de pistoleiros e pelo assassinato da<<strong>br</strong> />

ñande sy (rezadeira) Xurite Lopes, importante referência<<strong>br</strong> />

para a comunidade, foi seguida de mais<<strong>br</strong> />

três tentativas de reocupação de suas terras ancestrais.<<strong>br</strong> />

Nos últimos anos, três lideranças da luta pela<<strong>br</strong> />

demarcação da terra foram assassinadas e uma está<<strong>br</strong> />

ameaçada de morte. Cinco indígenas têm cicatrizes<<strong>br</strong> />

de feridas de balas pelo corpo, atingidos durante<<strong>br</strong> />

ataques à comunidade. A terra reivindicada<<strong>br</strong> />

pela comunidade a<strong>br</strong>ange 5 fazendas: Madama,<<strong>br</strong> />

Maria Auxiliadora, Mangueira Preta, Barra Bonita<<strong>br</strong> />

e Fazenda de Ouro. Desde novem<strong>br</strong>o de 2009<<strong>br</strong> />

a comunidade ocupa uma pequena faixa de mato<<strong>br</strong> />

em uma área de preservação ambiental que é limite<<strong>br</strong> />

entre duas fazendas, a 5 km da Fazenda Madama.<<strong>br</strong> />

Além disso, no dia 22 de setem<strong>br</strong>o de 2014, a comunidade<<strong>br</strong> />

retomou também uma pequena sede da<<strong>br</strong> />

Fazenda Barra Bonita e desde 22 de junho de 2015<<strong>br</strong> />

ocupou uma parte da Fazenda Madama. Ypo’i: na<<strong>br</strong> />

madrugada do dia 29 de outu<strong>br</strong>o de 2009, aproximadamente<<strong>br</strong> />

50 integrantes da família extensa Vera<<strong>br</strong> />

(crianças, mulheres e homens), se organizaram e<<strong>br</strong> />

efetivaram a reocupação de parte do seu território<<strong>br</strong> />

tradicional. No dia 1 de novem<strong>br</strong>o de 2009, o grupo<<strong>br</strong> />

acampado em Ypo’i foi, conforme comprovado<<strong>br</strong> />

através de investigações policiais, atacado de forma<<strong>br</strong> />

truculenta pelo fazendeiro Fermino Aurélio Escobar,<<strong>br</strong> />

com apoio, entre outros, de seus três filhos.<<strong>br</strong> />

Por ocasião da ação para extrusão criminosa da<<strong>br</strong> />

comunidade, desapareceram Rolindo Vera, professor<<strong>br</strong> />

da aldeia, cujo corpo nunca foi encontrado;<<strong>br</strong> />

e Genivaldo Vera, também professor, cujo corpo<<strong>br</strong> />

foi achado dez dias depois, em um riacho nas proximidades<<strong>br</strong> />

da fazenda. Desde o dia 19 de agosto<<strong>br</strong> />

de 2010, a comunidade ocupa um pequeno pedaço<<strong>br</strong> />

de terra na Fazenda São Luís e na noite de 29 de<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il de 2015, a comunidade realizou retomadas<<strong>br</strong> />

em duas novas áreas em outros locais da fazenda.<<strong>br</strong> />

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