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DR. PLINIO COMENTA...<br />
obediência aos seus superiores desígnios. Essa grandeza,<br />
portanto, enquanto habita em mim tornou-se minha, mas<br />
a causa dela vem de fora e do alto. Por mim mesma, não<br />
sou senão uma pequena criatura.”<br />
De fato, embora concebida sem pecado, e tendo correspondido<br />
à graça do modo mais perfeito possível, Nossa Senhora<br />
era uma mera criatura, e assim tais grandezas não<br />
podiam ter origem na natureza d’Ela. Provinham-Lhe de<br />
Deus Nosso Senhor. Este é o pensamento despretensioso<br />
e fundamental do Magnificat.<br />
Cabe aqui uma aplicação a nós, filhos e devotos de<br />
Maria, que tanto desejamos imitá-La. Se era essa a posição<br />
que a Imaculada tomava em face de suas excelências, a fortiori<br />
deve ser a nossa diante das graças que Deus nos concede,<br />
a nós que somos pecadores a dois títulos. Primeiro,<br />
porque concebidos no pecado original; segundo, porque<br />
agravamos essa condição com as faltas perpetradas em<br />
nossa vida, de sorte que, mesmo perseverando no estado<br />
de graça, trazemos conosco o fardo dos pecados que outrora<br />
cometemos.<br />
De outro lado, as honras que possam nos caber são incomparavelmente<br />
menores que as de Nossa Senhora. Desse<br />
modo, é preciso nos esforçarmos em adquirir o mais elevado<br />
grau de despretensão ao nosso alcance. Não incorramos<br />
no erro dos presunçosos, que julgam inerentes à sua<br />
própria natureza, e não a um dom ou misericórdia de<br />
Deus, todas as suas qualidades e aspectos bons.<br />
Pelo contrário, compenetremo-nos de que todo o bem<br />
existente em nós é dado e favorecido pela graça divina,<br />
embora conte com nossa voluntária aceitação e nosso empenho<br />
em desenvolvê-lo. São qualidades e talentos que<br />
não nasceram de nossa natureza decaída, mas foram nela<br />
depositados pela generosidade do Criador. Se formos despretensiosos,<br />
teremos consciência disso, não nos embevecendo<br />
com o que devemos a Deus.<br />
Esse é, precisamente, o ensinamento que nos deixou<br />
Nossa Senhora, quando elevou aos céus o seu Magnificat.<br />
Alegre e contínua retribuição a Deus<br />
Diz Ela: “A minha alma engrandece o Senhor”. Ou seja,<br />
canta, vê, admira, ama e proclama com amor a grandeza<br />
de Deus, Aquele que domina, Aquele que pode, Aquele<br />
que é tudo.<br />
“E o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”.<br />
Então a alma d’Ela se transporta em santas alegrias,<br />
porque Deus “lançou os olhos sobre a baixeza de sua serva”,<br />
e por isso “de hoje em diante, todas as gerações me<br />
chamarão bem-aventurada”.<br />
Nossa Senhora proclama a magnitude de Deus por ter<br />
deitado o olhar sobre Ela, por Lhe ter conferido uma tal<br />
excelência que todas as nações passariam a aclamá-La como<br />
bem-aventurada. E ao reconhecer que isto Lhe vem<br />
d’Ele, seu espírito atinge o ápice da alegria!<br />
Grupo escultural no pórtico da Catedral de Reims<br />
Como não ver nessa atitude a perfeição da despretensão?<br />
Nada de falsa e dolorosa probidade: “Ó Senhor! como<br />
gostaria de dizer que tudo vem de mim, mas sou obrigada<br />
a declarar o contrário”, etc. Não! — “Meu espírito<br />
exulta em proclamar que veio de Vós”.<br />
Ao mesmo tempo, porém, Ela afirma a glória que Deus<br />
Lhe outorgou: “Todas as gerações me chamarão bemaventurada”.<br />
A palavra bem-aventurada encerra um matiz<br />
que a faz designar uma pessoa não apenas nimbada de felicidade,<br />
mas também aquela que alcançou êxito em todas<br />
as suas realizações. Portanto, acertar na vida, ser bemaventurado,<br />
é tornar-se santo e servir a Deus.<br />
E Nossa Senhora continua a cantar: “Porque fez em<br />
mim grandes coisas Aquele que é poderoso, e cujo nome é<br />
santo”. O adjetivo poderoso tem aí todo o cabimento, pois<br />
Ela se reconhece objeto de maravilhas tais, que só um Ser<br />
onipotente as poderia operar. Ora, Maria se sabia não-<br />
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