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Revista Dr Plinio 26

Maio de 2000

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA<br />

Quer isto significar que não havia uma certa<br />

noção de país? Em que sentido se entende, por<br />

exemplo, Santa Joana d’Arc expulsando os ingleses<br />

da rança?<br />

Cumpre notar que a arrebatadora epopéia de<br />

Santa Joana d’Arc foi levada a cabo para conservar a<br />

existência da rança, contra a qual intentavam os ingleses.<br />

A missão dela se compreendia num período<br />

em que os britânicos se serviram do fato de terem<br />

feudos na rança, não mais para aceitarem a equilibrada<br />

situação de súditos e vassalos da coroa francesa,<br />

em território desta, mas para dominarem o país<br />

vizinho e fazerem dele um prolongamento da Inglaterra.<br />

Era, pois, uma espécie de investida nacionalista<br />

dos ingleses contra a rança, com esteio no<br />

abuso de uma situação feudal em si mesma delicada.<br />

Santa<br />

Joana d’Arc<br />

Artífices medievais construindo igrejas — A religião católica era o<br />

fator que conferia solidez e unidade à civilização da Idade Média<br />

Então aparecia aí, realmente, a<br />

idéia de nação (no caso, a francesa)<br />

como um todo que é preciso<br />

manter face aos seus invasores.<br />

Mas esse país, essa unidade<br />

grande era considerada<br />

pelo indivíduo enquanto realizada<br />

na sua pequena terra,<br />

de tal maneira que, na rança, engendrara-se<br />

uma mesma palavra para designar<br />

o Estado e a região a que pertencia<br />

cada um: le pays. Assim, para<br />

o francês, a pátria era a projeção de<br />

uma realidade que ele sentia e conhecia<br />

no seu respectivo pays.<br />

Poder-se-ia perguntar, então, o que<br />

conferia à sociedade medieval a sua<br />

impressionante solidez. Mapas e fronteiras<br />

tão fluidos, costumes, culturas,<br />

linguagens e dialetos tão diversos, e entretanto<br />

uma unidade poderosa! Tão<br />

forte que os estranhos àquele corpo<br />

da Cristandade — ou seja, os pagãos e<br />

os hereges — sentiam ali um organismo<br />

pujante, como também sentiam o<br />

árduo que era estar fora dele.<br />

Temos aí a resposta: aquela solidez,<br />

aquela unidade era de caráter religioso,<br />

que tinha seus reflexos políticos<br />

e abrangia todas as nações cristãs.<br />

Razão pela qual nunca se dizia, por<br />

exemplo, “ulano, o homem mais rico<br />

da rança”, mas “o homem mais rico<br />

da Cristandade”. Nunca se afirmava:<br />

“Beltrano é o maior rei do mundo”, e<br />

sim “o maior soberano da Cristandade”.<br />

Porque esta era o autêntico valor<br />

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