Revista Dr Plinio 26

GESTA MARIAL DE UM VARÃO CATÓLICO
tes da boa culinária e da mesa farta,
sabiam preparar um esplêndido cuscuz.
Conhecedores de minha predileção
por esse prato, quando o faziam
gentilmente me convidavam para saboreá-lo
com eles.
Por causa de minha posição decididamente
católica, o dono da casa provocava
discussões acaloradas comigo.
Aproveitando-se das relações de família
e do fato de eu ser bem mais
moço que ele, dizia-me algumas coisas
bastante rudes. De minha parte,
redargüia à altura, desconsiderando a
diferença de idade.
Lembro-me de que, certa feita, enquanto
eu conversava com a esposa
dele, notei-o com o olhar fixo em
mim. De súbito, ele nos interrompeu:
— Plinio, o que você vai fazer na
vida?
— Ora, vou advogar... Estou me
formando em Direito.
— Se eu o convidasse para trabalhar
no meu escritório de advocacia,
você não aceitaria, não é?
Procurei esquivar-me de uma resposta,
mas ele voltou à carga:
— Eu sei bem por que você não
aceitaria. Você pensa que sou ladrão,
e não quer perder sua alma trabalhando
no meu escritório...
Dei risada:
— É isto mesmo!
Pelo seu modo de ser, eu percebia
que ele não fazia nada além do costumeiro
em alguns dos bons escritórios
de advocacia daquele tempo. Acontece,
porém, que vários desses procedimentos
eram proibidos pela Moral
católica.
Ele continuou:
— Vou lhe dizer uma coisa: com
essa sua honestidade imposta pela
Igreja Católica, seu escritório de advocacia
vai ficar entregue às moscas.
Não há outra saída para você senão
tornar-se juiz. Este será seu futuro:
fazer um concurso, ser nomeado para
uma pequena cidade e passar ali dez
anos. Na melhor das hipóteses, quando
ficar velho será promovido a desembargador.
É o máximo que atingirá.
Você será, portanto, um homem
obscuro e apagado...
Vista da
rua Libero
Badaró, em
São Paulo,
onde
Dr. Plinio
abriu seu
primeiro
escritório de
advocacia
Pensei comigo: “Ele tem razão!
Agora preciso escolher: o desprezo, o
isolamento, a pobreza, ou... a perdição
de minha alma”. oi uma luta que
travei. Nossa Senhora me ajudou e
optei pela pobreza e pelo isolamento.
Naquele momento, eu retruquei:
— Dr. ulano, se acontecer o que o
senhor prediz, dou por bem acontecido,
porque terei cumprido a Lei de
Deus. Violar essa Lei, eu não quero!
Em todo caso, Nossa Senhora me
protegerá. Se for desígnio d’Ela, não
será esse o futuro que me espera.
Ele deu uma risada e disse:
— Isso... Você e Nossa Senhora,
Nossa Senhora e você... Chegada a
hora “H”, você verá que Nossa Senhora
não lhe protege, porque Ela
não existe...
Eu contrapus:
— Eu confio n’Ela; o senhor, não.
Trata-se de meu futuro, é o que vou
fazer. — Como quem dissesse: “Não
se meta na minha vida, faço o que
quero”.
O primeiro escritório e o
primeiro cliente
Tendo-se formado em dezembro de
1930, Dr. Plinio não se apressou em
exercer a profissão de advogado: de
um lado, porque queria ter mais tempo
livre para suas múltlipas atividades
no Movimento Católico; de
outro, porque até então sua família
gozava de uma folgada situação financeira.
Contudo, tempos depois, em vista
de negócios catastróficos de um parente,
que arruinaram as finanças
da família, Dr. Plinio decidiu ter
chegado a hora de passar a advogar.
Em 23 de março de 1932, inscreveuse
na OAB e no mesmo mês abriu seu
escritório de advocacia, na Rua Líbe-
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