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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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televisão pode, por exemplo, alertar os pesquisadores da segunda mídia<br />

contra o descritivismo, tendo em vista o evidente desperdício de tempo e<br />

energia dos que, no âmbito dos Estudos de Cinema, confundem análise<br />

com descrição.<br />

Ainda assim, entre análise fílmica e análise televisual há diferenças<br />

não desprezíveis. A televisão possui uma particularidade que, se por um<br />

lado é uma de suas riquezas, por outro oferece as mais sérias dificuldades<br />

metodológicas: a longa duração dos produtos seriados. Quando se tomam<br />

filmes como referência, a comparação é simples. Nestes cada objeto possui<br />

duração média entre 90 e 120 minutos. Mesmo nos casos de trilogias e<br />

tetralogias fílmicas (que, diga-se, não são tão frequentes), multiplica-se<br />

o tempo de exibição por três ou quatro (por vezes, um pouco a mais<br />

nas serializações de maior sucesso), o que resulta em tramas com um<br />

total de poucas horas de duração. No âmbito dos Estudos de Televisão,<br />

os objetos são, em comparação, quase sempre gigantescos. A raridade<br />

está na existência de produtos unitários, isto é, que não sofrem nenhuma<br />

espécie de serialização. Minisséries chegam com frequência a mais de<br />

quarenta capítulos, telenovelas têm hoje em dia cerca de 170 capítulos<br />

(mas é bom não esquecer que em outros tempos chegavam a 400 ou<br />

mais). Séries podem ter mais de dez temporadas, ultrapassando a casa<br />

das centenas de episódios e outro tanto de horas totais de exibição. Há<br />

programas televisivos que perduram por décadas, em exibição diária, ou<br />

quase isso, como as soap operas e os telejornais.<br />

Eis o problema: como analisar produtos descomunais como esses?<br />

A análise de uma cena curta de um filme pode ser o suficiente para<br />

resolver um problema de pesquisa. O mesmo talvez seja verdade<br />

para um produto com centenas de capítulos, cada qual com cerca de<br />

quarenta ou quarenta e cinco minutos, caso das telenovelas. Talvez...<br />

É lícito indagar o que pode significar uma cena de, exemplificando,<br />

um minuto, num produto exibido em 150 horas, isto é, 9.000 minutos?<br />

Mesmo que a validade dos resultados da análise tenham credibilidade e<br />

possam mesmo ajudar na solução de relevantes problemas de pesquisa,<br />

como localizar a cena num produto tão imenso caso ela não tenha<br />

sido detectada ao assisti-lo pela primeira vez? Seria uma tarefa inglória<br />

assistir a tudo novamente apenas para localizar uma cena curta. Outra<br />

metodologia é necessária.<br />

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