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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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a elas é que essa representação é pincelada com forte verniz de afeto,<br />

chegando a um nível de proximidade com o telespectador e tentando<br />

induzi-lo a acreditar que só no SBT ele é fielmente retratado.<br />

Para isso, a Emissora lança mão de escolhas estilísticas relativas a<br />

cenários, figurinos e diálogos do telespectador com o dono do canal, e<br />

o excesso de afetividade é transmitido por um excesso visual. A busca<br />

por uma brasilidade, no caso do SBT, ainda é mais questionável se<br />

pensarmos que a Emissora historicamente sempre sofreu forte influência<br />

de programas e gêneros latinos, mexicanos e norte-americanos.<br />

Silvio Santos, por sua vez, age como uma espécie de corporificação<br />

tanto do SBT quanto do “ser brasileiro”, já que com sua história de vida ele<br />

torna-se um “homem-narrativa”, personagem constituído por um conjunto<br />

de características que formam “uma história virtual que é a história de sua<br />

vida”. Este fato também faz dele um “homem do povo”, já que sua história<br />

é semelhante à de muitos brasileiros, ou pelo menos simboliza o desejo<br />

da camada da população a que, como dito mais atrás, seus programas se<br />

destinam, as classes C, D e E.<br />

Logo, a “cara” do Brasil que vemos nas vinhetas do SBT é popular,<br />

paulista, simplista, caricaturizada e folclorizada, quase infantil; o brasileiro<br />

seria aquele que vive feliz num país rico de belezas naturais e pontos<br />

turísticos considerado “um grande auditório que faz acontecer”, como<br />

diz uma vinheta.<br />

Assim como Hall (2006), acreditamos que por mais que haja estratégias<br />

de unificação da identidade nacional, elas nem sempre logram êxito.<br />

Por isso, ao invés de pensarmos as culturas nacionais como algo puro,<br />

devemos enxergá-las como constituidoras de um dispositivo discursivo<br />

que preza pela diferença como unidade; ou seja, que as culturas sejam<br />

identificadas a partir das heterogeneidades que possuem. Estendemos a<br />

reflexão para o âmbito televisual, defendendo que, no caso da figuração<br />

acerca do Brasil, o estilo pode e deve servir para expressar não uma<br />

representação homogênea, mas diversa, longe do senso comum – talvez<br />

assim o SBT torne-se, de fato, “a cara do Brasil”.<br />

programas: tenho Golias, tenho Silvio Santos, tenho Aragão. O que é que interessa a você comprar?”. Se antes<br />

os programas de Silvio eram realmente vendidos por fitas cassete a outros canais, não sabemos em que medida<br />

atualmente essa diferença realmente é praticada; todavia, nossa análise mostra que, pelo menos no nível visual,<br />

essas particularidades regionais parecem não terem sido levadas em conta no canal.<br />

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