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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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advém a reação de identificação e piedade para com a vítima, típica das<br />

tragédias; do riso, emerge o burlesco, a farsa e a paródia, na figura do<br />

bobo, do bufão ou do clown, típicos da comédia. Esses elementos, hoje,<br />

estão presentes nas telenovelas. No caso de Renascer, ora Zé Inocêncio<br />

oscila entre a composição estrutural de justiceiro e ora como traidor.<br />

Já o seu interlocutor, Tião, ora é associado à posição da vítima, ora à<br />

identificação com o clown.<br />

É evidente, nesse primeiro momento, que Zé Inocêncio faz uma<br />

troça com Tião. Assim, ele não só endossa a lenda local, que ele mesmo<br />

sugestivamente “plantou”, como torna a receita, para ter o “diabinho”<br />

numa garrafa, complexa e difícil de ser executada. O coronel assim o faz,<br />

na medida em que seu interlocutor demonstra consentir com os termos da<br />

proposição. Desse modo, investido do poder de uma deidade, o coronel,<br />

novamente, com o dedo em riste, sentencia:<br />

ZÉ INOCÊNCIO – Tem mais uma coisa! No momento em que o diabinho<br />

quebrar o ovo e sair pra vida, um dos seus filho vai morrer. O Cramulhão<br />

é que vai fazer a escolha e alminha dele vai ta lá, nas profunda!<br />

O primeiro frame da segunda linha corresponde ao momento dessa<br />

sentença, Zé Inocêncio é enquadrado em plano fechado. O BG retorna,<br />

desta vez com instrumentos de cordas conferindo suspense ao clímax<br />

do diálogo. Há um corte para Tião que é enquadrado em primeiríssimo<br />

plano. Não há fala, apenas expressão facial que denota o instante em que<br />

Tião reflete sobre a barganha e, ainda, em primeiríssimo plano, em perfil,<br />

profere:<br />

TIÃO – Eu vou sacrificar um pra sarvar o outro e o resto dos filho que eu<br />

vou fazer com minha Joana, depois que a gente enricar. Senhor coronel<br />

José Inocêncio, eu não vou dizê pra ninguém, eu não vou contá pra<br />

ninguém, essa prosa que nóis acabamo de ter aqui.<br />

O último frame da segunda linha e o primeiro da terceira mostram Zé<br />

Inocêncio, em plano fechado, enquanto o BG prossegue, com a expressão<br />

de perplexidade diante do conformismo de Tião, este ainda enquadrado<br />

em primeiríssimo plano. A sequência termina, em plano conjunto ainda<br />

com o BG: o coronel se levanta, encerra a conversa e se despede de Tião,<br />

mas, antes, recomenda ao interlocutor que retire de casa todas as imagens<br />

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