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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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popular, o rádio, a imprensa escrita, a televisão, as artes visuais, a internet,<br />

o videogame etc. O estudo dessas interrelações configura o campo<br />

da intermidialidade. Esse termo não deve ser confundido com certos<br />

campos teóricos, dos quais ele se alimenta, como o da intertextualidade,<br />

ou o campo dos estudos interartes. Em relação a esses últimos, devese<br />

observar que os estudos de intermidialidade, assim como os de<br />

teoria da mídia, não são necessariamente estudos de estética. (…) No<br />

que concerne o domínio da intertextualidade, a diferença dos estudos<br />

de intermidialidade está, a meu ver, relacionado a uma mudança de<br />

paradigma importante nos últimos anos. O conceito de intertextualidade<br />

parece-me estar ligado a uma vertente de pensamento, sobretudo<br />

francês, derivado da Linguística saussureana, onde o paradigma central<br />

é a relação entre significação, e os termos essenciais são o signo, o<br />

discurso, o texto. Trata-se, a meu ver, de um paradigma essencialmente<br />

ligado a questões de linguagem, quando não à cultura do livro. Ora,<br />

para a teoria da mídia, o livro - e consequentemente tudo o que a ele<br />

se relaciona, inclusive a literatura – é apenas uma etapa na história das<br />

mídias (MÜLLER, 2008: 48).<br />

Isso implica que a relação entre o roteiro e o episódio, ou seja, entre<br />

a linguagem escrita e a linguagem audiovisual, não será compreendida<br />

apenas como uma relação “entre textos”, mas sobretudo como um processo<br />

“entre mídias”. No roteiro, o texto verbal é a força motriz de organização<br />

da dramaturgia, mas é importante perceber que se trata de um texto<br />

que agrega, na sua própria lógica interna de funcionamento, índices que<br />

procuram representar a materialidade da experiência audiovisual. Nesse<br />

sentido, buscaremos mostrar que planos, sequências, transições e mesmo<br />

enquadramentos, com a sua indicialidade específica, são incorporados<br />

– e aqui “corpo” é um termo cuja materialidade se anuncia também no<br />

texto – à linguagem do roteiro em diferentes modalidades. De maneira<br />

semelhante, o produto audiovisual também integra para si elementos<br />

textuais presentes no roteiro (o diálogo, sem dúvida, é sempre lembrado,<br />

mas não é o único) que demonstram como a intermidialidade, no caso da<br />

relação roteiro e filme/série, é uma via de mão dupla.<br />

Nessa linha, outro conceito que nos interessa é o de materialidade.<br />

Resultado de um demorado processo de reflexão teórica que buscou, nos<br />

estudos da linguagem e da comunicação, avançar para além da tradição<br />

hermenêutica ocidental – que costuma apregoar que a experiência da<br />

linguagem se dá sobretudo na dimensão do sentido, da decodificação<br />

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