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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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enunciação de personas brasileiras, por meio das quais reconhecemos ou<br />

não, como espectadores, a nossa própria e singular brasilidade (KILPP,<br />

2003: 207).<br />

Acreditamos que, dentre as várias personas oferecidas a nós pela<br />

televisão, aquela construída por Silvio Santos parece ser aglutinadora dos<br />

sentidos referentes à brasilidade evocada nas vinhetas. Embora não haja<br />

qualquer tipo de fala em direção ao que é “ser brasileiro”, a própria figura<br />

do apresentador já suscita esse modelo.<br />

Recorramos à trajetória pessoal de Silvio Santos para explicar. Nascido<br />

Senor Abravanel, em 12 de dezembro de 1930, na cidade do Rio de<br />

Janeiro, Silvio é originário de família de classe média. Precocemente,<br />

passou a se dedicar ao comércio nas ruas do Rio de Janeiro, onde vendia<br />

bugigangas contando com seu indiscutível poder de persuasão e retórica;<br />

ou seja, era camelô. Depois de se dedicar a outras atividades profissionais<br />

e ganhar vários concursos de locução, foi para São Paulo trabalhar na<br />

Rádio Nacional, onde, a cada dia, angariava mais sucesso. Depois, com<br />

o “Baú da Felicidade” e outras empresas, Silvio comprou horários em<br />

diversas emissoras até conquistar a sua (SILVA, 2001).<br />

Assim, tal história de vida – amplamente divulgada em livros, revistas<br />

e programas – faz de Silvio Santos um “homem-narrativa”, personagem<br />

constituído por um conjunto de características que formam uma história<br />

virtual que, ou é a mesma vivida por muitos brasileiros, ou representa<br />

uma trajetória de sucesso pretendida por seu público – que na TV ou<br />

nos negócios, sempre foram as classes C, D e E. Queremos dizer que,<br />

nas vinhetas, a atuação de Silvio Santos aciona todo um imaginário<br />

consolidado do brazilian way of life que, no apresentador, encontra um<br />

modelo palpável:<br />

O Silvio que vemos é uma espécie de retrato do homem-médio brasileiro<br />

idealizado: trabalhador, honesto, simples e animado. Aliás, Silvio leva a<br />

sério a máxima criada por ele que diz que “domingo é dia de alegria”;<br />

como sua presença na televisão ocorre marcadamente no domingo, podese<br />

inferir que Silvio Santos também é sinônimo de alegria (MARTINS,<br />

2011: 7).<br />

É justamente por ser “gente como a gente”, um “brasileiro que não<br />

desiste nunca”, que nas vinhetas Silvio vem a nós, telespectadores, para<br />

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