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Delirium 1.5 – <strong>Hana</strong><br />
Eu era feliz.<br />
Lauren Oliver<br />
Encosto minha bicicleta em uma das lixeiras e bato suavemente na porta. Quase<br />
imediatamente, ela abre.<br />
Lena congela quando me vê. Sua boca fica aberta por um segundo. Estive pensando<br />
sobre o que eu queria dizer a ela durante toda manhã, mas agora – confrontada pelo seu<br />
choque – as palavras sumiram. Foi ela quem me disse para encontrá-la na loja, e agora ela<br />
está agindo como se nunca tivesse me visto antes.<br />
O que acabou saindo foi: — Você vai me deixar entrar ou o que?<br />
Ela reinicia, como se eu tivesse interrompido um devaneio. — Oh, me desculpe.<br />
Sim, entre. — Sou capaz de dizer que ela só estava nervosa, assim como eu. Havia um<br />
nervoso, uma energia em seus movimentos. Quando eu entro no depósito, ela<br />
praticamente bate a porta atrás de mim.<br />
— Quente aqui — eu estava enrolando, tentando fazer com que o discurso<br />
planejado saísse da minha boca. Eu estava errada. Me perdoe. Você estava certa sobre tudo. As<br />
palavras estavam enroladas como fios no fundo da minha garganta, quentes, e eu não<br />
conseguia desenrolá-las. Lena não diz nada. Encaro a sala, sem querer olhar para ela,<br />
preocupada que eu fosse ver a mesma expressão que vi no rosto de Steve noite passada –<br />
impaciência, ou pior, desapego. — Lembra quando eu costumava vim aqui encontrar<br />
você? Eu trazia revistas e aquele estúpido rádio velho que eu costumava ter? E você<br />
roubava...<br />
— Batatas fritas e refrigerante do cooler — ela completou. — Sim, eu lembro.<br />
O silêncio se esticava constrangedoramente entre nós. Continuei circulando pelo<br />
espaço pequeno, olhando para qualquer lugar menos para ela. Todas aquelas palavras<br />
enroladas flexionavam e apertavam seus dedos metálicos, rasgando minha garganta.<br />
Inconscientemente, levei meu polegar a minha garganta. Sinto pequenas pontadas de dor<br />
enquanto roía as cutículas, e isso trouxe de volta um conforto familiar.<br />
— <strong>Hana</strong>? — Lena diz delicadamente. — Você está bem?<br />
Essa única pergunta tola me despedaça. Todos os dedos de metal relaxam de uma<br />
vez, e as lágrimas que eu vinha segurando surgem ao mesmo tempo. De repente eu estou<br />
soluçando e contando a ela tudo: sobre a batida, os cachorros, o som de crânios rachando<br />
sob os cassetetes dos reguladores. Pensar sobre isso de novo me fez sentir como se fosse<br />
vomitar. Em algum momento, Lena colocou os braços ao meu redor e começou a me<br />
consolar murmurando palavras confortadoras. Eu nem mesmo me dei conta do que ela<br />
estava dizendo, e eu não me importava. Apenas tê-la aqui – sólida, real, ao meu lado – me<br />
faz sentir melhor do que eu me senti nas últimas semanas. Aos poucos consigo parar de<br />
chorar, engolindo os soluços e suspiros que ainda escapavam. Tentei dizer que sentia falta<br />
dela, e que eu estava sendo estúpida e errada, mas minha voz estava abafada e grossa.<br />
Traduzido por Grupo Shadows Secrets 37