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nas primeiras horas, matou 3.300 pessoas. Na contabilidade final, calcula-se que 525 mil dos 680 mil<br />

habitantes da região foram afetados e que o número de mortos pode ter chegado a 15 mil.<br />

Acusados de arrogantes, insensíveis e irresponsáveis; ameaçados por centenas de ações judiciais<br />

reclamando indenizações; acuados pelo crescente endurecimento das legislações locais, os dirigentes do<br />

setor químico mundial perceberam que era hora de mudar.<br />

A mudança começou em 1985, com um programa criado pela Canadian Chemical Producers<br />

Association, a associação canadense da indústria química. Batizado de Responsible Care, é um programa<br />

desenhado para melhorar a performance da indústria em relação ao meio ambiente, à segurança e à saúde<br />

do trabalhador. Hoje é adotado pelas associações da indústria química de quarenta países, inclusive o<br />

Brasil, onde foi introduzido em 1992 e rebatizado de Atuação Responsável pela Abiquim – Associação<br />

Brasileira da Indústria Química. Desde 1998, os associados da Abiquim – cerca de duas centenas – têm<br />

obrigatoriamente que aderir ao programa para permanecer na entidade. 17<br />

No site da Abiquim, encontra-se um bom resumo da mudança de postura no setor:<br />

A indústria química, a exemplo da grande maioria das instituições, vinha sempre atuando com o<br />

conceito de que a proteção de seus interesses deveria ser resguardada atrás de seus muros, evitando-se<br />

discutir eventuais problemas com terceiros, incluindo-se aí as comunidades vizinhas às fábricas. As<br />

justificativas mais freqüentes para tal comportamento eram de que os temas ligados à indústria são muito<br />

técnicos e complexos para que possam ser debatidos com leigos, ou então, que envolvem segredos<br />

industriais de propriedade das empresas. Hoje, entretanto, podemos afirmar, categoricamente, que o setor<br />

químico, tanto no Brasil como no exterior, está consciente do fato de que a postura fechada e isolada,<br />

predominante até bem pouco tempo, deve ser substituída pelo diálogo franco e ético com os seus<br />

parceiros e públicos. A indústria sabe que esse diálogo deve estar suportado em ações concretas, que<br />

demonstrem que suas operações e produtos são seguros e não agridem o meio ambiente. 18<br />

A Atuação Responsável ajudou a melhorar o desempenho das indústrias químicas. Entre 1990 e<br />

1996, as emissões de substâncias tóxicas pelas indústrias do setor no Estados Unidos caíram 60%,<br />

enquanto a produção crescia 20%. 19<br />

Como explica o especialista em qualidade ambiental Ciro Eyer do Valle.<br />

As grandes contribuições que a Atuação Responsável traz para a solução dos problemas<br />

ambientais são seu enfoque pró-ativo, sua busca de melhoria contínua, antecipando-se à própria<br />

legislação, e sua visão sistêmica que abarca, em um mesmo programa, as preocupações com segurança,<br />

saúde ocupacional e meio ambiente. 20<br />

Mas a iniciativa da indústria química ainda engatinhava em meados de 1990, quando Maurice<br />

Strong, o secretário-geral da Conferência da ONU marcada para 1992 (numa repetição do papel que<br />

desempenhara vinte anos antes em Estocolmo), pediu a seu principal conselheiro em indústria e comércio<br />

que formulasse uma perspectiva global sobre desenvolvimento sustentável do ponto de vista dos<br />

empresários. Queria estimular o interesse e o envolvimento da comunidade empresarial internacional. O<br />

conselheiro era o rico industrial suíço Stephan Schmidheiny. Como ex-controlador do grupo Eternit na<br />

Suíça, um dos maiores fabricantes mundiais de produtos de amianto, Schmidheiny considerava ter tido<br />

sua quota de responsabilidade na produção de danos ambientais em nome da produção de riquezas.<br />

Passara suas ações adiante e, agora, convertido à causa ambiental, buscava maneiras de atrair os<br />

empresários para a discussão de questões tradicionalmente vistas por eles como assunto exclusivo de<br />

governos e grupos ambientalistas.<br />

O conselheiro convocou 48 empresários e executivos de grandes empresas de 28 países e com<br />

eles fundou o Business Council for Sustainable Development, o BCSD. Do grupo faziam parte dois<br />

empresários do Brasil, Erling Lorentzen, presidente da Aracruz Celulose, e Eliezer Batista da Silva, então<br />

presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Durante o ano de 1991, os membros do BCSD dedicaram-se<br />

17 O programa baseia-se em seis elementos:<br />

1º) Princípios diretivos – as empresas que aderem ao programa comprometem-se a seguir uma lista de<br />

padrões éticos em que basearão suas ações com o objetivo de melhorar seu desempenho nas áreas de meio<br />

ambiente, saúde ocupacional e segurança; 2º) Códigos gerenciais – documentos com as práticas<br />

gerenciais que as empresas se comprometem a seguir para implementar de fato os princípios diretivos;<br />

18 http://www.abiquim.org.br.<br />

19 Schmidheiny, Stephan et alli. Op. cit.<br />

20 Valle, Ciro Eyer do. Como se preparar para as normas ISO 14000 – Qualidade Ambiental. São Paulo:<br />

Pioneira, 2000, 3ª ed.

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