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Capítulo 5<br />

Ecoeficiência: o que é, como praticar<br />

A ecoeficiência é uma filosofia de gestão empresarial que incorpora a gestão ambiental.<br />

Pode ser considerada uma forma de responsabilidade ambiental corporativa. Encoraja as empresas de<br />

qualquer setor, porte e localização geográfica a se tornarem mais competitivas, inovadoras e<br />

ambientalmente responsáveis. O principal objetivo da ecoeficiência é fazer a economia crescer<br />

qualitativamente, não quantitativamente.<br />

A ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços<br />

competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo<br />

tempo que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo<br />

de vida do produto ou serviço, a um nível no mínimo equivalente à capacidade de sustentação<br />

estimada da Terra.<br />

Buscar a ecoeficiência é, portanto, um processo de melhoria contínua, nunca termina. Mais<br />

do que um destino a ser alcançado, a ecoeficiência é um caminho a ser percorrido.<br />

Para ser ecoeficiente, a empresa precisa, antes de mais nada, conhecer o sistema natural em<br />

que opera. Uma importante contribuição das ciências que estudam os sistemas naturais à gestão<br />

empresarial que visa a ecoeficiência é a noção de resiliência: os limites e capacidades de um sistema<br />

de resistir a impactos.<br />

A natureza não é tão efêmera que se desagregue a qualquer impacto, nem tão resistente que<br />

possa absorver impactos indefinidamente. Para a empresa, ignorar a resiliência dos sistemas em que<br />

opera e no qual interfere é um risco mortal. Um dos bancos mais tradicionais do Peru quebrou porque<br />

financiou um número excessivo de modernos barcos de pesca. Equipados com a nova tecnologia, os<br />

pescadores ganharam uma capacidade de captura do pescado maior que a do sistema natural de<br />

recuperar os cardumes. Em poucos anos, não havia mais peixe na região. Quebraram as indústrias de<br />

pesca e, com elas, o banco.<br />

Episódio semelhante ocorreu num parque nacional dos Estados Unidos, aonde os turistas iam<br />

ver alces. Desejosos de atrair mais visitantes, os administradores do parque decidiram aumentar o<br />

número de alces através do extermínio de seus predadores, os lobos. Livre para crescer, a população<br />

de alces explodiu. Em pouco tempo, não havia mais grama suficiente para alimentar a todos.<br />

Emagreceram, perderam a pelagem, ficaram feios. Os turistas sumiram.<br />

O uso excessivo do recurso natural rompe o equilíbrio do sistema ambiental e social e quebra<br />

o sistema econômico. Outra contribuição dos estudos biológicos à gestão empresarial sustentável é a<br />

observação de que a natureza é em si mesma um modelo de <strong>sustentabilidade</strong>. A velha máxima de<br />

Lavoisier de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” é retomada pelas<br />

empresas sustentáveis quando buscam fechar os ciclos de produção. Todos os diversos organismos<br />

que compõem um ecossistema têm algo em comum: produzem detritos, assim como os seres humanos<br />

e suas empresas. Mas nos ecossistemas o que é detrito para uma espécie é alimento para outra. Ou<br />

seja, a natureza está sempre reciclando. É o que buscam fazer as empresas que se querem sustentáveis:<br />

estabelecer sistemas de produção cujo objetivo final, ideal, é gerar zero resíduo. 32 Em tais sistemas,<br />

cada material que sai de qualquer ponto do sistema é devolvido à natureza como nutriente ou se torna<br />

uma nova entrada na fabricação de outro produto. Claro que nenhuma organização humana conseguiu<br />

ainda fechar o ciclo de produção do modo como a natureza o faz. Este é um estado ideal a ser<br />

continuamente perseguido. Mas os esforços começam a surgir, em empresas de variados tamanhos: da<br />

grande siderúrgica que envia a escória de seu alto-forno para a indústria de cimento, à pequena fábrica<br />

de doces que revende as cascas inaproveitadas das frutas a uma igualmente pequena fábrica de<br />

cosméticos (Ver O caso Enfripete.).<br />

32 Para mais detalhes sobre os estudos que defendem a idéia de que as organizações humanas devem<br />

se espelhar nos modelos de organização da natureza, ver Capra, Fritjof. A teia da vida. São Paulo:<br />

Cultrix, 1997 e Pauli, Gunter. Upsizing: Como gerar mais renda, criar mais postos de trabalho e<br />

eliminar a poluição. Porto Alegre: L&PM Editores, 1999, 3ª ed.

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