O paradigma da <strong>sustentabilidade</strong> A noção de <strong>sustentabilidade</strong> pode ser melhor entendida quando atribuímos um sentido amplo à palavra “sobrevivência”. O desafio da sobrevivência - luta pela vida - sempre dominou o ser humano. Inicialmente, no enfrentamento dos elementos naturais; e, mais tarde, sobretudo agora no século XXI, no enfrentamento das conseqüências trazidas pelo imenso poder de transformação desses elementos acumulado pelo homem. No mundo atual, a percepção de que tudo afeta a todos, cada vez com maior intensidade e menor tempo para absorção, gerou o processo de redefinição, conceitual e pragmático – porque não há mais tempo a perder -, do desenvolvimento clássico consumidor de recursos naturais, no qual o homem é incluído como mero animal de produção; e levou à formulação do conceito de desenvolvimento sustentável. Trata-se agora não mais apenas da elite privilegiada se locupletando da energia total do planeta, mas da sociedade administrando em conjunto e de forma sábia suas diferenças e recursos naturais. Não cabe aqui nenhuma divagação de natureza ideológica desta ou daquela corrente, mas sim a constatação científica de que o aquecimento do clima, o aumento da desertificação, o desaparecimento de cursos d´água e a miséria/violência atingem patamares inviáveis para a manutenção da própria sociedade local ou mundial e exigem mudanças imediatas. A base conceitual é tão fácil de explicar quanto difícil de implementar. Trata-se da gestão do desenvolvimento - pontual ou abrangente, nos governos ou nas empresas -, que leve em consideração as dimensões ambiental, econômica e social e tenha como objetivo assegurar a perenidade da base natural, da infra-estrutura econômica e da sociedade. Para a colocação desses conceitos em prática há pré-requisitos indispensáveis: - Democracia e estabilidade política; - Paz; - Respeito à lei e à propriedade; - Respeito aos instrumentos de mercado; - Ausência de corrupção; - Transparência e previsibilidade de governos; - Reversão do atual quadro de concentração de renda esferas local e global. O processo de mudança do antigo paradigma para o novo – o da <strong>sustentabilidade</strong> - está em andamento e envolve literalmente todas as áreas do pensamento e da ação do homem. No meio ambiente encontra campo especialmente fértil, justamente porque a dimensão ambiental perpassa todas as atividades humanas. Os desequilíbrios sócio-ambientais são o resultado do velho paradigma cartesiano e mecanicista, com sua visão fragmentada do mundo – o universo visto como um conjunto de partes isoladas, funcionando como um mecanismo de relógio, exato e previsível. As transformações cada vez mais rápidas causadas pela tecnologia induzem à instabilidade econômica, ambiental e social, por um lado, e à perda da diversidade natural e cultural por outro. O velho paradigma não dá conta de entender e lidar com as complexidades e sutilezas dessas transformações. Já o novo, cujo eixo é a idéia de integração e interação, propõe uma nova maneira de olhar e transformar o mundo, baseada no diálogo entre saberes e conhecimentos diversos: do científico, com toda a sua rica variedade de disciplinas, ao religioso - passando pelo saber cotidiano do homem comum. No mundo sustentável, uma atividade – a econômica, por exemplo - não pode ser pensada ou praticada em separado, porque tudo está inter-relacionado, em permanente diálogo. A tabela a seguir resume as diferenças entre o velho e o novo paradigmas: Tabela 1 – Paradigma cartesiano versus paradigma da <strong>sustentabilidade</strong> Cartesiano Sustentável Reducionista, mecanicista, tecnocêntrico Orgânico, holístico, participativo Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionados Preceitos éticos desconectados das práticas cotidianas Ética integrada ao cotidiano Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e o subjetivo Seres humanos e ecossistemas separados, em uma Seres humanos inseparáveis dos ecossistemas, em relação de dominação uma relação de sinergia Conhecimento compartimentado e empírico Conhecimento indivisível, empírico e intuitivo Relação linear de causa e efeito Natureza entendida como descontínua, o todo formado pela soma das partes Relação não-linear de causa e efeito Natureza entendida como um conjunto de sistemas interrelacionados, o todo maior que a soma das partes
Bem-estar avaliado por relação de poder (dinheiro, influência, recursos) Ênfase na quantidade (renda per capita) Análise Centralização de poder Especialização Ênfase na competição Pouco ou nenhum limite tecnológico Bem-estar avaliado pela qualidade das interrelações entre os sistemas ambientais e sociais Ênfase na qualidade (qualidade de vida) Síntese Descentralização de poder Transdisciplinaridade Ênfase na cooperação Limite tecnológico definido pela <strong>sustentabilidade</strong>
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Há, em todas as partes do mundo, m
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Nesse passo, vale também lembrar a