PARTE II A <strong>sustentabilidade</strong> na empresa: como chegar lá
Capítulo 4 Sustentabilidade = Ecoeficiência + Responsabilidade social A noção precisa da importância do fator tempo é fundamental para a gestão da <strong>sustentabilidade</strong>. O tempo decorrido para o desaparecimento da civilização que habitou a Ilha de Páscoa foi de séculos; o desaparecimento do comércio fluvial no rio São Francisco, induzido pelo intenso assoreamento de sua calha em conseqüência do desmatamento e da erosão da bacia drenante, ocorreu em algumas décadas. 24 Vazamentos de petróleo acontecem em escala de dias ou horas. Alguns acidentes ambientais acontecem em frações de segundo, como as reações químicas envolvidas em acidentes industriais do tipo ocorrido em Bhopal, na Índia, em 1984 – quando gases venenosos da fábrica de pesticidas da Union Carbide vazaram e intoxicaram quinhentas mil pessoas. 25 A <strong>sustentabilidade</strong> exige uma postura preventiva, que identifique tudo que um empreendimento pode causar de positivo - para ser maximizado - e de negativo - para ser minimizado. Os avanços tecnológicos que o homem foi capaz de obter tornaram cada vez mais curto o tempo para que um impacto sobre o meio ambiente e sobre a sociedade seja plenamente sentido. Desmatar uma floresta, assorear um rio, poluir uma baía, contaminar a atmosfera de uma cidade custa hoje infinitamente menos tempo do que há um século. 26 A reparação, porém, nem sempre pode ser acelerada. Além disso, alguns processos de degradação atingem tais níveis que não são mais passíveis de recuperação. Esta pode até ser viável tecnicamente, mas não economicamente. Um exemplo clássico da importância do fator tempo foi a poluição da baía de Minamata, no Japão, por compostos de mercúrio empregados na fabricação de plásticos e perfumes pela empresa Chisso Corporation. Começou na década de 30 do século XX, antes da Segunda Guerra Mundial, num nível em que os instrumentos de medição disponíveis na época sequer detectavam. Ou seja, tecnicamente nem existia poluição em Minamata na ocasião. Só em meados da década de 1950 os danos ambientais começaram a se tornar visíveis, quando um número anormalmente alto de casos de anomalias no sistema nervoso dos habitantes da região chamou a atenção de médicos. A doença, batizada de “mal de Minamata”, foi associada à contaminação dos peixes capturados na baía e consumidos pela população. Mesmo assim, ainda decorreriam quase 20 anos até o despejo de mercúrio ser interrompido. De 1932 a 1968, foram despejadas 27 toneladas de compostos de mercúrio nas águas da baía japonesa. Hoje, Minamata não tem mais recuperação. Pela quantidade de contaminante e o tamanho da área contaminada, a única opção ali é deixar os sedimentos mais recentes se acumularem sobre o mercúrio depositado. E não mexer, para que não aflore novamente. A adesão à busca da <strong>sustentabilidade</strong> pressupõe, portanto, uma noção clara da complexidade e das sutilezas do fator tempo. Sobretudo, exige uma postura não imediatista, uma visão de planejamento e de operação capaz de contemplar o curto, o médio e o longo prazo. A gestão da <strong>sustentabilidade</strong> exige também a consciência da importância do fator espaço. Ações locais, geograficamente restritas, têm um efeito global se são replicadas. Assim, uma iniciativa para proteger do turismo predatório e da urbanização descontrolada a Vila do Aventureiro, aglomerado de 34 casas perdido numa reserva biológica da Ilha Grande, Estado do Rio, deve ser 24 Até os anos 50 do século XX, o rio São Francisco era quase todo navegável. Perdeu parte da navegabilidade com a construção de barragens e outra parte por causa do desmatamento, que favoreceu a erosão fluvial e eólica. A falta de manejo adequado daquela bacia em termos de recuperação e contenção de solo inviabilizou toda uma atividade econômica da região, que era a navegação. Hoje, o rio só é navegável em trechos muito pequenos. 25 Considerado o pior acidente industrial do século XX, o vazamento de gases venenosos da fábrica da Union Carbide na cidade indiana de Bhopal, na noite de 2 para 3 de dezembro de 1984, intoxicou 500 mil pessoas, metade da população local. Oito mil morreram quase imediatamente. 26 Até poucas décadas atrás, para cortar uma árvore de grande porte usava-se o trado, um serrote manejado por duas pessoas. Levavam-se semanas para derrubar uma pequena área de floresta. Hoje, com o uso de motosserras, correntes e tratores, desmatam-se áreas enormes em alguns dias.
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