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Revista Curinga Edição 07

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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de para se<br />

manifestar<br />

contra a indústria<br />

de venda de<br />

radares para a Guerra<br />

do Vietnã, que tinha uma<br />

ligação com a gravadora”.<br />

Em contrapartida, o produtor<br />

musical Augusto Pereira aponta<br />

o grande interesse dos cantores de 60<br />

em atrelar-se à denominação Música Popular<br />

Brasileira (MPB) para conseguir mais<br />

ouvintes e vender mais discos. Segundo ele,<br />

a regra era: “Voz e violão, compassos lentos,<br />

tranquilos, com rimas repetitivas, com muitos<br />

‘ão’, no formato de um hino, coisa fácil<br />

de decorar.” Assim, muitas “canções de protesto”<br />

foram apropriadas pela indústria fonográfica<br />

como “canções de protesto da MPB”.<br />

A receita de produção era simples e os lucros<br />

das vendas iam além dos dizeres nas manifestações.<br />

O estudante Matheus Neres, que já<br />

milita há alguns anos em movimento social,<br />

concorda com a regra descrita acima e afirma<br />

que essa lógica permanece. “As canções<br />

se tornam hino quando são reiteradamente<br />

utilizadas nas manifestações, e quando conseguem<br />

ser aprendidas com facilidade”, diz.<br />

Na maioria das vezes, os interesses da<br />

indústria fonográfica e/ou dos cantores não<br />

permitem que algumas canções sejam vistas<br />

como protesto devido ao preconceito com<br />

bandas rotuladas como bregas, satânicas, ou<br />

consideradas disseminadoras de apologia ás<br />

drogas, sexo e violência. O grupo de heavy<br />

metal Iron Maiden, por exemplo, usa na canção<br />

Clansman metáforas para falar do abuso<br />

de poder, da exploração e dos problemas de<br />

uma sociedade caótica.<br />

O movimento punk da década de 80 também<br />

é uma dessas referências, assim como o<br />

rap, reggae, samba e funk. O mestrando em<br />

história, Eder Novaes, destaca a importância<br />

da banda inglesa The Clash, lembrada por seu<br />

engajamento político para o cenário do punk<br />

brasileiro, que também nasceu nas periferias.<br />

Para ele o ‘protesto’ do punk se faz de maneira<br />

distinta, abarcando outros pontos da sociedade<br />

brasileira, como a desigualdade decorrente<br />

do excesso de privilégios pelas classes<br />

dominantes. Além disso, o punk queria revolucionar<br />

a música, como visto na canção de<br />

Clemente Tadeu Nascimento, do grupo Inocentes<br />

“Nós estamos aqui para revolucionar a<br />

MPB, pra pintar de negro a asa branca,atrasar<br />

o trem das onze, pisar nas flores do Geraldo<br />

Vandré, e fazer da Amélia uma mulher qualquer.”<br />

Estudiosos<br />

como<br />

Marcos Napolitano<br />

e Fábio Zan acreditam<br />

que a realidade social<br />

faz as próprias classes desfavorecidas<br />

começarem a usar a música<br />

como protesto. Muitos artistas da nova<br />

geração da música de protesto se envolvem<br />

diretamente em ações sociais e alegam que a<br />

corrente atual é uma música política de resultados,<br />

não de utopias como viveram os jovens<br />

de 60. O historiador Luiz Carlos Maciel<br />

acredita que a origem pobre desses artistas<br />

justifica sua participação social mais objetiva.<br />

Em matéria do portal CliqueMusic da Uol,<br />

Mv Bill afirma ter o projeto de montar cursos<br />

profissionalizantes na Cidade de Deus e é um<br />

dos fundadores do Partido Popular Poder para<br />

a Maioria (PPPomar), um partido político do<br />

movimento negro. Já o grupo O Rappa é citado<br />

na mesma matéria por ter uma conhecida<br />

relação com a FASE (Federação de Órgãos<br />

para Assistência Social e Educacional), divulgando<br />

o trabalho da ONG. Na Bahia em 1983,<br />

surgiu o Afroreggae, um grupo que produzia<br />

um jornal sobre cultura negra e ao longo do<br />

tempo se transformou em uma ONG fortemente<br />

ativa ,além de atuar como banda.<br />

Com isso, as canções de protestos das periferias<br />

serviram para re-significar o termo apresentando<br />

os problemas locais e contribuindo<br />

para solucionar suas carências através de projetos<br />

sociais.<br />

Lugares marginalizados definem por si só<br />

a letra dessas canções, mostrando que elas<br />

ganharam forma e significados ao longo dos<br />

anos e não se fizeram presente somente em<br />

períodos emblemáticos da história. A canção<br />

de protesto é portanto a voz que em diferentes<br />

timbres reclama o esquecimento e os direitos<br />

de um povo. Um grito encantado que<br />

deve continuar fazendo história, ajudando a<br />

transformar a realidade.

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