Revista Dr. Plinio 238
Janeiro de 2018
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Samuel Holanda<br />
Hagiografia<br />
Voz interior provocada<br />
pela graça<br />
O que tem mais mérito: seguir os<br />
Anjos ou a voz interior? Segundo a<br />
“heresia branca” 2 seria os Anjos porque,<br />
para esse tipo de mentalidade,<br />
a aparição de um Anjo é a prova<br />
da santidade; mais ainda, se uma<br />
pessoa tem a emoção santificante de<br />
ver o Anjo, naquela sensação ela fica<br />
santa de uma vez. É uma espécie de<br />
suspiro santificante. De maneira que<br />
o mais importante é ter recebido o<br />
anúncio de um Anjo e corresponder.<br />
Além disso, é mais espetacular ver<br />
o Anjo, porque voz interior, quantos<br />
têm? Depois, sabe-se lá se é voz interior<br />
ou não? Pode haver dúvidas.<br />
Com um Anjo não, é uma coisa provada,<br />
garantida e, ademais, importante:<br />
Deus mandou um Anjo para<br />
falar com aquele; oh, não é pouca<br />
coisa! Voz interior é a vida de todos<br />
os dias, uma coisa apagada, sem graça,<br />
desbotada. Então, muito mais vale<br />
receber um anúncio pelos Anjos, e<br />
é mais fiel quem o segue.<br />
Os Reis Magos retomam o caminho<br />
guiados pela estrela<br />
Entretanto, Dom<br />
Guéranger, um grande<br />
teólogo e especialista<br />
na consideração<br />
destes temas, mostra<br />
que a operação interna<br />
da graça numa alma<br />
vale mais do que<br />
qualquer fato externo,<br />
e que a fidelidade<br />
à voz interior é mais<br />
preciosa do que a fidelidade<br />
a um anúncio<br />
exterior; e por<br />
causa disto aqueles<br />
que não viram o Anjo,<br />
mas creram nessa<br />
voz interior, tiveram<br />
maior mérito.<br />
Evidentemente,<br />
a voz interior não é<br />
um cochicho, mas<br />
um jogo de espírito<br />
provocado pela graça, por onde a alma<br />
percebe, discerne, pondera e, iluminada<br />
pela graça, chega às conclusões<br />
impregnadas de espírito de fé.<br />
Esse é diretamente um fruto do Espírito<br />
Santo, e a fidelidade<br />
a isso é mais árdua,<br />
mas ao mesmo<br />
tempo mais meritória,<br />
do que a fidelidade<br />
dos pastores ouvindo<br />
a voz dos Anjos.<br />
Poder-se-ia objetar:<br />
“Mas essas vozes<br />
interiores às vezes<br />
enganam.”<br />
É bem verdade,<br />
mas qual é a consequência?<br />
É que<br />
Deus faz mal em nos<br />
falar por meio da voz<br />
interior? Quem ousaria<br />
censurar o Onipotente?<br />
E se Deus<br />
não faz mal, deveríamos<br />
não ouvir, como<br />
Os Reis diante de Herodes<br />
quem dissesse: “Deixa-O<br />
ir falando...”?<br />
Há uma frase na Escritura<br />
que diz: “Se hoje ouvirdes a<br />
sua voz, não endureçais os vossos corações”<br />
(Sl 94, 8). Portanto, não podemos<br />
fazer ouvido mouco à ação interna<br />
da graça na alma, mas devemos<br />
saber discernir, com o auxílio que o<br />
próprio Deus nos dá para isso.<br />
Aqui se aplica bem a palavra de<br />
Nosso Senhor a São Tomé: “Tu creste<br />
porque me viste. Bem-aventurados os<br />
que não viram e creram” (Jo 20, 29).<br />
É fecundíssimo este pensamento.<br />
Jesus no berço já<br />
estava dividindo,<br />
causando polêmica<br />
Outro aspecto que o texto ressalta<br />
é a degradação do povo eleito. Nascido<br />
o Messias, esse povo deveria receber<br />
o aviso de seu nascimento. Ora,<br />
esse aviso precisaria ser dado em Jerusalém<br />
e no Templo. O normal seria<br />
que todos os sacerdotes reunidos no<br />
Templo, num momento em que uma<br />
nuvem áurea entrasse no recinto sagrado<br />
e um cântico angélico se deixasse<br />
sentir, tivessem a confirmação<br />
daquilo do que suas almas já lhes es-<br />
Samuel Holanda<br />
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