Silvânia Aparecida lamenta a perda do subdistrito Bento Rodrigues. “É triste demais você ver as pessoas perderem tudo.” “O distrito continua de pé” Camargos como um dos primeiros povoados de Minas Gerais, foi fundado entre 1700 e 1701 pelos irmãos Camargos, que saíram de São Paulo e foram garimpar ouro no local. Porém, o monsenhor Raymundo Trindade, sacerdote e historiador, em seu livro “Instituição de Igrejas e Bispado de Mariana”, relata que a Paróquia de Camargos já existia desde <strong>16</strong>98, quando ainda era conhecido apenas como um vilarejo, sendo elevado a distrito em 1836. O censo à época contabilizou 336 habitantes no local. Segundo o professor Cristiano Cassimiro, o esvaziamento do distrito seu deu pela perda da organização paroquial e, quando na década de 1980, houve a divisão do polo educacional e Camargos perdeu a escola. “Quando se tira a escola do lugar é isso que acontece.” Além disso, entre 1970 e 1980, a prefeitura de Mariana criou políticas públicas para a construção de bairros e trouxe a população de alguns distritos para habitá-los. O morador Dario Pereira conta que a partir de 1950, quando as empresas mineradoras começaram a chegar, que as famílias foram saindo de Camargos em busca de oportunidades de trabalho nas regiões próximas. “Quando chegaram essas empresas aqui eles começaram a fichar o pessoal das roças. E foi saindo gente. Aqui foi um distrito sofrido, saiu mais gente daqui.” Desde então o distrito, aos poucos, se tornou o Camargos que conhecemos hoje. O filho, Dario Junior, é presidente da Associação de Moradores e Amigos de Camargos e explica que os problemas encontrados no distrito - como a falta de transporte público, falhas no abastecimento de água, pavimentação da estrada e calçamento - são fatores que interferem no crescimento do local. Ele conta que há projetos, já de muito tempo, para uma revitalização e urbanização do distrito. Porém, o presidente da Câmara de Vereadores de Mariana, Antônio Marcos Ramos Freitas, o Tenente Freitas, diz que a câmara não recebeu nenhuma demanda para revitalização ou melhorias no distrito. “Ninguém de lá nunca nos procurou para falar sobre qualquer possível demanda. Para os moradores nos solicitarem algo, como isso do transporte, a Associação de Moradores normalmente é o melhor caminho. As vezes não precisa nem de audiência, é só nos encaminhar um abaixo assinado, que agendamos uma visita. Tem coisas que só vamos descobrir necessárias se alguém trouxer.” O rompimento da barragem atingiu além daquilo que a lama de rejeitos alcançou. Moradores do distrito tiveram sua rotina tomada por alertas e esperam a criação de outro Bento. Tenente Freitas acredita que a construção de um novo Bento Rodrigues nas proximidades de Camargos iria valorizar a região e não perderia a união entre eles, porém dependeria da vontade da comunidade. “A Samarco é dona de muitos terrenos ali, ela podia pegar um desses terrenos e construir o Bento. É a região que eles vieram, morar por ali, seria como manter a tradição, os laços.” O tenente aponta que deveria também ter um memorial de Bento em suas proximidades e que talvez poderia ser um caminho para Camargos para, quem sabe, conseguir um repovoamento do local. Dario Junior contextualiza Camargos após o rompimento da barragem de Fundão. “Bento Rodrigues foi devastado, não tem mais jeito. Camargos infelizmente teve uma parte atingida, mas o distrito continua de pé, em momento algum abaixamos a cabeça. Mas mudou completamente a nossa forma de viver porque não temos uma informação concreta do que vai ser. Qual o risco que Camargos tem hoje? Eu não sei, não posso dizer.” Às 17h entramos no carro da reportagem de volta a Mariana. Com o coração ainda apertado, porém compreendendo e conhecendo melhor Camargos e seus moradores, seguimos em silêncio. Na mesma estrada encontramos um pavão com as asas baixas, imóvel, até mesmo quando passamos por ele. Apesar disso, enfeitou o caminho e nos deixou a lembrança da beleza e simplicidade do distrito de Camargos, que mesmo abalado, tem muito a contar e a se redescobrir.
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