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Revista Curinga Edição 16

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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“É sempre bom olhar para todos os<br />

lados”<br />

Em vida, ninguém nunca mais os viu. Os restos mortais<br />

foram identificados pelas famílias ou por exames. Os<br />

direitos de 14 trabalhadores foram soterrados pela lama<br />

da barragem de Fundão da Samarco Mineração S.A.<br />

50 dias depois, Samarco e as famílias das vítimas da<br />

tragédia fecharam um acordo parcial. Como antecipação<br />

das indenizações, cada família receberia R$ 100 mil. O<br />

acordo ainda não foi cumprido para a família de Lucas*.<br />

Mesmo não tendo recebido o montante prometido pela<br />

empresa, a família vê o valor como um pagamento simbólico.<br />

“Esse dinheiro representa uma forma de justiça já<br />

que sabemos que os responsáveis não serão presos.”<br />

Além do adiantamento, as famílias dos trabalhadores<br />

têm direito a indenizações por danos morais e materiais.<br />

“Aqueles que dependiam das rendas das vítimas também<br />

podem entrar com ação de alimentos, pelo qual a empresa<br />

será obrigada a pagar uma pensão por tempo indeterminado.<br />

O juiz levará em conta a duração provável da<br />

vida das vítimas”, explica o advogado Brás Melo.<br />

Há alguns casos específicos, nos quais as representações<br />

sindicais traçam acordo coletivo com as empresas<br />

no momento das contratações. Uma cláusula específica<br />

resguarda o seguro de vida do contratado.<br />

Para os terceirizados, representados pelo Sinticop-<br />

MG, por exemplo, o valor deste seguro é de R$ 35 mil. “O<br />

valor de R$ 100 mil pagos às vitimas, trabalhadores ou<br />

não, quem paga é a Samarco, ela é a empresa responsável<br />

pelo ocorrido. Portanto, ela quem indeniza”, explica José<br />

Antônio da Cruz, presidente do sindicato.<br />

Junto dos valores, as famílias têm direito a ajuda<br />

psicológica e social. Os filhos de Lucas e seu João consideram<br />

a assistência insuficiente. “Não recebemos ajuda<br />

psicológica… Vieram psicólogos apenas recolher informações<br />

do grupo familiar mas não considero isso como<br />

assistência psicológica.”, conta o filho de Lucas.<br />

“No dia do acidente, procuramos por informação e<br />

ninguém tinha. No dia seguinte, a empreiteira falou que<br />

meu pai estava desaparecido e deu uma assistência psicológica<br />

mais ou menos. Já a Samarco, mandou psicólogo<br />

lá em casa umas duas vezes. Nem pra ligar, pra perguntar<br />

se estamos bem… nada! O auxílio psicológico não foi<br />

suficiente. Nada suficiente.”, relata a filha de Seu João,<br />

que segue indignada com a demora na apuração do caso.<br />

Diretor executivo do Sindicato Metabase Mariana,<br />

Sérgio Alvarenga de Moura, pensa diferente. Considera<br />

que, como as famílias não reclamaram, o atendimento<br />

tem funcionado. “A gente tem acompanhado esses atendimentos<br />

dentro do possível. Não chegou para nós nenhuma<br />

informação de que tem sido um tratamento deficitário.<br />

Então a gente entende que está sendo bem feito.”<br />

Passados cem dias, cabe a pergunta: Quem mais sofre<br />

com a tragédia? O Sindicato Metabase responde: “Todos<br />

nós”. Lembrando da base da empresa, quem gera os lucros,<br />

são os trabalhadores. “Os empregados e contratados<br />

são tão vítimas dessa tragédia quanto quem perdeu seus<br />

parentes, quem teve sua casa destruída, um pescador que<br />

não pode mais pescar. Todo mundo está sofrendo”.

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