Gestão Hospitalar N.º16 1986
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,,<br />
A<br />
REDUÇÃO DE CUSTOS ~f<br />
HOSPITALARES · ~ .~~<br />
....<br />
tante papel de apoio. Será, certamente,<br />
um dos serviços hospitalares<br />
do futuro. O encargo de investimento<br />
e de exploração é pequeno. Assim,<br />
por exemplo, o custo de investimento<br />
de um serviço domiciliário de um<br />
hospital geral central de 800 camas é<br />
da ordem de 8000 contos. t de crer<br />
que a existência deste serviço acarretará<br />
um benefício no custo de exploração<br />
em virtude da diminuição da<br />
demora média devdida aos doentes<br />
terem alta mais cedo; há que acrescentar<br />
os benefícios de ordem humana<br />
e social. t evidente que não se estão<br />
a considerar os casos sociais, partindo-se<br />
do princípio de que os doentes<br />
poderão continuar a ser assistidos<br />
em suas casas.<br />
e) Centralizações externas<br />
e semi-externas<br />
Quanto maior for o número de centralizações<br />
externas e semi-externas<br />
de que um hospital beneficia, tanto<br />
menor será o custo de investimento<br />
devido à redução das áreas correspondentes<br />
aos serviços centralizados<br />
externamente e aos semi-externos implantados<br />
fora do hospital. Em princípio,<br />
o custo de exploração será menor<br />
em virtude do encargo correspondente<br />
ao apoio dos serviços centralizados<br />
ser mais reduzido devido a estes<br />
apresentarem maior rentabilidade.<br />
No caso de um hospital que dispõe<br />
de uma centralização semi-externa, o<br />
seu custo de investimento será maior<br />
mas o custo de exploração será menor<br />
em virtude de beneficiar do menor<br />
custo de exploração desse serviço e<br />
das receitas por serviços prestados a<br />
outros hospitais.<br />
As centralizações externas e semi<br />
-:externas verificam-se especialmente<br />
nos serviços de acção médica, nos<br />
serviços gerais e nos equipamentos.<br />
No que toca aos serviços de acção<br />
médica, os serviços de cirurgia cardio<br />
-torácica ou de transplantações (por<br />
só existirem em alguns hospitais) são<br />
automaticamente serviços centralizados<br />
relativamente ao conjunto de<br />
hospitais onde se inserem. t também<br />
o caso dós serviços ou unidades de<br />
genética, grandes queimados, radioterapia,<br />
etc. Se um dia se concretizar<br />
o Laboratório de Medicina Nuclear<br />
previsto para Lisboa (já programado),<br />
ele constituirá uma centralização externa<br />
por não pertencer a nenhum<br />
hospital e servir os hospitais de Lisboa<br />
que dele venham a necessitar.<br />
No que se refere aos serviços gerais,<br />
em Portugal não há propriamente<br />
centralizações externas (com excep-<br />
ção do Serviço de Aprovisionamento<br />
do Ministério e dos Serviços de Informática<br />
de Saúde de Lisboa, Porto e<br />
Coimbra) embora elas sejam frequentes<br />
na Europa (como é o caso do tratamento<br />
de roupa e da esterilização<br />
de produtos). Existem centralizações<br />
semi-externas dentro dos grupos e<br />
centros hospitalares, só raramente<br />
ultrapassando este âmbito.<br />
Quanto aos equipamentos médicos,<br />
os poucos aparelhos altamente diferenciados<br />
existentes (como, por exemplo,<br />
os de angiografia digital, as<br />
câmaras hiperbáricas e os aceleradores<br />
lineares) são centralizados relativamente<br />
aos hospitais da área<br />
de influência da população que polarizam.<br />
f) O tecto financeiro<br />
O tecto financeiro pode ser um factor<br />
importantíssimo de redução de<br />
custos se for, efectivamente, um dado<br />
que se tem de cumprir rigorosamente.<br />
Nestas condições, ele impõe custos e<br />
agudizará o engenho dos especialistas<br />
e dos técnicos para se conseguir<br />
o melhor dentro da limitação financeira<br />
imposta. ~ curioso referir que,<br />
em Portugal, país de limitados recursos<br />
económicos, não têm sido impostos<br />
tectos financeiros como premissa<br />
de planeamento no que se refere à<br />
construção de novos hospitais ou à<br />
execução de planos directores de<br />
grande volume em hospitais existentes.<br />
Em termos de investimento, se o<br />
tecto for muito baixo poder· correr<br />
-se o risco do hospital não vir' a dispor<br />
dos meios necessários e suficientes<br />
para atingir os seus objectivos,<br />
mesmo dentro de uma grande modéstia<br />
de composição programática, de<br />
acabamentos, de equipamentos e de<br />
instalações técnicas especiais: há, portanto,<br />
um limiar inferior que também<br />
não deve ser ultrapassado.<br />
&. . t):<br />
O tecto financeiro funciona como<br />
um travão desejável para refrear os<br />
apetites insaciáveis não só dos futuros<br />
uti 1 izadores, nomeadamente dos<br />
médicos, mas também dos técnicos<br />
projectistas e construtores que sempre<br />
querem apresentar uma obra grandiosa<br />
e o que há de «novidades» e de<br />
melhor em equipamento tradicional.<br />
Embora na sua essência aqueles desejos<br />
até sejam louváveis, a verdade é<br />
que o realismo terreno impõe limitações<br />
que se devem cumprir.<br />
Se o custo de investimentos se<br />
pode reduzir através de um tecto<br />
financeiro criteriosamente estabelecido,<br />
o custo de exploração beneficiará<br />
automaticamente dessa redução,<br />
pressupondo-se que não haverá faltas<br />
que prejudiquem os objectivos desejados<br />
(as quais, por sua vez, se poderão<br />
traduzir num aumento destecusto).<br />
Como conclusão afirma-se ser possível<br />
e desejável a redução dos custos<br />
de investimento e de exploração de<br />
novos hospitais e de grandes remodelações<br />
e ampliações de hospitais existentes<br />
por meio de um planeamento<br />
adequado, baseado em conhecimentos<br />
técnicos sólidos e no bom senso<br />
de especialistas idóneos. Não se pode<br />
aceitar o amadorismo dada a enorme<br />
responsabilidade funcional e material<br />
dos hos'pitais modernos. Portugal<br />
aind~ necessita de alguns hospitais<br />
novos e de ampliações e profundas<br />
remodelações (de acordo com planos<br />
directores) em muitos hospitais existentes.<br />
Há, por consequência, um<br />
grande campo de acção potencial<br />
onde se impõe a obtenção de reduções<br />
consideráveis nos custos de<br />
investimento e reduções importantes<br />
nos custos de exploração (sem prejuízo<br />
da funcionalidade dos hospitais)<br />
à custa do engenho dos especialistas.<br />
o<br />
J<br />
1<br />
J<br />
)<br />
A INFORMATIZAÇÃO<br />
DO LABORATÓRIO HOSPITALAR<br />
DO QUERER, DO PEDIR, DO APRECIAR E DO AGRADECER<br />
POR CARLOS ALBERTO FERRER ANTUNES*<br />
A definição do cliente ideal, ouvida num restaurante da Costa Oriental<br />
de África, serve de tema introdutório a uma reflexão sobre a informatização<br />
do laboratório em meio hospitalar.<br />
lnician'do com uma análise funcional do laboratório de doentes<br />
ambulatórios, são depois sublinhadas as diferenças encontradas num<br />
modelo hospitalar, capazes de pôr em causa o êxito da transferência<br />
de aplicações informáticas entre ambos.<br />
Como responsáveis duma elevada taxa de insucesso da informática<br />
laboratorial, aponta o insuficiente conhecimento da estrutura a<br />
informatizar e o subdimensionamento do equipamento utilizado.<br />
oi num fim de tarde ocioso, há<br />
mais de uma dúzia de anos,<br />
que ouvi a definição, que me<br />
tem orientado a formulação<br />
dos objectivos, a escolha dos caminhos<br />
e a avaliação dos resultados<br />
atingidos.<br />
O dono desse pequeno restaurante,<br />
que do alto dominava um oceano ·<br />
Índico particularmente belo, desenvolvia,<br />
debruçado sobre a nossa mesa,<br />
o elogio de um qualquer ausente. E<br />
terminava em jeito de síntese: «Era o<br />
cliente ideal : sabia o que queria, sabia<br />
pedir, sabia apreciar e sabia agradecer.))<br />
.<br />
Ao longo dos anos, verifiquei que a<br />
palavra «cliente)) não passava duma<br />
* Director do Laboratório de Hematologia<br />
dos Hospitais da Universidade<br />
de Coimbra<br />
Membro da Comissão de Informática<br />
da Ordem dos Médicos ·<br />
mera ligação ao discurso, e substituíla<br />
por qualquer outra característica,<br />
mantinha invariavelmente inteiro o<br />
valor lógico da sentença.<br />
Também o responsável por um laboratório,<br />
ou quem decide da validade<br />
dum investimento em informática, deveria<br />
saber o que queria, saber compulsar<br />
o ménú dos produtos existentes,<br />
saber apreciar os méritos reais<br />
da solução escolhida e, se fosse caso<br />
disso, saber agradecer.<br />
Mas tudo indicia que estamos bem<br />
longe deste perfil ideal, e que o casamento<br />
entre a informática e o laboratório<br />
não é, na maior parte dos casos,<br />
uma ligação conseguida. Ao invés do<br />
que todos previam, é antes o quotidiano<br />
duma ligação mantida com esforço,<br />
com níveis de exigênciadegradados,<br />
embora, «noblesse oblige))'<br />
com uma imagem exterior de harmonia,<br />
pois a simples coabitação com a<br />
informática, ainda representa alguns<br />
pontos na pauta de cotação do prestígio.<br />
No entanto, os laboratórios são uma<br />
praça forte há muito ocupada pela<br />
informática.<br />
Nos equipamentos de análise laboratorial,<br />
veio a transformação analógico/digital<br />
das medições e o tratamento<br />
dos resultados, veio o comando<br />
do funcinamento e o diagnóstico de<br />
avarias monitorizados em display, veio<br />
a flexibilização do uso, com programas<br />
memorizando tempos, comprimentos<br />
de onda, temperaturas e constantes.<br />
E porque tardava a chegada das<br />
restantes hostes informáticas, os analisadores<br />
começaram a ostentar programas<br />
de controlo de qualidade, a<br />
gerar gráficos, a imprimir resultados,<br />
a memorizar determinações anteriores,<br />
etc., etc.<br />
Veio depois a contaminação inespecífica<br />
dos pequenos computadores<br />
pessoais, que na sua investida vitoriosa,<br />
conseguiram lugar nas bancas,<br />
ao lado de pipetas e centrífugas ou,<br />
pelo menos, na secretária do director,<br />
processando textos, organizando ficheiros,<br />
ou fazendo os poucos cálculos<br />
que os analisadores ainda não<br />
realizavam.<br />
Poderíamos pensar que, apesar de<br />
toda esta vasta oferta, o meio laboratorial<br />
tivesse sido reactivo à informá-<br />
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<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> • Ano IV • N. 0 16<br />
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