Gestão Hospitalar N.º16 1986
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APLICAÇÃO<br />
DE MODELOS MATEMÁTICOS<br />
....<br />
gramação linear, dado que a descoberta<br />
de Dantzig surgiu enquadrada na<br />
equipa de trabalho do projecto SCOOP<br />
(Scientific Computation of Optimum<br />
Program} da USAF (Força Aérea dos<br />
EUA}.<br />
Daí para cá as aplicações da programação<br />
linear têm-se vindo a desenvolver<br />
especialmente na indústria e também<br />
na agricultura fundamentalmente<br />
para resolver problemas de planeamento<br />
da produção, muito embora, na<br />
generalidade da bibliografia, sejam<br />
também apresentadas formalizações·típicas<br />
de problemas de análise de actividades,<br />
de transporte, de investimento,<br />
de repartição da produção entre empresas<br />
de um sector e da dieta.<br />
A PROGRAMAÇÃO LINEAR<br />
Os modelos matemáticos de programação<br />
linear são modelos de explicação<br />
- previsão, porque não só mostram<br />
como as coisas se passam, como<br />
os diferentes factores reagem entre si,<br />
como a medida de eficiência ou funçã9<br />
objectivo evolui em função das variáveis<br />
de acção, mas também porque não se<br />
limita a verificar o passado, aplicandose<br />
ao futuro para permitir a tomada de<br />
decisões.<br />
De facto, a programação linear através<br />
do algoritmo do Simplex, ai('. m de<br />
nos indicar a solução óptima para um<br />
dado problema, fornece também um<br />
conjunto muito importante de informações<br />
úteis aos responsáveis pelas tomadas<br />
de decisões.<br />
FORMA GERAL<br />
Os modelos aplicados em investigação<br />
operacional apresentam-se frequentemente<br />
com uma expressão matemática<br />
complicada. No entanto, a<br />
estrutura de um modelo de progra-<br />
, mação linear é bastante simples.<br />
O problema geral da programação<br />
linear consiste na determinação do<br />
óptimo (máximo ou mínimo) de uma<br />
função linear de n variáveis xj (j = 1,<br />
2, ... , n), a função objectivo, ligadas<br />
por equações ou inequações lineares,<br />
chamadas restrições. Ou seja:<br />
Função Objectivo:<br />
Sujeito a:<br />
n<br />
Max L == ! 1 ·X·<br />
J J<br />
j == 1<br />
!<br />
n<br />
j == 1<br />
j = (1,2, ... , n)<br />
a .. X·~ b·<br />
1 J J 1<br />
i = (1,2, .. ., p)<br />
xj ~O<br />
Em que, admitindo que se tratava<br />
de um problema de planeamento de<br />
produção, teríamos:<br />
L = lucro global que se pretende<br />
maximizar;<br />
xi = variável em que se quantifica a<br />
produção (produtos de 1 a n);<br />
li = lucro unitário de cada unidade<br />
de produto j :<br />
ai. = quantidade necessária de recurso<br />
J i (matéria-prima, mão-de-obra,<br />
etc.), para produzir uma unidade<br />
de produto j;<br />
bi = quantidades disponíveis de recursos<br />
i.<br />
INT~RPRETAÇÃO ECONÓMICA,<br />
ANALISE PÔS-OPTIMAL<br />
E ANÁLISE DE SENSIBILIDADE<br />
Admitindo ainda que se trata de um<br />
problema de planeamento da produção,<br />
a resolução do modelo pelo<br />
método do Simplex indicava-nos qual<br />
o número de unidades, dos diferentes<br />
tipos de produtos que se deveria produzir<br />
para maximizar o lucro.<br />
Além da solução, extraordinariamente<br />
importante, que constitui um<br />
plano de produção, afectando de forma<br />
óptima os recursos necessários,<br />
disporíamos também de dados que<br />
nos possibilitariam fazer uma interpretação<br />
económica, importante para<br />
a tomada de decisões, em domínios<br />
como o da valorização dos recursos e<br />
o da análise custos-benefícios.<br />
De facto, o modelo dá-nos valores<br />
que medem as produtividades marginais<br />
dos recursos raros, que nos<br />
permitem saber quais os efeitos que<br />
se verificariam na função objectivo<br />
(nos lucros) r'esultantes da utilização<br />
de mais, ou menos, uma unidade desses<br />
recursos e simultaneamente quais<br />
as alterações - através das taxas<br />
marginais de substituição - que haverão<br />
que se fazer na produção, por<br />
esse motivo.<br />
É também o caso da pós-optimização<br />
que nos permite saber quais as<br />
consequências sobre a solução óptima<br />
de uma variação dos dados numéricos<br />
do problema.<br />
Esta questão de conhecer as consequências<br />
na solução óptima face à<br />
alteração dos dados do problema,<br />
pode pôr-se depois de uma solução<br />
óptima encontrada, ou logo de princípio<br />
quando se pretende explorar um<br />
conjunto de soluções possíveis, considerando<br />
certos parâmetros como<br />
dados que podem variar.<br />
A análise pós-optimal consiste, no<br />
fundo, em gerar novas soluções óptimas<br />
(o que é fácil com a utilização de<br />
computadores), fazendo variar os segundos<br />
membros das restrições (limites<br />
dos recursos), os coeficientes<br />
"input - output" das restrições (indicadores<br />
de produtividade) ou os coeficientes<br />
da função objectivo (margem<br />
de lucro).<br />
O algoritmo do Simplex, como método<br />
de resolução dos problemas de<br />
programação linear, permite-nos ainda<br />
análises de sensibilidade através das<br />
quais se estuda a ccvizinhança)' de<br />
uma solução óptima, ou seja, indica<br />
-nos os intervalos de variação nos<br />
quais um parâmetro ou uma variável<br />
se podem movimentar sem que a<br />
solução óptima se altere. Por exemplo,<br />
numa óptica empresarial consistirá<br />
em saber quando pode variar a<br />
margem unitária de lucro de um produto<br />
sem ser necessário modificar a<br />
estrutura da produção ou base óptima.<br />
APLICAÇÕES<br />
DA PROGRAMAÇÃO LINEAR AO<br />
SECTOR DA SAÚDE<br />
Ficou dito na introdução que a<br />
construção dos modelos de investigação<br />
operacional constitui simultaneamente<br />
um processo de abstracção,<br />
porque há necessidade de simplificar,<br />
e de generalização, porque se<br />
pretende um determinado sistema ou<br />
fenómeno.<br />
Por estas razões os instrumentos<br />
matemáticos não estão isentos de se<br />
traduzirem em falhanços, não havendo<br />
certos cuidados na sua construção,<br />
especialmente se se pretendem aplicar<br />
aos Serviços de Saúde, onde,<br />
devido ao elevado grau de complexidade<br />
do seu funcionamento, as rela<br />
-ções entre as diferentes variáveis não<br />
são facilmente linearizáveis e a determinação<br />
rigorosa dos parâmetros não<br />
se faz pacificamente.<br />
A este propósito tem interesse lembrar<br />
que acerca do termo bons modelos<br />
se concluiu, num seminário organizado<br />
pela OMS, em Lisboa (b), em<br />
1978, que " .. . o primeiro e mais importante<br />
critério de aceitabilidade de um<br />
modelo é que ele seja a consequência<br />
de um consenso, entre os responsáveis<br />
pelas tomadas de decisões e os<br />
construtores do modelo, sobre qual o<br />
,problema que se pretende descrever.<br />
É ainda importante que o modelo seja<br />
logicamente consistente, cientificamente<br />
rigoroso e fundamentado em<br />
boa informação estatística».<br />
NOS ESTADOS UNIDOS DA<br />
AMÉRICA ·<br />
Sem ser necessário fazer uma pesquisa<br />
muito profunda, foi possível<br />
encontrar em bibliografia americana,<br />
vários exemplos de aplicação à saúde<br />
da generalidade dos problemas típicos<br />
de programação linear.<br />
Eis alguns exemplos:<br />
É o caso ·de problemas de planeamento<br />
estratégico em que, num dos<br />
exemplos, perante a situação de abrir<br />
num hospital mais 100 novas camas<br />
se formula o problema em termos de<br />
saber qual a melhor afectação dessas<br />
camas a doentes de Medicina e de<br />
Cirúrgia, com vista a maximizar o<br />
proveito económico, tendo como restrições<br />
os limites impostos pelo próprio<br />
número de camas, em função<br />
das demoras médias dos dois tipos de<br />
doentes e as capacidades de resposta<br />
do Laboratório, do R.X. e do Bloco<br />
Operatório.<br />
É também o caso do problema das<br />
dietas em que conhecendo o custo<br />
unitário de cada dieta se pretende<br />
determinar a solução óptima de minimização<br />
dos custos, garantindo a<br />
satisfação dos limites mínimos de certas<br />
caraçterísticas nutricionais, como<br />
calorias, proteínas, gorduras, etc.<br />
Aplicados ao sector de enfermagem<br />
pode citar-se o exemplo do problema<br />
de afectação de n enfermeiras por m<br />
serviços, tendo em vista determinar a<br />
solução óptima em função dos valores<br />
de uma escala de classificação utilizada<br />
pela Enfermeira Supervisora<br />
depois de entrevistar cada enfermeira<br />
e tendo em conta o seu "background",<br />
personalidade, preferência, etc.<br />
O problema de transporte tipicamente<br />
referido nos compêndios sobre<br />
programação linear aparece aplicado<br />
à saúde num caso de distribuição de<br />
sangue numa grande área metropolitana<br />
em que quatro bancos de sangue<br />
asseguram a distribuição bissemanal<br />
a 10 hospitais. Conhecendo as<br />
disponibilidades de cada banco, as<br />
necessidades de cada hospital e os<br />
custos de distribuição do sangue de<br />
cada um dos bancos para cada um<br />
dos hospitais~ o problema é formulado<br />
em termos de obter a solução<br />
que minimiza os custos, satisfazendo<br />
as necessidades mínimas de cada<br />
hospital e tendo em conta as quantidades<br />
disponíveis de sangue em cada<br />
.banco.<br />
EM PORTUGAL<br />
A um nível macro conhece-se a<br />
experiência de um modelo de planeamento<br />
dos Serviços de Saúde,<br />
para 1980, de Maria do Rosário Giraldes<br />
e de José Pinto Paixão. Trata-se<br />
da adaptação a Portugal de um modelo<br />
elaborado na Finlândia em 1975<br />
e visa maximizar a satisfação dos<br />
objectivos previstos para 1980 traduzidos<br />
em número de consultas e dias<br />
de internamento, respeitando os limites<br />
impostos pelas disponibilidades<br />
dos diferentes recursos, humanos e<br />
materiais.<br />
Consiste, portanto, num modelo de<br />
produção de Serviços de Saúde, discriminando<br />
os cuidados primários e<br />
diferenciados assim . como o sector<br />
privado, no que se refere a.cuidados<br />
de internamento.<br />
· Numa acepção microeconómica registam-se<br />
duas experiências conduzidas<br />
pelo autor deste artigo.<br />
A primeira, que constituiu a dissertação<br />
do Curso de Administração<br />
<strong>Hospitalar</strong>, consiste num modelo de<br />
planeamento dos Serviços de Internamento<br />
do Hospital Distrital de Beja,<br />
para 1984.<br />
Definidas as metas assistenciais<br />
pelos Directores dos Serviços e conhecendo<br />
os preços unitários de financiamento<br />
do Departamento <strong>Gestão</strong><br />
Financeira dos Serviços da Saúde,<br />
e os custos unitários o modelo<br />
desenvolveu-se exploratoriamente com<br />
duas funções objectivo, uma de minimização<br />
dos custos e outra de<br />
.maximização do financiamento, perseguindo<br />
ambas soluções de planeamento<br />
da produção que reduzissem<br />
ao min1mo os desvios em relação<br />
às metas previamente fixadas pelos<br />
Directores de Serviço.<br />
O modelo estruturou-se também<br />
com um conjunto de restrições em<br />
que se relacionam os diferentes indicadores<br />
de produtividade com a variável<br />
principal (dias de internamento},<br />
tendo por limites as quantidades disponíveis<br />
dos vários recursos que integram<br />
o processo produtivo: trabalho<br />
de enfermage·m, trabalho médico,<br />
camas, exames radiológicos, análises<br />
clínicas e recursos financeiros (restrição<br />
de garantia do equilíbrio orçamental).<br />
A segunda experiência, bastante<br />
recente, integrada no 1.° Curso de<br />
Engenharia Industrial, que decorreu<br />
no âmbito da Direcção-Geral dos<br />
Hospitais com a colaboração da Universidade<br />
de Wisconsin, EUA, trata<br />
-se do problema da dieta aplicado ao<br />
Serviço de Alimentação e Dietética do<br />
Hospital Distrital de Évora, para o<br />
planeamento mensal das dietas.<br />
Em concreto, o modelo foi elaborado<br />
a partir de 100 dietas, 50 de<br />
carne e 50 de peixe, previamente<br />
seleccionadas, para as quais foi construída<br />
uma matriz decapitações, com<br />
base na qual é possível a cada momento,<br />
por meio de programa informático<br />
próprio, conhecer o preço<br />
actualizado de cada dieta em função<br />
dos preços médios dos géneros.<br />
Assim, à semelhança do exemplo<br />
descrito da bibliografia americana, o<br />
modelo tem uma função objectivo de<br />
minimização dos custos de tipo:<br />
100<br />
Min z == !<br />
i = 1<br />
W. X.<br />
1 1<br />
para i = (1,2, .. ., 100)<br />
Em que: x, = dietas de 1 a 100<br />
w = custo unitário de cada<br />
1<br />
dieta,<br />
e um conjunto de restrições de garantia<br />
dos valores mínimos de proteínas,<br />
gorduras, hidratos de carbono e calorias,<br />
bem como restriçõe[. de equilíbrio<br />
e diversidade alimentar, como:<br />
- equilíbrio carne/peixe;<br />
- limites de repetição de cada dieta;<br />
- limites do número de utilizações<br />
dos principais géneros alimentares.<br />
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<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> • Ano IV • N.º 16<br />
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