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comportam essa posição. Um é o homem<br />
dotado de senso do maravilhoso,<br />
diante de quem tudo que o desequilibra<br />
instintivamente toma essa postura;<br />
e ele tem uma prevenção contra o<br />
desequilíbrio mais forte e sério, que é<br />
uma condição de vitória. Pelo contrário,<br />
o homem largado, não voltado para<br />
o maravilhoso, tem uma condição<br />
prévia de preguiça para se entregar e,<br />
portanto, resistirá mal à força do jogo<br />
dos instintos.<br />
Outro elemento a considerar –<br />
uma coisa muito mais adquirida do<br />
que inata – é a boa educação. Ao se<br />
tornar instintiva, a boa educação leva<br />
o indivíduo a notar logo quando<br />
não está agradando e, espontaneamente,<br />
tomar uma posição acertada<br />
diante da pessoa com quem ele trata<br />
para agradá-la. Pelo contrário, quem<br />
não tem essa formação, vai desagradando,<br />
cometendo gafes, fazendo<br />
besteiras, e se lhe disserem:<br />
– Preste atenção no que você disse!<br />
Ele responde:<br />
– Não consigo! Ou trato do tema<br />
de que estou falando, ou cuido de suas<br />
“bonequices”, do modo de pegar<br />
os talheres, etc. Tratar de uma coisa<br />
séria e, ao mesmo tempo, manusear<br />
com distinção e elegância uma xicarazinha<br />
de café ou cortar bem um bife,<br />
não faço. Não é possível.<br />
Mas por quê? Porque o jogo dos<br />
instintos não foi bem afivelado. Em<br />
última análise, porque o gosto do maravilhoso,<br />
do transcendental, do absoluto<br />
não dominou a alma dele. Se<br />
dominar, tudo isso, por um movimento<br />
espontâneo, vai tomando posição.<br />
Ordenação natural<br />
dos instintos e senso<br />
do maravilhoso<br />
Nós deveríamos conhecer o jogo<br />
dos nossos próprios instintos a partir<br />
da posse habitual, do interesse<br />
maior, do gosto pelo maravilhoso.<br />
Quando a alma se dá ao maravilhoso,<br />
o efeito próprio dele é fazer<br />
Exposição de cristais da Boêmia - Praga, República Checa<br />
voltar a apetência de todos os instintos<br />
– que de algum modo se satisfazem<br />
no maravilhoso – para esse ponto<br />
maravilhoso. De maneira que só<br />
naquilo que os instintos têm de baixo<br />
é que são incompatíveis com o maravilhoso.<br />
Em tudo o mais não são.<br />
Tomem, por exemplo, um menino<br />
com o senso do maravilhoso muito<br />
desenvolvido e que, tendo recebido<br />
objetos feitos de madrepérola, está<br />
brincando encantadíssimo. Se alguém<br />
quiser puxar com ele uma conversa<br />
muito banal sobre mecânica, isso<br />
não fará mal à sua alma porque ele<br />
está tão voltado para coisas mais altas<br />
que poderá ouvir aquela conversa<br />
por amabilidade, por afabilidade, e<br />
até pôr duas ou três perguntas sobre<br />
o assunto, mas seu coração não estará<br />
naquilo. Se lhe sugerirem renunciar<br />
a brincar com suas madrepérolas para<br />
assistir a uma corrida de automóveis,<br />
aquela torcida pela velocidade<br />
não lhe diz nada, porque ele prefere<br />
o gosto de ver as madrepérolas.<br />
Isso porque, ao conhecer algo<br />
muito maravilhoso, somos levados a<br />
amar, por conexão, ou estar abertos<br />
para uma série de outras coisas maravilhosas<br />
que não conhecemos. É<br />
um universo. Essas maravilhas de tal<br />
maneira desdobram nossas apetências<br />
harmônica e ordenadamente,<br />
que a tendência para as coisas mais<br />
baixas decai muito.<br />
É uma ordenação natural dos instintos,<br />
mas que vem do amor ao maravilhoso.<br />
Essa espécie de educação<br />
e propensão pelo maravilhoso, antes<br />
de tudo pelo maravilhoso moral, mas<br />
também pelo artístico e por todas as<br />
formas de maravilhoso, por assim dizer,<br />
chumbando o homem no maravilhoso,<br />
é propriamente a via pela<br />
qual as almas caminham no amor de<br />
Deus.<br />
❖<br />
(Extraído de conferência de<br />
9/4/1986)<br />
1) Relativo a “transesfera”. Termo criado<br />
por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para significar que,<br />
acima das realidades visíveis, existem<br />
as invisíveis. As primeiras constituem<br />
a esfera, ou seja, o universo material;<br />
e as invisíveis, a transesfera.<br />
Willian A.<br />
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