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Revista Dr Plinio 240

Março de 2018

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comportam essa posição. Um é o homem<br />

dotado de senso do maravilhoso,<br />

diante de quem tudo que o desequilibra<br />

instintivamente toma essa postura;<br />

e ele tem uma prevenção contra o<br />

desequilíbrio mais forte e sério, que é<br />

uma condição de vitória. Pelo contrário,<br />

o homem largado, não voltado para<br />

o maravilhoso, tem uma condição<br />

prévia de preguiça para se entregar e,<br />

portanto, resistirá mal à força do jogo<br />

dos instintos.<br />

Outro elemento a considerar –<br />

uma coisa muito mais adquirida do<br />

que inata – é a boa educação. Ao se<br />

tornar instintiva, a boa educação leva<br />

o indivíduo a notar logo quando<br />

não está agradando e, espontaneamente,<br />

tomar uma posição acertada<br />

diante da pessoa com quem ele trata<br />

para agradá-la. Pelo contrário, quem<br />

não tem essa formação, vai desagradando,<br />

cometendo gafes, fazendo<br />

besteiras, e se lhe disserem:<br />

– Preste atenção no que você disse!<br />

Ele responde:<br />

– Não consigo! Ou trato do tema<br />

de que estou falando, ou cuido de suas<br />

“bonequices”, do modo de pegar<br />

os talheres, etc. Tratar de uma coisa<br />

séria e, ao mesmo tempo, manusear<br />

com distinção e elegância uma xicarazinha<br />

de café ou cortar bem um bife,<br />

não faço. Não é possível.<br />

Mas por quê? Porque o jogo dos<br />

instintos não foi bem afivelado. Em<br />

última análise, porque o gosto do maravilhoso,<br />

do transcendental, do absoluto<br />

não dominou a alma dele. Se<br />

dominar, tudo isso, por um movimento<br />

espontâneo, vai tomando posição.<br />

Ordenação natural<br />

dos instintos e senso<br />

do maravilhoso<br />

Nós deveríamos conhecer o jogo<br />

dos nossos próprios instintos a partir<br />

da posse habitual, do interesse<br />

maior, do gosto pelo maravilhoso.<br />

Quando a alma se dá ao maravilhoso,<br />

o efeito próprio dele é fazer<br />

Exposição de cristais da Boêmia - Praga, República Checa<br />

voltar a apetência de todos os instintos<br />

– que de algum modo se satisfazem<br />

no maravilhoso – para esse ponto<br />

maravilhoso. De maneira que só<br />

naquilo que os instintos têm de baixo<br />

é que são incompatíveis com o maravilhoso.<br />

Em tudo o mais não são.<br />

Tomem, por exemplo, um menino<br />

com o senso do maravilhoso muito<br />

desenvolvido e que, tendo recebido<br />

objetos feitos de madrepérola, está<br />

brincando encantadíssimo. Se alguém<br />

quiser puxar com ele uma conversa<br />

muito banal sobre mecânica, isso<br />

não fará mal à sua alma porque ele<br />

está tão voltado para coisas mais altas<br />

que poderá ouvir aquela conversa<br />

por amabilidade, por afabilidade, e<br />

até pôr duas ou três perguntas sobre<br />

o assunto, mas seu coração não estará<br />

naquilo. Se lhe sugerirem renunciar<br />

a brincar com suas madrepérolas para<br />

assistir a uma corrida de automóveis,<br />

aquela torcida pela velocidade<br />

não lhe diz nada, porque ele prefere<br />

o gosto de ver as madrepérolas.<br />

Isso porque, ao conhecer algo<br />

muito maravilhoso, somos levados a<br />

amar, por conexão, ou estar abertos<br />

para uma série de outras coisas maravilhosas<br />

que não conhecemos. É<br />

um universo. Essas maravilhas de tal<br />

maneira desdobram nossas apetências<br />

harmônica e ordenadamente,<br />

que a tendência para as coisas mais<br />

baixas decai muito.<br />

É uma ordenação natural dos instintos,<br />

mas que vem do amor ao maravilhoso.<br />

Essa espécie de educação<br />

e propensão pelo maravilhoso, antes<br />

de tudo pelo maravilhoso moral, mas<br />

também pelo artístico e por todas as<br />

formas de maravilhoso, por assim dizer,<br />

chumbando o homem no maravilhoso,<br />

é propriamente a via pela<br />

qual as almas caminham no amor de<br />

Deus.<br />

❖<br />

(Extraído de conferência de<br />

9/4/1986)<br />

1) Relativo a “transesfera”. Termo criado<br />

por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> para significar que,<br />

acima das realidades visíveis, existem<br />

as invisíveis. As primeiras constituem<br />

a esfera, ou seja, o universo material;<br />

e as invisíveis, a transesfera.<br />

Willian A.<br />

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