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Revista Dr Plinio 240

Março de 2018

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Se considerarmos Nosso Senhor<br />

ao longo da sua peregrinação<br />

durante os três anos<br />

da sua vida pública, de um lado para<br />

outro pregando às multidões,<br />

quer no primeiro ano que foi gaudioso,<br />

em que a obra d’Ele iniciou-<br />

-se e mais ou menos encantou todo<br />

o povo de Israel; quer no segundo,<br />

quando as dificuldades começaram<br />

a aparecer; quer no terceiro, o qual<br />

foi dramático, chegando até o Gólgota<br />

e o Eli, Eli lammá sabactâni (Mt<br />

27, 46) – Meu Deus, Meu Deus, por<br />

que Me abandonaste? –; em quaisquer<br />

desses anos, como imaginaríamos<br />

Nosso Senhor?<br />

Majestosa e serena tristeza<br />

de Nosso Senhor<br />

Andando alegre de um<br />

lado para o outro, satisfeito,<br />

com a fisionomia contente,<br />

comentando despreocupadamente<br />

e de modo<br />

agitado os aspectos engraçados<br />

das coisas? Ou com<br />

um fundo de tristeza amenamente<br />

presente na sua<br />

personalidade, marcando<br />

seus divinos olhares e tudo<br />

quanto Ele dizia e fazia,<br />

exprimindo-Se aos homens<br />

em termos de um tratamento<br />

afável, doce, bondoso,<br />

mas também com um<br />

fundo de tristeza não dramática,<br />

nem lancinante,<br />

mas habitual, estável – para<br />

empregar uma comparação<br />

que não me satisfaz<br />

inteiramente, mas que diz<br />

algo –, um olhar que tivesse<br />

algo de luminoso, resplandecente,<br />

de tristonho<br />

como o luar?<br />

Sem dúvida, esse olhar<br />

assim tristonho, mas resignado,<br />

atento, afável, bondoso,<br />

exprimiria o fundo<br />

da alma d’Ele.<br />

Trata-se de saber por que essa majestosa,<br />

serena, imensa, afável tristeza<br />

de Nosso Senhor enchia de tal maneira<br />

a alma d’Ele. Começo por me perguntar<br />

que relação há entre esse olhar<br />

e a seriedade, e concluo ser esta a própria<br />

seriedade do Redentor. Não havia<br />

outro modo de ser sério. Ora, se<br />

era essa a seriedade d’Ele, não deve<br />

ser também essa a nossa seriedade?<br />

Se isso é assim, devemos nos indagar<br />

qual a razão pela qual sua tristeza<br />

era tão grande quanto a amplidão<br />

de suas vistas.<br />

Na divindade d’Ele não podia haver<br />

tristeza. Deus é de tal maneira<br />

perfeito, excelso, admirável, que<br />

n’Ele não cabe consternação. Havia<br />

tristeza na humanidade santíssima<br />

Nosso Senhor curando os enfermos<br />

Mosteiro de Nossa Senhora do Monte<br />

Carmelo e São José, Nova Iorque, EUA<br />

de Nosso Senhor. Mas essa natureza<br />

humana estava ligada hipostaticamente<br />

à Segunda Pessoa da Santíssima<br />

Trindade, constituindo uma só<br />

Pessoa continuamente na visão direta<br />

de Deus, no oceano de suas perfeições<br />

e de sua felicidade infinita e<br />

imperturbável por todos os séculos<br />

dos séculos sem fim.<br />

Logo, essa tristeza não poderia vir<br />

de Deus, mas só do Homem. Porque<br />

Nosso Senhor veio à Terra como Redentor<br />

e se encarnou para nos resgatar,<br />

morrendo na Cruz como Homem-<br />

-Deus e fazendo, portanto, que um<br />

Homem oferecesse um sacrifício infinitamente<br />

precioso que perdoasse o<br />

pecado original e os pecados posteriores,<br />

e abrisse o Céu. Então, torna-se<br />

claro que esse sofrimento só<br />

poderia vir do Homem.<br />

Como um Ser que era<br />

A. D. Ferreira<br />

Deus, e de tal maneira participava<br />

dessa felicidade<br />

infinita do Onipotente, podia<br />

ter tanta infelicidade,<br />

tanta tristeza a propósito<br />

dos homens que são tão<br />

menos do que Deus?<br />

Dir-se-ia que seria mais<br />

ou menos como se eu – vou<br />

falar em termos mundanos<br />

– recebesse de repente de<br />

herança uma fortuna inestimável,<br />

imensa, e no mesmo<br />

dia, ao partir uma fruta,<br />

corto um pouquinho o<br />

dedo. Aqui está um pequeno<br />

incômodo que coincide<br />

com uma causa de felicidade<br />

extraordinária, mas<br />

nem se pensa nele. Se à<br />

noite o dedo estiver molestando,<br />

começa-se a dar<br />

conta de que nele houve<br />

um corte de manhã, porque<br />

se pensou o dia inteiro<br />

na felicidade e na alegria<br />

em ter ganho uma fortuna.<br />

Com a devida reverência<br />

aplicada à comparação,<br />

poder-se-ia dizer que<br />

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